Parece improvável? Parece. Mas neste momento, um fenômeno de marketing nos Estados Unidos, acelerado e meio ensandecido, aposta justamente o contrário. Dia 21 deste mês (e um dia antes no Brasil), a Warner Bros. e a Universal, respectivamente, lançam "Barbie”, dirigido por Greta Gerwig (“Lady Bird” e “Adoráveis Mulheres”) e "Oppenheimer", dirigido por Christopher Nolan (a trilogia de Batman, “Interestelar”, “Dunquerque”) . Os fãs de um e de outro aguardam com sofreguidão estes lançamentos, ainda sob o impacto das bilheterias da primeira parte de “Missão Impossível 7 – Acerto de Contas” (a segunda só em 2024), que chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta, 13 (nos EUA um dia antes). Este mesmo segmento de espectadores – o dos fanáticos – está zombando do forte contraste entre os temas, humores e até esquemas de cores dos filmes. E já batizaram o duplo evento como “Barbenheimer”...

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“Oppenheimer” é o filme do prestigiado Nolan baseado em “American Prometheus”, uma biografia do cientista Robert Oppenheimer, líder do Projeto Manhattan que durante a Segunda Guerra Mundial produziu as primeiras bombas atômicas, duas delas afinal despejadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945. Os vários trailers desse filme, com música intensa e cenas de suspense estreladas por um Cillian Murphy (principal responsável pela minissérie “Peaky Blinders”) de aparência grave no papel do fisico Julius Robert Oppenheimer, contrastam fortemente com os trailers rosa e brilhantes de “Barbie”, que mostram Margot Robbie como a boneca que vive na Barbieland antes de partir em uma aventura no mundo real. Os dois personagens dificilmente poderiam ser mais contrastantes. Mas estão juntinhos em campanhas de marketing, aparecendo caracterizados em camisetas e suéteres.

"Oppenheimer" resgata a história do líder do projeto Manhattan, que produziu as primeiras bombas atômicas
"Oppenheimer" resgata a história do líder do projeto Manhattan, que produziu as primeiras bombas atômicas | Foto: Universal Pictures / Divulgação

Memes, vídeos e conversas online tomaram conta das redes sociais, e pessoas já fazem planos para ver os dois filmes no mesmo dia. Um debate sobre em que ordem vê-los – "Barbie" primeiro, para começar o dia em alto astral, ou o grave "Oppenheimer" primeiro, para terminar com uma nota mais iluminada ? – não foi resolvido. O curioso cruzamento também está dando origem a mercadorias da vida real. Uma pesquisa no Google por “T-shirt Barbenheimer” traz dezenas de milhares de resultados, e os vendedores criaram suas próprias versões. Alguns apresentam Robbie e Murphy, enquanto outros combinam a fonte rosa da Barbie com um desenho rosa de uma nuvem atômica. Péssimo gosto.

Esse marketing tipo orgânico provavelmente deve ser bom para ambos os filmes, segundo analistas de propaganda e publicidade. Não que tenha faltado marketing dos estúdios: há caixas de papelão da Barbie em tamanho real nos cinemas para as pessoas tirarem fotos e um gerador de selfies. Houve colaborações com várias marcas: a rede de iogurte congelado Pinkberry está oferecendo um sabor da Barbie, a Gap tem uma linha de roupas com o tema da Barbie e o Airbnb está oferecendo uma Barbie Dream House da vida real em Malibu. A Warner Bros. se recusou a comentar sobre os esforços de marketing do filme.

Mas o que todo esse hype significa para os resultados de bilheteria de qualquer um dos filmes não está claro, e a conscientização nem sempre se traduz em compra de ingressos. As previsões para os fins de semana de estreia são complicadas e muita coisa ainda pode acontecer antes de 21 de julho. Algumas estimativas conservadoras da indústria, mostram "Barbie” abrindo entre 55 milhões e 65 milhões de dolares nos Estados Unidos e Canadá, e "Oppenheimer" entre 40 e 50 milhões. Ambas as estimativas seriam fortes para uma comédia de fantasia e um drama histórico. Filmes de super-heróis, grandes ações e grandes animações geralmente abrem mais alto.

Ainda assim, o boca a boca em torno dos filmes será benéfico para os números. Mas como eles são muito, mas muito diferentes, este se tornou um projeto duplo mais estranho de todos os tempos”. E essa conversa online pode e deve ser como um enorme presente para distribuidores e exibidores, que estão apostando toda e qualquer ficha no cada vez maior volume de frequencia às salas, o que já vem ocorrendo no mundo todo em grande escala.