O dia inteiro

martelos e serras

o bairro gemendo

nasce da terra

*

Tijolos e telhas

já foram barro

e da terra vieram

todas madeiras

*

O bairro é plantação

a se erguer só uma vez

seus dutos são sua seiva

seus frutos os nenês

*

Passa protestando

um bando de maritacas:

cadê aquele mato?!

(e lá se vai a garça)

*

E o bairro cresce

todo dia e hora

um matagal até ontem

já um antenal agora

*

As betoneiras roncando

as serras com seus gemidos

mas bairro só nasce mesmo

com o primeiro latido

*

Do caminhão descem móveis

cheios de esperança

e a rua conhece os pés

da primeira criança

*

Os postes alimentam

chuveiros e tevês

o bairro é uma rede

de água e luz e placentas

*

Nos fios os passarinhos

olham o tempo passar

aqui e ali um radinho

o bairro também no ar

*

O bairro é o ponto da pátria

onde se calça chinelos

abaixo a tua terra

acima nossas estrelas

*

(Errata: bairro só nasce

entretanto e enfim

quando floresce

o primeiro jardim)

.
. | Foto: Dalva Vidotte/ Acervo pessoal

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