A batalha pela recuperação total após um diagnóstico de Covid-19 para muitos pacientes foi tão grande como a luta pela vida em um leito de UTI. Em muitos casos graves, a reabilitação foi longa e demorada e vários ainda sentem os efeitos da doença que transformou o mundo nos últimos dois anos.

"Alguns estiveram à beira da morte e isso faz com que a pessoa tome uma consciência muito grande da importância da atividade física", afirma Raymundo Pires
"Alguns estiveram à beira da morte e isso faz com que a pessoa tome uma consciência muito grande da importância da atividade física", afirma Raymundo Pires | Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

O desafio para muitos pacientes foi dar continuidade à reabilitação após a alta hospitalar. Por se tratar de um vírus novo, os próprios profissionais de saúde ainda estão aprendendo sobre o Sars-CoV-2 e suas consequências.

"A pessoa iniciava a recuperação ainda no hospital, com fisioterapeuta, reabilitação respiratória e dos movimentos, mas era preciso oferecer qualidade de vida a este paciente. Fomos conhecendo como a doença se comportava, o que ela produzia no organismo e como amenizar estes efeitos", explica o educador físico Raymundo Pires.

PROGRAMAS DE TREINAMENTO

Com mestrado e doutorado no Canadá direcionado para a prática do exercício físico voltado à saúde, Pires sempre trabalhou com pessoas hipertensas, diabéticas, em recuperação de cânceres, com distúrbios pulmonares e de terceira idade. O profissional relata que recebeu pacientes que ficaram mais de 60 dias internados, com mais de 30 dias de intubação e que tiveram sequelas graves e severas.

"Algumas chegaram a perder o movimento de engolir, com disfunção muscular enorme, comprometimento total das funções pulmonares", revela. "Criamos programas de treinamento que uniam a parte aeróbica, com força e flexibilidade. Em muitos casos, a pessoa precisou a reaprender a andar, erguer o joelho, levantar o pé. Voltaram com o tempo a caminhar novamente e muitos a correr".

Raymundo Pires afirma que não é possível definir um cronograma dos processos de recuperação, porque cada caso é único e merece um cuidado individual. No entanto, o educador ressalta que a longa e dolorosa etapa de reabilitação despertou a importância da atividade física na vida das pessoas.

"Muitos alunos hoje estão melhores do que antes da Covid. Alguns estiveram à beira da morte e isso faz com que a pessoa tome uma consciência muito grande da importância da atividade física. O exercício passou a fazer parte da rotina e, consequentemente, a qualidade de vida melhorou".

Pele e osso

O médico nefrologista Getúlio Amaral, 68 anos, foi diagnosticado com a Covid-19 em agosto de 2020. Foram 40 dias internados, sendo 30 na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e 18 entubado, em coma induzido.

Diabético, o médico teve 100% do pulmão comprometido, perdeu mais de 15 quilos de massa muscular e teve toda a sua capacidade motora comprometida. "Não conseguia sequer fazer a barba, levantar da cama e muito menos ir ao banheiro sozinho. Fiquei literalmente pele e osso", conta.

No primeiro dia após a alta hospital, Amaral iniciou um trabalho de recuperação muscular e de condicionamento físico, que mantém até hoje. Seguiu um cronograma diário e gradativo de treinos e a recuperação foi praticamente total. "Aos poucos consegui sair da cama, descer escadas e voltei a dirigir. Seis meses depois do diagnóstico da doença voltei a trabalhar e atender meus pacientes na clínica", revela. "Hoje me sinto melhor que antes e readquiri o bem estar e a autonomia".

O médico relata que a experiência do coma foi muito difícil e que o susto realmente foi enorme. E que a recuperação mostrou a importância da atividade física voltada para a saúde. "É fundamental que as pessoas se preocupem em realizar um programa gradativo de recuperação e que depois continuem com as atividades. Eu não parei e pretendo continuar me movimentando diariamente".

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