Durante o recém-encerrado 75º Festival de Cinema de Cannes, numa iniciativa organizada pela entidade francesa Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada (CNC), profissionais do cinema, principalmente o independente, mostraram

preocupação, acima do número de peliculas a serem produzidas, com a preservação da diversidade criativa diante dos atuais problemas de distribuição. O público do cinema vem sendo recuperado a partir de 2021 em todo o mundo, mas obviamente não na extensão tão animadora dos números de 2019, abruptamente interrompida.

Segundo a assessoria de imprensa do CNC, em alguns países, como a Coréia do Sul, a produção caíu mais de 60%.

De acordo com a Unifrance Films, enquanto as comédias francesas e os filmes familiares estão voltando a fazer sucesso nos cinemas estrangeiros, os filmes de arte e os festivais lutam para reencontrar seu público, especialmente entre os espectadores mais velhos. Os vendedores voltaram aos mercados, mas os valores negociados se mostram longe de voltar ao patamar pré-crise. E as vendas para plataformas (leia-se stremears) não estão compensando a queda no faturamento. “Nosso negócio é mais arriscado, nossas receitas estão caindo e estã inflação de agora será um problema

adicional”, resume Nicolas Brigaud-Robert, CEO da Playtime, empresa que, no entanto, teve um bom 2021.

Segundo Daniela Esner, CEO da Unifrance, a adaptação a essa nova situação também passa pelos cinemas: "Pela primeira vez, ouço gestores de multiplexes, como os franceses Odéon Cinéma, falando sobre a importância da diversidade do cinema para sua programação. Ir ao cinema pode voltar a ser uma experiência simples e gratificante.”

No Reino Unido, o British Film Institute oferece ingressos ao custo de 3 libras (R$18,00) para menores de 26 anos, e os passes mensais que fazem tanto sucesso na França podem ser desenvolvidos em muitos países.

No que diz respeito ao webcasting (a transmissão de conteúdo via internet, ao vivo ou sob demanda, ideal para levar uma determinada mensagem a um grande publico ), o desenvolvimento de miniplataformas especializadas em cinema de arte como o Modern Films na Inglaterra ou MyMovies na Itália também é uma oportunidade. Eve Gabereau, fundadora da Modern Films, aproveita a audiência online adquirida durante os confinamentos, por meio de operações de marketing, entrevistas com diretores e editorialização de seu conteúdo.

Gianluca Guzzo, da italiana MyMovies, tem o mesmo ponto de vista: “Precisamos fidelizar nosso público e oferecer a eles a chance de sair e ver filmes no cinema. Temos cerca de 500 mil visitas diárias ao nosso site : convencer apenas 1% deles a ir ao cinema já é uma conquista.”

Parcerias com festivais de cinema de autor ao redor do mundo, cuidando para limitar o número de espectadores online, é outra diversificação experimentada no MyMovies.

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Para a americana Joana Vicente, do Sundance Institute, esta nova paisagem continua a ser uma oportunidade: “A migração forçada do Sundance Film Festival para o digital nos últimos dois anos de crise nos permitiu recomeçar presencialmente utilizando parte da nossa oferta online: isto abre para um público mais diversificado e jovem.”

A preservação da diversidade criativa (ou seja, uma grande quantidade de filmes produzidos para cinemas) é uma questão de curto prazo para produtores independentes: a queda no financiamento de vendedores internacionais e distribuidores nacionais está enfraquecendo os produtores de filmes. Mas só veremos as consequências daqui a

alguns anos.

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