Diretor de Recursos Humanos da Arcos Dourados, Marcelo Nóbrega, orienta os profissionais a se envolverem com atividades diferentes
Diretor de Recursos Humanos da Arcos Dourados, Marcelo Nóbrega, orienta os profissionais a se envolverem com atividades diferentes | Foto: Divulgação



O primeiro emprego é um capítulo da maior importância na trajetória de qualquer um. É o momento em que um novo universo se abre para quem, até então, estava acostumado a lidar apenas com as responsabilidades do mundo escolar e acadêmico. Passa-se a se relacionar com chefes, cobranças, diferentes culturas organizacionais, planejamento de carreira e um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, entre outros elementos até então restritos ao mundo dos "adultos".

É também nesta hora que ficam evidentes lacunas na preparação dos jovens para essa transição, conforme explica a coach Danielle Marin, consultora executiva de recursos humanos da De Bernt. Ela avalia que falta orientação em diferentes esferas da formação dos jovens - desde a família até as escolas.

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"O mercado da educação está se transformando muito. Mas, hoje, ainda é muito descolado do mundo corporativo", explica.

De acordo com a consultora, quando o jovem entra no mercado de trabalho precisa ativar competências muito diferentes das que estava acostumado a exercer. "Ele precisa se adequar à linguagem, aos horários, à conduta", diz. "E sabemos que não basta ser inteligente para ter uma carreira de sucesso. Há pessoas, em tese, menos inteligentes, mas com uma competência relacional grande, e vão decolar", explica.

A especialista explica que o contato direto com o mercado de trabalho é a forma mais eficiente para apresentar o jovem a este conjunto de demandas. "A maneira como ele reage a cobranças ou a pressões, por exemplo, já começa a ser trabalhada", explica.

Da base à chefia

Ainda de acordo com Danielle Marin, a evolução do acesso ao ensino superior nos últimos 15 anos tornou vagas em posições "operacionais" menos atrativas para quem investiu em formação. Estas posições, contudo, não devem ser ignoradas, explica a consultora.

"Há empresas excelentes para se construir a carreira cuja porta de entrada está na linha de produção, onde nem todos querem trabalhar, por tratar-se de um trabalho com maior desgaste físico, por exemplo. Mas é dali que vai ser um líder de time, um supervisor ou coordenador, que poderá galgar uma carreira", explica.

Mais ou menos assim foi a trajetória de Cátia de Freitas Fernandes, gerente de negócios no McDonald's em Londrina. Foi no restaurante do Shopping Catuaí que ela começou a trabalhar, aos 15 anos, em 1997, para ajudar nas contas de casa. Depois de três anos como atendente, ela mudou de área - conseguiu um estágio em um banco, onde acabou ficando uma década. Em 2009, contudo, apareceu a chance de voltar - desta vez, como gerente selecionadora.

"De tudo o que já estudei, o McDonald's foi o que mais me ensinou", disse Cátia - que passou também a perceber, do outro lado da mesa, a transformação dos jovens que seleciona. "A mudança não é só profissional, como comportamental", explica a gerente.

O diretor de Recursos Humanos da Arcos Dourados, Marcelo Nóbrega, explica que a empregabilidade é parte do "DNA" da companhia - que apresenta como uma de suas preocupações a colaboração para a redução de barreiras no acesso ao primeiro emprego formal, em um cenário onde 23% dos jovens do país não trabalham e nem estudam, segundo dados divulgados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no ano passado (leia mais abaixo).

"A gente é uma empresa de primeiro emprego", diz Nóbrega. "Contratamos na base da pirâmide, para o cargo de atendente, e todos têm a oportunidade de subir na hierarquia. 100% dos gerentes começaram a carreira conosco como atendentes", conta.

Ele diz que a empresa complementa eventuais lacunas destes novos profissionais com treinamento e que o investimento também traz benefícios para a companhia. "Isso se reflete no conhecimento do nosso negócio, da clientela, no engajamento da marca", diz. A empresa diz que investe R$ 40 milhões em treinamento e capacitação pessoal.

Embora sua companhia esteja aberta às pessoas sem experiência prévia (é exigido apenas que estejam concluindo ou tenham concluído o Ensino Médio), o diretor tem suas recomendações para os jovens em vias de entrar no mercado de trabalho: procure se envolver com coisas diferentes.

"Recomendo não só para o jovem, mas para todos, ter experiências diversas, pessoais e de trabalho, para que cresça e desenvolva versatilidade, adaptabilidade", diz. "Se praticou esportes, foi capitão do time, participa de atividades da igreja ou ajuda a mãe no comércio, por exemplo, não tem a menor dúvida de que terá desenvolvido experiência."

Segundo a Arcos Dourados, 15 mil jovens ingressaram em seus quadros em 2018 - uma média de 40 novas oportunidades por dia. Os jovens de até 25 anos compõem 75% do quadro de funcionários da companhia.

Por onde começar

Jovem aprendiz

Por lei, empresas de grande e médio porte devem reservar uma cota de vagas para jovens de 14 a 24 anos, que podem ser disputadas antes mesmo da conclusão do ensino médio. "Conheço pessoas que hoje são grandes executivos que começaram neste programa nas empresas. Entraram como jovens aprendizes e fizeram carreiras brilhantes", diz Danielle Marin, consultora executiva de recursos humanos e coach.

Estágio

Os estagiários já carregaram o estigma de assumirem apenas as atribuições mais básicas em uma organização - é conhecida a brincadeira do "cafezinho" e do "xerox". Hoje, as oportunidades de participar de processos para valer são maiores - assim como as responsabilidades. "Hoje, o estagiário se tornou parte importante da estrutura das empresas", diz Marin. "Houve também uma evolução no preparo dos estagiários e muitas dessas pessoas vão permanecer após o estágio, já no primeiro emprego."

Programas de trainee

São exigentes e muito disputados, mas valem a pena, já que costumam oferecer ao jovem profissional ou estudante a chance de passar por diferentes áreas da empresa.

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