A região central de Londrina coleciona empreendimentos antigos e cheios de personalidade em sua estrutura. Há quem procure por esses imóveis, sejam os comerciais ou residenciais, principalmente por seu espaço ser muito mais amplo e também pela pluralidade em serviços que o centro da cidade proporciona.

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Muito conhecida por ser uma região preferencialmente ocupada por moradores idosos, agora também chama a atenção do público jovem que busca por uma autenticidade que pode estar guardada dentro desses imóveis há décadas. Uma das fortes características dos apartamentos mais antigos no centro da cidade são os azulejos ou ladrilhos hidráulicos, eles revestem as paredes contando histórias entre um cômodo e outro, um encantamento para quem gosta que o ambiente também se imponha com a sua singularidade na decoração.

Imagem ilustrativa da imagem Azulejos: dos revestimentos à memória da cidade
| Foto: Ana Carla Dias/ Divulgação

A arquiteta Ana Luiza Pacheco, 25, fala sobre os clientes que procuram por esses imóveis com a preferência por um design interior que tenha azulejos e outras características mais antigas: “Todos são clientes muito abertos à utilização de cores nos espaços e que também sempre citam que querem uma casa ‘aconchegante’, por isso, manter ou aplicar os azulejos pode trazer essa memória afetiva de 'casa de vó”. Esses espaços com cores mais fortes e estampas inusitadas podem lembrar aquele ambiente da infância e todas as boas recordações que uma época distante pode trazer.

Salas, cozinhas, banheiros entre outros cômodos são possíveis pontos de fuga na rotina após a volta de um dia exaustivo no trabalho, a arquitetura e o design de interiores são opções para que isso se aproxime da realidade. “Atualmente temos percebido que há uma valorização maior do antigo entre os clientes. Normalmente a parte antiga e clássica vem nos acabamentos existentes dos apartamentos, já a decoração traz a estética mais contemporânea e moderna para ter uma linguagem mais atualizada dos espaços. Esses azulejos coloridos, principalmente os de décadas passadas, estão presentes em banheiros e cozinhas e, durante a reforma, analisamos muito o perfil dos usuários para entender até onde podemos manter esses azulejos coloridos”, explica a arquiteta.

Ana Luiza Pacheco, arquiteta e decoradora de ambientes: "Atualmente há uma tendência de valorização do antigo; a parte clássica vem nos acabamentos, já a decoração é mais contemporânea"
Ana Luiza Pacheco, arquiteta e decoradora de ambientes: "Atualmente há uma tendência de valorização do antigo; a parte clássica vem nos acabamentos, já a decoração é mais contemporânea" | Foto: Divulgação

MANTER A ALMA DO LUGAR

O ato de decorar é algo partilhado por gerações e gerações, adequando um ambiente ao gosto do morador e para que tenha mais praticidade, além de trazer a sensação de segurança. Esses detalhes fazem com que haja a verdadeira identificação com o ambiente, como Dionne Warwick, cantora norte-americana, definiu bem em uma de suas composições. ‘A House Is Not A Home’, traduzindo, “Uma casa não é um lar”, são necessários alguns aspectos para que a sensação de pertencimento se concretize no ambiente escolhido.

Carla Caires é professora da Unifil e mestre em arquitetura na área de intervenção em edifícios históricos, com um olhar atento ao que uma estrutura pode representar, exemplifica como esses detalhes antigos podem fortalecer um ambiente. “As casas e apartamentos podem através da disposição dos seus ambientes, também dos materiais e mobiliários utilizados, contar histórias, documentar formas de viver e constituir memórias. Desta forma, é sim importante que as intervenções nestes locais sejam feitas com cautela e buscando potencializar a essência patrimonial do local que o faz único”.

Um dos prédios mais chamativos do calçadão de Londrina é o Edifício Monalisa, com seu revestimento exterior em azulejos brancos com estampas em desenhos verdes, traz uma mistura de cores. Localizado no Calçadão, esquina com a rua Professor João Cândido, suas varandas com flores e outros adereços colocados por seus moradores dão um toque especial à beleza do imóvel e alegram a paisagem cotidiana de quem faz o caminho diariamente. Um gigante que já se mistura ao céu da cidade. Essas estruturas, sejam patrimoniais ou não, merecem uma atenção redobrada na hora de sofrerem alguma modificação, já que possuem um lugar no coração dos moradores. “Quando edifícios ou ambientes de valor patrimonial, seja pela sua qualidade histórica ou artística, são preservados, eles permitem a manutenção e valorização de memórias sociais, além da possibilidade de mostrar formas de viver distintas para gerações futuras”, expõe Carla.

MUSEU DOS AZULEJOS LIGA O PASSADO AO PRESENTE

Os ladrilhos hidráulicos e azulejos possuem um lugar de salvação e resgate em Londrina. Há 30 anos na cidade, o Museu dos Azulejos fica localizado na avenida Rio Branco e, apesar do nome, não possui grandes corredores de exposição e obras assinadas por artistas, mas é um dos lugares onde as pessoas vão buscar peças de reposição para paredes que podem ter sido danificadas em casa.

Rafael Lucas, representante da loja Museu dos Azulejos e algumas produções próprias da sua fábrica
Rafael Lucas, representante da loja Museu dos Azulejos e algumas produções próprias da sua fábrica | Foto: Divulgação

Rafael Lucas da Silva, 32, está a frente da loja há 3 anos, atendendo a clientes que procuram por todos os estilos possíveis de revestimentos para a decoração, hoje, a loja já iniciou também a sua produção própria de ladrilhos hidráulicos. O comerciante percebeu um aumento na procura por esse estilo e tendência. “Para a parte de decoração começamos com uma produção nossa em ladrilhos, a nossa fábrica fica no bairro Parigot de Souza. Já temos uns 10 modelos de estampa, começou a sair bem. Peças com desenhos azuis saem bastante, alguns podem personalizar com a cor que quiser”, diz Rafael.

A loja adquire os azulejos de construtoras e donos de imóveis que após reparações em ambientes, reconhecem a raridade dos revestimentos e se lembram do Museu, fornecendo peças retiradas para o estoque de vendas. O local é muito frequentado, principalmente por moradores de apartamento em locação que em algumas reformas podem danificar algum desses ladrilhos e tem essa opção para encontrar peças que já não existem em comércios comuns. “Os que saem mais são os 15x15 ou 20x20. Tem azulejo que está aí desde que a loja começou, não vendem. Alguns vendemos muito e outros não saem.”

Toda essa história que se esconde dentro de apartamentos ou é exibida diariamente em cores que revestem os prédios da região central, abre portas para quem quer dar um novo passo para outras experiências em moradia, projetos ou somente se preocupa em preservar o visual histórico da cidade para que, em alguns anos, novas referências nasçam sem que se esqueçam das suas formas e pinturas iniciais.

Imagem ilustrativa da imagem Azulejos: dos revestimentos à memória da cidade
| Foto: Divulgação

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