Arthur Thomas é um nome espalhado por toda a cidade. Aparece em nome de avenida, de escola, de bairro e parque municipal. Nascido em 1889 na Escócia, Arthur Hugh Miller Thomas foi um dos grandes personagens da colonização de Londrina e do Norte do Paraná.

Sua história está sendo resgatada em “Arthur Thomas – Da Marcha Para Oeste ao Parque Municipal”, livro do jornalista e escritor londrinense Fábio Luporini. O lançamento acontece na quinta-feira (13), na Biblioteca Pública Municipal.

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Além de apresentar toda a trajetória de Arthur Thomas, a obra também narra a história do parque que leva seu nome. Criado na década de 1980, o Parque Municipal Arthur Thomas é um dos raros parques brasileiros de Mata Atlântica dentro do perímetro urbano, praticamente dentro da cidade.

O projeto do livro também compreende um documentário sobre o Parque Arthur Thomas que será lançado em maio. Dirigido por Luciano Schmeiske Pascoal, o filme será ferramenta de educação ambiental nas escolas.

A seguir Fábio Luporini fala sobre o livro, a importância de Arthur Thomas e a face pouco conhecida do parque.

Arthur Thomas em sua sala de diretor da Companhia de Terras Norte do Paraná
Arthur Thomas em sua sala de diretor da Companhia de Terras Norte do Paraná | Foto: Acervo do Museu Histórico de Londrina

No livro você apresenta Arthur Thomas como homem determinante para a formação de Londrina. Qual foi o papel de Arthur Thomas na história da cidade?

Não fosse Arthur Thomas, talvez a história de Londrina tivesse sido diferente. Esse personagem real é determinante para a trajetória não só de Londrina, mas de todo o Norte do Paraná. Isso porque Lord Lovat poderia ter escolhido qualquer outra pessoa para representá-lo nos negócios no Brasil, mas a confluência da vida de Arthur Thomas, das características de sua personalidade, de sua visão desenvolvimentista e do trabalho repleto de empenho que ele desenvolveu foram fundamentais para esse pedaço de terra vermelha até então “esquecido”. Em Londrina, ele foi o homem forte da Companhia de Terras Norte do Paraná e existe influência dele desde a doação de terrenos da Santa Casa até a do estádio Vitorino Gonçalves Dias, assim como a construção de escolas e outros órgãos e entidades.

O Parque Arthur Thomas é apontado pela população de Londrina como um dos principais espaço naturais de lazer da cidade. Como nasceu o parque?

O parque nasceu a partir da doação de uma extensa faixa de terras que era de propriedade da extinta Companhia de Terras Norte do Paraná, transformada em Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, na década de 1970. No local, funcionou a primeira usina hidrelétrica de Londrina, a Usina Cambé, que havia sido desativada alguns anos antes. A prefeitura de Londrina tinha interesse na área e a doação foi atrelada à criação do parque e a nominá-lo com o nome do pioneiro. Assim, o parque foi aberto no fim da década de 1980, após ter sido preparado para receber o público.

O livro apresenta duas trajetórias que se cruzam: a história do pioneiro Arthur Thomas e a história do parque municipal que recebeu seu nome. Como Arthur Thomas e o Parque Municipal se relacionam?

Não é possível contar a história do parque sem contar a história do pioneiro. Não apenas porque o escocês é eternizado com a homenagem do nome do parque, mas porque Arthur Thomas teve atuação fundamental na construção da primeira usina hidrelétrica de Londrina, a Usina Cambé, que ficava no ribeirão Cambé, que passa pelo parque. De qualquer maneira, preservar a História, registrando-a, é essencial para planejar o futuro, inclusive as ações de educação ambiental e a preservação de um fragmento de mata tão importante quanto o que temos em Londrina. Nesse sentido, essas duas histórias que se cruzam compõem o quebra-cabeças que é a construção histórica de Londrina, ajudando-nos a entender e compreender um pouco mais e melhor detalhes do nosso passado tão recente.

O Parque Arthur Thomas é mais conhecido como um ambiente de contato com a natureza. Mas ele é muito mais do que isso, existem várias pesquisas, estudos e observações desenvolvidas dentro do parque. Que lado do parque é esse que pouca gente vê?

Esse é um lado que nem mesmo eu, antes de pesquisar o parque, conhecia. Uma riqueza invisível. Aliás, não apenas em relação à fauna e flora que fazem parte desse fragmento de Mata Atlântica, mas, sobretudo, sobre o esforço e o trabalho, em primeiro lugar dos servidores da Secretaria Municipal do Ambiente e, em seguida, dos pesquisadores que estudam os mais variados temas dentro da floresta, desde as borboletas até os macacos, passando pelos mamíferos, pelas plantas e pela água. Esse é um lado imprescindível para a preservação do espaço e, inclusive, para a sobrevivência de Londrina como centro urbano no futuro. O parque é um grande laboratório a céu aberto e as pesquisas desenvolvidas ali devem ser conhecidas pelo público.

Fábio Luporini: "Não é possível contar a história do parque sem contar a história de Arthur Thomas; as duas histórias que se cruzam compõem o quebra-cabeças da construção histórica de Londrina"
Fábio Luporini: "Não é possível contar a história do parque sem contar a história de Arthur Thomas; as duas histórias que se cruzam compõem o quebra-cabeças da construção histórica de Londrina" | Foto: Divulgação

Dentro do parque existe a primeira usina hidrelétrica de Londrina, construída em 1939 e desativada em 1967. No livro você aponta a necessidade de transformar a usina em patrimônio histórico da cidade. Qual a importância dessa usina?

A Usina Cambé foi a primeira usina hidrelétrica de Londrina e, graças à eletricidade gerada pelas águas que correm pelo parque, a cidade pôde se desenvolver de maneira rápida. Era um grande avanço para a época e poucas cidades tinham equipamentos tão desenvolvidos. Hoje, sua importância é histórica, seja para os estudantes de engenharia, seja para turistas e moradores. Infelizmente, grande parte da usina está soterrada por conta de chuvas e temporais de quase uma década atrás. Mas, transformá-la em um ponto turístico e histórico, preservando-a, geraria curiosidade, conhecimento e até desenvolvimento econômico. Inclusive, ao longo do projeto, nós solicitamos à Secretaria Municipal de Cultura o tombamento municipal, para que o município preserve e que se possa buscar recursos para isso.

São raras as cidades brasileiras que possuem um parque com Mata Atlântica dentro da área urbana, como o Parque Municipal Arthur Thomas. Por que ele ainda não conseguiu se tornar um dos grandes parques brasileiros devidamente bem cuidado, como referência ambiental e turística?

Infelizmente o parque sofre com a falta de um planejamento a longo prazo, que ultrapasse gestões municipais, apesar do reconhecido esforço dos servidores. Sendo municipal, embora seja uma unidade de conservação ambiental, ainda está limitado em recursos. Para isso, seria preciso criar alternativas, desde uma gestão privada até uma parceria público-privada, tal como acontece em unidades de conservação em Foz do Iguaçu ou em Fernando de Noronha. Também é preciso ampliar as possibilidades, buscando editais que financiem projetos dentro do parque. E por que não cobrar um ingresso que, por mais barato e acessível que seja, ajudaria a ampliar os recursos e realizar investimentos e manutenção constante? São muitas as alternativas, que devem ser discutidas por diferentes entes, desde o poder público até as instituições da cidade, bem como órgãos estaduais e federais. O parque é uma riqueza que merece ser melhor cuidada por todos nós.

Imagem ilustrativa da imagem Arthur Thomas: o homem e o Parque Municipal
| Foto: Divulgação

SERVIÇO:

“Arthur Thomas – Da Marcha Para Oeste ao Parque Municipal”

Autor – Fábio Luporini

Editora – Kan

Páginas – 232

Patrocínio – Proverde - Programa de Incentivo ao Verde de Londrina

Lançamento:

Quando – Quinta-feira (13), às 14h

Onde – Biblioteca Pública Municipal de Londrina (Rua Rio de Janeiro, 413)