| |

VISÃO DE JOGO 5m de leitura

Tubarão: azul, branco e preto

Uma cor não define um coração e nem uma história. Mas ela discrimina. E isso é crime

ATUALIZAÇÃO
28 de março de 2022

Julio Oliveira
AUTOR

Se não existissem as cores o mundo seria muito chato, sem vida. Imagine tudo em preto, branco ou cinza. Não haveria alegria, ousadia ou energia. Certeza de um mundo mais lento e até menos criativo. As cores dão mais que vida, seja um ambiente interno ou externo, roupas e objetos. As cores ajudam a entender personalidades. 

Lateral Samuel Santos foi alvo de injúria racial por parte de um torcedor do Athletico em jogo pelas semifinais do Paranaense
 

Mas para utilizar e conviver ao mesmo tempo com diferentes cores também é preciso equilíbrio para que haja harmonia. O mais claro com o mais escuro, o tom sobre tom ou opostos criando contrastes especiais. Não há a mais especial, a mais bonita, a mais relevante. Há diversas e infinitas combinações e as preferências são de cada pessoa que elege suas preferências e aí, sim, define para si a mais relevante.

Mas neste universo de cores, às vezes, gostamos ou não da mesma cor, dependendo da situação. Um vermelho pode servir para uma festa à fantasia, mas talvez não para trabalhar; o verde para o uniforme, mas nunca para um encontro especial; o amarelo para camisa do time do coração, mas nem pensar para um terno. Sempre surgirão sentimentos diferentes para situações diferentes com a mesma cor. E está tudo bem, porque a cor apenas define o tom, mas não o objeto. Há quem goste de uma peça preta, por exemplo, mas não de uma pessoa preta. 

Na última semana o lateral do Londrina, Samuel Santos, foi destaque por sua cor, que não deve ser a preferida pelo torcedor na arquibancada da Arena da Baixada que definiu o atleta do Tubarão pelo tom da pele.  O “preto” citado ali não foi de elogio, de força. Foi de discriminação. O xingamento classificou o lateral como algo negativo, desprezível, não aceitável naquele meio, sem qualidade, inferior etc. Uma pessoa preta sabe bem o peso desta palavra. 

Mas o quanto aquele “torcedor” conhece do Samuel Santos, da história, sofrimentos, desafios, dores e derrotas? O quanto aquele “torcedor” tem conhecimento das necessidades passadas até se tornar um atleta? O quanto sabe da angústia de viver longe da esposa e dos filhos para sobreviver e sustentá-los? Aquele “torcedor” não sabe nada disso. E não quer saber. Apenas definiu o jogador de um time rival pela cor da pele, que diminui o ser humano. E não é porque Samuel Santos foi chamado de “preto vera verão”, mas porque ninguém deve ser chamado por azul, amarelo, verde limão ou outra combinação qualquer. Uma cor não define um coração e nem uma história. Mas ela discrimina. E isso é crime.

Mas, e como esse mesmo “torcedor” qualifica os “pretos” do time Rubro-NEGRO que ele torce?  O Atlhetico teve no elenco ao longo dos tempos alguns “pretos” históricos: Djalma Santos, Assis e Washington (Casal 20), kléberson e tantos outros. No passado recente, Nikão foi ídolo. Hoje, Matheus Babi, Abner e John Mercado também são pretos.           

O Londrina acolheu Celsinho no ano passado, que foi brilhante se posicionando e denunciando. Agora, Samuel Santos também não se calou, protestou, registrou ocorrência e manteve o debato vivo. O Londrina, do azul e branco, também é preto. E todos devemos ser também. 

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1. 

Esse conteúdo é restrito para assinantes...
Faça seu login clicando aqui.
Assine clicando aqui.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS