Nesta quarta (28) e quinta-feira (29), mais uma vez o México ganha a cena nos palcos do FILO - Festival Internacional de Londrina - com o coletivo teatral Lagartijas iradas al sol. O espetáculo “Tijuana” abre o debate sobre a democracia no México e os direitos trabalhistas de milhões de pessoas que vivem com um salário mínimo.

Nascido em Durando, no México, o ator e diretor Lázaro Rodriguez, 39, é o canal para toda essa estrutura e representação do cidadão mexicano e sua luta diária em busca de uma boa vida: “Meu local de nascimento influencia a maneira como aprendi a codificar a realidade, de acordo com o que pode ser minha experiência de vida. O quadro do possível e do desejável”, comenta o artista que ao longo do espetáculo mostra as questões do personagem, Gabino Rodríguez, que durante seis meses se transforma em Santiago Ramírez, habitante de Tijuana, trabalhador que ganha um salário mínimo em uma fábrica da região. Tal experiência também instiga as possibilidades da representação e vivência.

Lázaro Rodriguez : O espetáculo é uma tentativa de pensar a democracia como um ideal e como uma práxis em diferentes contextos no México”
Lázaro Rodriguez : O espetáculo é uma tentativa de pensar a democracia como um ideal e como uma práxis em diferentes contextos no México” | Foto: Divulgação/ FILO 2023

Exemplificando momentos emblemáticos da história e os atuais mecanismos de controle, o que é refletido na peça são as experiências e condicionamentos vividos dentro de uma democracia, em um determinado país. As notórias características de desigualdade social, fazendo fronteira com a maior potência econômica do mundo, os Estados Unidos. “A obra, ‘Tijuana’ nasceu como parte do projeto de democracia no México em 1965. É uma tentativa de pensar a democracia como um ideal e como uma práxis em diferentes contextos no México”, explica Lázaro.

Os limites da fronteira e todas as questões de imigração e transmissão de culturas entre territórios geram características muito peculiares a população mexicana, principalmente em lugares como Tijuana que vivem nessa cruzada, sendo uma das maiores cidades do estado mexicano, abrigada na Fronteira Estados Unidos-México.

Tijuana vive esse emaranhado complexo dos territórios, localizada a 175 quilômetros Mexicali (MEX), a 200 quilômetros de Los Angeles (EUA) e a 2.750 quilômetros da Cidade do México (MEX), atualmente é considerada como uma cidade global, por seu alto nível comercial e de cultura, centro de inúmeras empresas multinacionais, é a “A Esquina do México” ou “A Porta do México”, o que é retratado pelo personagem de Lázaro. “Trata-se de uma cidade muito particular porque está ligada (embora dividida), aos Estados Unidos. Especificamente, o estado da Califórnia, que é um dos mais fortes economicamente daquele país. Tijuana é uma cidade que personifica a desigualdade predominante entre o México e os Estados Unidos”.

Já apresentada em diversos países, a montagem traz ao público algumas sensações distintas, cada plateia enxerga algo que tenha relação com o seu país, já que migração e imigração estão entre os temas mais atuais da política social, além da economia que é o motor principal para esse deslocamento de pessoas em busca de melhores condições de vida, mas que se vendem em empregos maçantes com pouca remuneração.

Para o ator, a obra não pretende entregar nenhuma mensagem, é um espetáculo que fala sobre como um setor da população percebe o outro, sobre como a classe média se relaciona com pessoas de outro estrato social inferior: “É a experiência de alguém que supostamente vai viver com um salário mínimo em uma cidade, o que possivelmente interessa a pessoas que não vivem com o salário mínimo, geralmente, os frequentadores de eventos culturais, como o teatro ‘alternativo’”.

Novamente, a língua hispânica terá sua vez de brilhar na noite londrinense, após “Apuntes sobre la Frontera” da atriz Violeta Luna, chega “Tijuana” para mostrar um pouco mais sobre esse país que vive marcado por linhas territoriais e um povo que vive desafiando tais limitações: “Buscaria pensar nos conflitos que a prática artística tem ao tentar se aproximar da realidade. É um trabalho sobre um tema e ao mesmo tempo um trabalho sobre os conflitos éticos da arte," conclui o ator.

SERVIÇO

Espetáculo: Tijuana – México

Data: Quarta-feira (28), às 20:30 I Quinta-feira (29), às 20:30

Local: Cine Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85)

Classificação indicativa: 14 anos

Ingressos a 40 (inteira) e 20 (meia) no site do FILO ou na plataforma Sympla