O poder – estatal, econômico, militar e religioso - não é mais tão poderoso, até por se distribuir por mais mãos e mentes. Em seu livro "O Fim do Poder", o venezuelano Moisés Naim mostra como o poder se fragmentou e está em transformação, podemos chamar de transpoder.

Antes, a estrutura dos poderes públicos era menor e se concentrava em poucos. Agora é imensa, inclusive com profusão de palácios com milhares de funcionários e orçamentos sempre aumentados, enquanto minguam os investimentos nos objetivos, ou seja, esses poderes mais se autocusteiam do que se justificam para as sociedades.

Mas, nas democracias, ninguém pode fazer o que quiser nos poderes públicos, que se vigiam e se contém. Além disso, democraticamente é preciso ouvir associações e conselhos civis, órgão controladores, e frequentar reuniões, atentar para a imprensa e a opinião pública superativada pelas redes sociais. Por isso, os poderosos do século 21 expressam admiração e inveja de poderosos do século 20, até com saudade de ditaduras. A democracia é muito mais difícil de governar.

Só na Coreia do Norte mísseis ainda desfilam
Só na Coreia do Norte mísseis ainda desfilam | Foto: iStock

O títulos de capítulos do livro já delineiam panoramas reveladores:

“Abaixo as barreiras: a oportunidade para os micropoderes. Dos déspotas aos democratas. De partidos a facções. De capitais a regiões. De líderes a gente comum.”

“O poder minguante dos grandes exércitos (e entretanto) um tsunami de armas. A degradação do poder militar e as novas regras da guerra.”

“Gigantes assediados: o domínio das grandes empresas é hoje menos seguro. O poder e o perigo das grandes marcas. As barreiras diminuem e a concorrência aumenta.”

“Religião: os novos e surpreendentes concorrentes do Vaticano.”

“A paralisia política como efeito da degradação do poder.”

Só na Coreia do Norte mísseis ainda desfilam
Só na Coreia do Norte mísseis ainda desfilam | Foto: iStock

Trechos reveladores do livro:

“Globalização, urbanização, mudanças na estrutura familiar, surgimento de novos setores e oportunidades, o Inglês como língua global, tem consequências em todas as esferas, mas seu efeito mostrou-se mais fundamental no nível das atitudes. A mensagem que essas mudanças transmitem é o destaque dada vez maior das aspirações como motivação de nosso comportamento.

“Economistas mostram que é isso que ocorre por exemplo nas emigrações: as pessoas migram não porque sofrem uma privação absoluta mas relativa; não porque sejam pobres, mas porque têm consciência de que podem viver melhor. E quanto mais temos contato uns com os outros, mais aspirações esse contato cria.”

“Nesta época de constante inovação, uma área crucial mudou muito pouco: como governamos a nós mesmos, ou nossas formas de intervir como indivíduos no processo político. As inovações ainda não chegaram à política, aos governos e à participação cidadã. Mas vão chegar. Estamos à beira de uma revolucionária onda de positivas inovações políticas e institucionais, e veremos notáveis transformações nas formas da Humanidade se organizar para sobreviver e progredir.”

Concordo, pois prefiro ser otimista, até porque o pessimismo é chato e paralisante. E creio que caminhamos para uma nova Constituinte.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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