Ceia de Natal: dicas para um cardápio à brasileira
Professora de culinária e enófilo comentam sobre como produzir menu natalino para gostos e bolsos diversos
PUBLICAÇÃO
sábado, 17 de dezembro de 2022
Professora de culinária e enófilo comentam sobre como produzir menu natalino para gostos e bolsos diversos
Marcos Roman - Grupo Folha
Historiadores apontam que a tradição da Ceia de Natal surgiu a partir de um antigo costume dos europeus, que costumavam deixar suas casas abertas para celebrar junto de viajantes e peregrinos o nascimento de Jesus Cristo. Com o passar do tempo, a celebração da data mais importante para os cristãos acabou sendo introduzida em países de outros continentes. A exemplo do que aconteceu com o Brasil, que devido à influência de imigrantes passou a cultivar o hábito de comer peru assado, prato que se tornou símbolo das comemorações natalinas na Europa desde o século XVI.
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Na opinião da nutricionista e professora de culinária Valéria Mortara, o mais importante da tradição natalina é manter o espírito de comunhão, independentemente do cardápio servido. “A gente não pode esquecer que o Natal é uma época em que as pessoas devem estar unidas. Temos que resgatar o afeto, não importa se isso acontece em torno de uma mesa rica ou pobre. E como toda celebração envolve comida, precisamos nos adequar à crise financeira que o país enfrenta e criar alternativas. Vale lembrar que é possível produzir uma ceia deliciosa mesmo sem ter peru, tender ou chester”, enfatiza.
Valéria destaca que o bom senso deve prevalecer na hora de comprar os produtos para a ceia. “Todos sabem que os preços nos supermercados estão muito caros. Quando a pessoa não tem condições de comprar os produtos tradicionais de Natal, é preciso entender que isso não é possível e ponto. O que não vale é se endividar para fazer a ceia. É perfeitamente possível substituir, por exemplo, o peru por arroz e frango e ainda assim celebrar com a família torcendo por momentos melhores”, ressalta.
Segundo ela, uma boa dica para incrementar qualquer receita é preparar uma farofa como acompanhamento. “A farofa é um prato tipicamente brasileiro que pode ser feito com farinha de mandioca, de milho ou mesmo com pão duro ralado. Depois é só acrescentar qualquer tipo de gordura, ovo ou mesmo frutas da época. É uma forma saborosa de abrasileirar qualquer receita, das mais simples às mais sofisticadas”, salienta.
Investir em frutas da estação e em saladas coloridas é outra dica da nutricionista. “Uma boa opção é a lichia, que se tornou uma das queridinhas dessa época do ano. Também é possível ressaltar as cores do Natal produzindo saladas com verduras e legumes verdes e vermelhos que garantem um colorido extra e mais sabor às mesas”, aconselha.
A nutricionista acrescenta ainda a importância de consumir de forma consciente os pratos da ceia natalina. “Nessa hora não valem os extremos. A pessoa precisa entender que uma fatia de doce pode ser apreciada com prazer. Já duas ou três fatias costumam vir acompanhadas da culpa que acaba atrapalhando tudo. Não é porque tem refrigerante na geladeira que todo mundo vai se entupir disso, para equilibrar o consumo de líquidos é sempre bom manter uma linda jarra com água gelada à mesa. Por outro lado, seguir a dieta de frango com batata doce em pleno Natal também é loucura. É hora de comer e confraternizar com prazer e equilíbrio”, conclui.
Vinhos: escolhas corretas e harmonizações perfeitas
O vinho é uma combinação perfeita para harmonizar com os pratos da ceia natalina, desde as entradas até a sobremesa, é possível escolher um rótulo diferente e especial para cada momento e ocasião. “Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o melhor vinho é sempre aquele que você gosta. Entretanto, algumas dicas importantes ajudam a potencializar e melhorar a experiência que cada pessoa tem com a harmonização entre pratos e vinhos. Por isso, a dica básica passa por harmonizar um espumante, vinho branco ou rosé com as entradinhas. O vinho tinto com o prato principal, principalmente quando forem massas e carnes vermelhas. E vinhos fortificados para a sobremesa, como o vinho do porto ou de colheita tardia. Entretanto, se o prato principal for um peixe, aí pede um vinho branco, talvez um português”, ensina o jornalista e enófilo Fábio Luporini, que assina uma coluna semanal Multi Chef na FOLHA.
Ele comenta quais tipos de vinho acha mais adequados para as confraternizações natalinas. "Eu, particularmente, gosto mais dos italianos. Inclusive para brindar a ceia, um Prosecco vai super bem. Ele é mais “brut”, menos docinho, mas, ideal para celebrar. Se a ceia for uma leitoa, como normalmente é em casa, então o tinto cabernet sauvignon ou um tannat são excelentes opções. Já se é um bacalhau, vale a pena investir nos portugueses da região verde. Ou belos chardonnays ou sauvignon blanc. São excelentes opções, mas, para quem quer aprofundar um pouco mais, a riesling também cai bem. A italiana Pinot Grigio também é muito saborosa. Mas, os tintos italianos são maravilhosos: Chianti, Nero D’Ávola, Montepulciano D’Abruzzo, Primitivo, Negroamaro, Brunello di Montalcino, entre outras”.
Luporini comenta ainda sobre os equívocos que devem ser evitados quando o assunto é vinho. “Um dos “erros” mais comuns é achar que o vinho doce é vinho. E, quando passa a tomar outros tipos de uvas, percebe que o que dá dor de cabeça, muitas vezes, é a mistura do álcool com o açúcar contido no vinho. E não tomar água, claro. Outro erro muito comum é começar a tomar vinho por rótulos mais “amargos” e achar que todos são assim. Sempre brinco que muitos amigos meus começaram a tomar vinho com rótulos mais bem elaborados, com vinhos mais “tops” e nunca mais conseguiram tomar um vinho doce, por exemplo. Então, o ideal nesse universo é deixar cair os tabus e permitir-se experimentar vinhos novos uma ou duas vezes cada, até ter um paladar que possa identificar se realmente ele é bom ou não, se gostou ou não”.
Diante de uma infinidade de opções no mercado, o jornalista dá algumas dicas para quem pretende apreciar bons rótulos gastando pouco ou investindo mais de dinheiro na hora da compra. “Belle Vie (francês) é um vinho que, na promoção, você consegue comprar por R$ 21. É excelente, bem fácil de beber, leve e muito honesto como vinho de entrada. Bueno Wines são vinhos, como o próprio nome já diz, produzidos por Galvão Bueno. Os rótulos não são baratos, a maioria passa dos R$ 100, alguns na média dos R$ 250 a R$ 500. Mas, desde o espumante rosé Desirée até o Brunello di Montalcino, há rótulos para todas as ocasiões da ceia natalina: entradas, prato principal, sobremesa e brinde”, destaca.
RECEITAS
(Por Valéria Mortara)
FAROFA BASIQUINHA
2 xícaras de farinha de milho flocada ou de mandioca ou as duas misturadas; 1 cebola grande em fatias bem finas; 1 dente de alho picadinho;¼ de xícara de castanhas, amêndoas ou nozes; azeite, sal e pimenta do reino; 1 cenoura ralada (ou 1 maçã picada se gostar); 2 colheres de azeitonas pretas picadinhas (ou 2 colheres de uvas passas, se gostar); salsinha picada
Preparo
Frite a cebola 4 colheres de azeite de oliva, até que doure. Junte o dente de alho picado e as castanhas bem picadas, misturando bem, até que tudo frite um pouco. Tempere com sal e pimenta do reino. Agora adicione a cenoura e mexa por um ou dois minutos para amaciar. Acrescente 1 colher de água, a farinha, as azeitonas pretas e mexa no fogo baixo até que a água seque e as farinhas estejam levemente douradas. Finalize com muita salsinha picada.
SALADA DE COUSCOUS MARROQUINO
2 xícaras de cabotiá em cubos pequenos; 2 xícaras de berinjela em cubos pequenos; 3 dentes de alho; 1 ½ xícaras de tomates cereja cortados ao meio; 1 cebola em cubos;2 a 3 colheres (sopa) de uvas passas pretas ou damascos picados (opcional); 1 colher (café) de pimenta síria; azeite para regar; raspas da casca de 1 limão; sal e pimenta.
Para o couscous:
1 xícara de couscous; 1 xícara de água; 1 colher (sopa) de azeite. Para finalizar: salsinha picada; folhas de manjericão rasgadas; nozes ou castanhas picadas
Preparo
Coloque em uma assadeira: cabotiá, berinjela, tomate e os dentes de alho inteiros. Regue com bastante azeite, tempere com sal e pimenta síria (capriche na pimenta, ela não é picante). Leve ao forno pré-aquecido, 200 graus, por 15 minutos, ou até que o cabotiá esteja macio e levemente dourado. Retire do forno, amasse os dentes de alho com um garfo, e despeje a cebola, passas e as raspas de limão na assadeira ainda quente e reserve até que esfrie.
Prepare o couscous: coloque os grãos em uma tigela, tempere com sal e a colher de azeite. Ferva a água, despeje ainda fervente sobre o couscous, tampe a tigela e aguarde 3 minutos. Destampe e solte com um garfo.
Quando tudo esfriar, misture os vegetais com o couscous, junte bastante salsinha, as nozes, misture, rasgue algumas folhas de manjericão e finalize com um belo fio de azeite!
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