'A Mandíbula de Caim': uma história de quebrar a cabeça

Na literatura padrão, escritor e leitor possuem papéis claros e definidos. O escritor escreve a obra. O leitor lê e interpreta a obra. Mas existem várias experiências em que esses papéis se ampliam e se confundem.

Esse é o caso de “A Mandíbula de Caim”, romance publicado pela editora Intrínseca que oferece ao leitor a possibilidade de participar de uma investigação. De autoria do inglês Torquemada (pseudônimo de Edward Powys Mathers) a obra foi criada como um quebra-cabeça sobre o assassinato de seis personagens.

O autor apresenta uma nebulosa história de mistério onde seis personagens são assassinados por seis assassinos diferentes. Mas não nomeia objetivamente nenhum um deles, apenas oferece informações difusas e exercícios de lógica. Cabe ao leitor solucionar o enigma e descobrir quem são as seis figuras assassinadas e quem são os seis assassinos responsáveis por cada uma das mortes.

O desafio não termina aí. A história é narrada através de cem textos que aparecem totalmente fora de ordem pelas páginas do livro. Cabe ao leitor solucionar outro quebra-cabeça: colocar em ordem os textos que narram a história repaginando o livro na sequência correta.

Para facilitar a empreitada do leitor, a edição da Intrínseca vem com todas as páginas picotadas para serem destacadas e reordenadas. Nas palavras de Torquemada, “existem milhões de combinações possíveis para as páginas, mas apena uma ordem é a correta”.

“A Mandíbula de Caim” não oferece nenhum tipo de facilidade aos leitores.

Trata-se de um quebra-cabeça de suspense complexo e de alta dificuldade. E a solução não pode ser encontrada na última página do livro em letras minúsculas. Para saber se elucidou o enigma, o leitor precisa preencher uma ficha presente no livro e enviar via correio à editora e esperar uma possível resposta positiva. A solução é guardada a sete chaves.

A editora reconhece oficialmente que até agora apenas dois leitores brasileiros conseguiram elucidar corretamente “A Mandíbula de Caim”. Flávio (23 anos) e Camila (16 anos), ambos aficionados por literatura de mistério e suspense, conseguiram resolver o quebra-cabeça literário em dois meses.

PIONEIRO DAS PALAVRAS CRUZADAS

Edward Powys Mathers (1892 - 1939) é apontado como o pioneiro das palavras cruzadas enigmáticas na Inglaterra. Foi o primeiro publicá-las em jornais britânicos adotando o pseudônimo de Torquemada em alusão a Tomás de Torquemada (1420 - 1498), cruel frade dominicano espanhol. Ocupando a função de Inquisitor Geral, Tomás foi responsável pela prisão, tortura e morte de milhares de homens e mulheres considerados hereges pela Igreja Católica no século 15.

Em 1934, Edward Mathers publicou uma seleção dos mais difíceis enigmas criados por ele que torturavam a cabeça dos leitores. Com o título de “O Quebra-Cabeça Torquemada”, o volume reunia palavras cruzadas, jogos verbais, acrósticos cruzados, anagramas, antístrofes, telésticos, spoonerismos e muito mais. No final do livro aparecia “A Mandíbula de Caim”, jogo que o autor chamava de “romance-quebra-cabeça”.

“A Mandíbula de Caim” (título referente ao primeiro assassinato da Bíblia) permaneceu esquecido por décadas até ser regatado por um coletivo de leitores ingleses durante a quarentena da pandemia de covid-19. Rapidamente foi publicado em vários países arrebanhando um público jovem que levou para as redes sociais o romance-enigma de Torquemada. O tik-tok e o youtube foram invadidos por milhares de vídeos de leitores apresentando aventuras e desventuras na jornada de elucidar o livro-enigma.

SERVIÇO

“A Mandíbula de Caim”

Autor – Torquemada

Tradução – Myra Marple

Editora – Intrínseca

Páginas – 216

Quanto – R$ 49,90