Centenas de jovens que estudam em universidades de Londrina e região abraçaram o samba como válvula de escape para fugir do estresse da vida acadêmica. Atuando como ritmistas de baterias universitárias, jovens vindos de diversos cantos do país têm levado a cultura dos bambas para dentro e fora das salas de aulas. Atualmente, a cidade conta com 18 grupos formados por alunos de várias instituições de ensino que se apresentam durante o ano todo em eventos variados como o Carnaval, formaturas, inaugurações de lojas, baladas e até em festas de casamento.

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“As baterias universitárias reúnem os mesmos instrumentos que as grandes escolas de samba, porém em quantidade menor. Em média cada grupo possui cerca de 20 integrantes que tocam instrumentos obrigatórios como tamborim, chocalho, agogô, caixa, repique, surdo e algumas têm timbal e xequerê também. Os ritmistas universitários geralmente começam a tocar por hobbie devido à paixão que têm pelo samba, ou simplesmente como forma de fugir do estresse da sala de aula e fazer novas amizades”, explica Kennedy Alves, estudante do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e atual presidente da Liga das Baterias Universitárias de Londrina (LBL).

Laranja Mecânica: bateria do curso de medicina da UEL também anima o carnaval
Laranja Mecânica: bateria do curso de medicina da UEL também anima o carnaval | Foto: Gabriel Ferreira/ Divulgação

Criada em 2016, a instituição conta com 23 baterias filiadas. “A liga é composta por 18 baterias universitárias de Londrina, duas de Apucarana, uma de Cornélio Procópio, uma de Bandeirantes e uma de Jacarezinho”, detalha Alves ao esclarecer os objetivos entidade. “Com a criação da liga ficou mais fácil lidar com problemas em comum que os grupos enfrentam, como promover workshop para evolução dos ritmistas, organizar desafios e competições entre as baterias e procurar solução para o grande desafio enfrentando por quase todas as baterias, que é encontrar lugares para ensaiar”, informa Alves.

Segundo ele, devido ao alto custo de aluguel em estúdios e outros ambientes fechados o ideal seria que os ritmistas ensaiassem em praças públicas da cidade. “Porém todas as vezes que tentamos ensaiar em locais públicos enfrentamos sempre o mesmo problema, que é a reclamação dos vizinhos por causa do barulho. A gente vem conversando com a prefeitura há um bom tempo. Temos ajuda para conscientizar as pessoas que estamos fazendo algo cultural e que os ensaios duram, média, apenas uma hora e meia. Apesar do nosso esforço ainda não conseguimos encontrar uma solução para isso”, diz.

O presidente da LBL explica por que a maioria das baterias universitárias não têm condições financeiras de pagar o aluguel de espaços fechados. “Isso acontece por que todo o cachê que os grupos recebem pelos eventos em que são convidados a se apresentar são investidos na compra e manutenção dos instrumentos que compõem a própria bateria e acaba não sobrando recursos para investir em outras áreas”, argumenta.

Apesar dos desafios enfrentados, os ritmistas universitários de Londrina seguem firmes no propósito de continuar prestigiando a cultura do samba. “É bastante comum existirem baterias formadas por estudantes em quase todas as cidades que possuem universidades. Mas Londrina se destaca dentro do cenário nacional pela grande quantidade desses grupos. Acho que isso acontece porque os estudantes de Londrina ou de fora que veem aqui para estudar são bastante apaixonados pelo samba”, avalia Alves ao comentar que alguns grupos e ritmistas londrinenses têm conseguido destaque até mesmo fora da cidade. “Muitas baterias londrinenses se destacam em desafios anuais que reúnem grupos de várias regiões do país. E alguns integrantes são convidados para tocar em eventos de outras cidades, como no Carnaval de São Paulo, por exemplo”, salienta.

RITMISTAS TIPO EXPORTAÇÃO

Natural de São Paulo, o estudante Marco Antônio Pereira Santos, 28 anos, viu nas baterias universitárias de Londrina uma oportunidade para se aproximar do universo das grandes escolas de samba que admirava. Em 2018, o estudante de Agronomia da UEL passou a integrar o grupo Demônios da Lagoa, formado por alunos dos cursos de Arquitetura e Engenharias da mesma instituição. “Comecei tocando caixa e logo em seguida me interessei por outros instrumentos como repique, repique mor e tamborim”, comenta.

Demônios da Lagoa: bateria das engrenharias e arquitetura da UEL já tem um ritmista, Marco Antônio Pereira Santos, que toca nas escolas de São Paulo
Demônios da Lagoa: bateria das engrenharias e arquitetura da UEL já tem um ritmista, Marco Antônio Pereira Santos, que toca nas escolas de São Paulo | Foto: Gabriel Ferreira/ Divulgação

Com o objetivo de se aprimorar como ritmista e aprender a tocar outros instrumentos, durante a pandemia o estudante participou de ensaios on-line de escolas de samba de São Paulo. A iniciativa acabou rendendo um convite para tocar no Carnaval de algumas escolas da capital paulista. “Nos ensaios on-line, conheci diretores que me acolheram como se eu fosse de São Paulo, fui me desenvolvendo e me firmando na ala. Na Colorado do Brás, graças aos diretores Arthur Santos e Paula Azzam pude aprender e desfilar tocando tamborim no Carnaval de 2022. Na Imperatriz da Paulicéia contei com o apoio dos diretores Pedro Marques (Pepo) e Guilherme Botelho (Guibo) da ala de repique onde no mesmo ano pude desfilar”, relata Santos.

O desempenho do universitário londrinense em terras paulistanas no ano passado fez com que o convite se repetisse para o Carnaval 2023. “Neste ano continuo desfilando pelas duas agremiações, onde me sinto em casa mesmo não estando em São Paulo. No último final de semana desfilei com a Imperatriz da Pauliceia, sob o comando da Mestra Rafa (primeira mulher a comandar uma bateria no sambódromo Anhembi). E no domingo de Carnaval acontecerá o desfile da Colorado do Brás. As expectativas são as melhores possíveis. Cada ensaio, cada desfile tem uma sensação única e inexplicável”, enfatiza.

Também natural de São Paulo, Isabella Lima, 20 anos, tem uma trajetória oposta. Habituada a tocar em escolas de samba da capital paulista, ela trouxe seus anos experiência como ritmista para o Apucara, onde cursa Engenharia Têxtil, no campus local da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “Entrei na Bateria Panterada em 2020, sou mestre mas não largo o chocalho. Resolvi entrar por amor ao batuque, e longe de casa faz me sentir mais acolhida, tenho ligação com o samba a vida inteira. Desfilo em escola de samba desde 2016, em 2019 fiz escolinha de bateria e em 2020 desfilei tocando, achei meu lugar, tudo isso na G.R.E.S. Pérola Negra. Eu sempre fui ritmista fora do Paraná. É mais fácil dizer que no ano passado foi a primeira vez que me apresentei como ritmista no Sul”, ressalta a universitária.

Panterada: bateria de Apucarana  também participa da Liga Universitária
Panterada: bateria de Apucarana também participa da Liga Universitária | Foto: Gabriel Ferreira/ Divulgação

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