Pesquisa da empresa de marketing OnePoll, realizada em 15 países com 9 mil mulheres, incluindo brasileiras, revelou que 72% têm vontade de ter um negócio próprio e a gastronomia é a principal área de interesse delas, com 25% da preferência. Segundo o Sebrae, há em torno de 9,3 milhões de mulheres à frente de uma empresa no Brasil. Atualmente, o número de empreendedoras vem crescendo e uma das formas de olhar para o empreendedorismo feminino é observar mulheres ocupando por conta própria espaços que muitas vezes não encontram dentro das empresas.

Marcia Mocelin Manfrin:  primeira mulher a presidir a Acil, criou a Apetit, empresa com mais de 30 anos de mercado está presente em 11 estados brasileiros
Marcia Mocelin Manfrin: primeira mulher a presidir a Acil, criou a Apetit, empresa com mais de 30 anos de mercado está presente em 11 estados brasileiros | Foto: Rosana Reineri Unfried/ Divulgação

Da teoria à prática, a pesquisa se confirma e, bem próximos do cotidiano, há exemplos para valorizar mulheres empreendedoras e geradoras de empregos neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Um momento histórico foi assistido em Londrina, em dia 26 de fevereiro, quando a empresária do ramo alimentício Marcia Mocelin Manfrin assumiu a presidência da Acil - Associação Comercial e Industrial de Londrina - em plena pandemia. Manfrin irá comandar a entidade no período de 2021/2023, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo na entidade em 83 anos de história.

Com uma trajetória tão inspiradora como curiosa, a empresária soma entusiastas. Presidente do Grupo Dela Foods, na década de 1990, aos 22 anos, fundou a Apetit, e segue contagiando gerações. Seu começo foi uma encomenda de 13 marmitas para uma indústria - e ela viu nisso, uma possibilidade de negócio. A empresa com mais de 30 anos de mercado é especializada na administração de restaurantes corporativos e está presente em 11 estados brasileiros. Além disso, Manfrin atua como é CEO da holding Dela Foods e gera mais de dois mil empregos diretos. Há alguns anos, a Apetit figura na lista das grandes melhores empresas do Paraná para se trabalhar, ranking elaborado pela consultoria global GPTW (Great Place To Work). Sendo a segunda colocada no Paraná e está há 11 anos no ranking nacional.

Manfrin considera que não existe receita ou fórmula pronta para empreender. Graças à sua vivência profissional, reconhece: "É fundamental ter flexibilidade para se desprender de um modelo de negócios muito rígido. Quando você entra de cabeça nesse mundo e começa a pesquisar boas referências irá descobrir inúmeros métodos para alcançar o sucesso, mas como qualquer receita há a necessidade de adaptar os ingredientes ao paladar do freguês e é essa maleabilidade que será crucial na construção de um negócio sólido e promissor".

Em seu discurso de posse na ACIL, expôs: "A primeira decisão de um presidente é ter uma diretoria forte e engajada. Priorizamos um mandato positivo, onde possamos defender a causa dos nossos associados e o desenvolvimento da economia. Enquanto empresária, penso que a retomada da economia, hoje, é o principal papel da ACIL. Queremos contribuir para o desenvolvimento econômico e sustentável da cidade de Londrina."

Ela emenda com uma mensagem exclusiva para leitores da Folha: "O sucesso independe do gênero. É preciso arregaçar as mangas, manter o foco e trabalhar duro todos os dias com dedicação, carinho e muito suor. Precisamos de pessoas apaixonadas pelo que fazem. O talento, o ardor, o amor pelos negócios independem se você é um homem ou uma mulher. Entretanto, é preciso coragem, cabeça erguida e muita força para enfrentar o mercado que ainda é predominantemente masculino. O que para algumas pessoas pode parecer fragilidade, pode ser uma vantagem para você nos seus negócios. Use a sua sensibilidade a seu favor e não esqueça de sonhar sempre, de se desafiar, de buscar a excelência no que você faz. Confie em você. O seu maior desafio é você. Vença a si, todos os dias. Esse é o meu segredo. E você também pode. Basta acreditar, basta trabalhar muito, basta se dedicar", encoraja.

UMA EXPERIÊNCIA NA ALEMANHA

Jandira Strass, proprietária do restaurante Strassberg: “Tudo é feito artesanalmente: massas, defumados, recheios e caldas. Ao todo, são 70 empregos diretos”
Jandira Strass, proprietária do restaurante Strassberg: “Tudo é feito artesanalmente: massas, defumados, recheios e caldas. Ao todo, são 70 empregos diretos” | Foto: Arquivo pessoal

Localizado no quilômetro 401 da rodovia Celso Garcia Cid, no Distrito da Warta, o caminho até o Restaurante Strassberg já aguça os sentidos quando se pensa nos sabores da Alemanha e pode ser considerado uma viagem por seus encantos. Sim. Um restaurante com especialidades da gastronomia alemã, à beira da estrada, é destino de quem mora em Londrina, nos distritos, região metropolitana e também de muitos que estão "no trecho" e já descobriram o que há por trás da fachada que conserva personagens da cultura alemã em voga - da porta de entrada, aos trajes dos atendentes e ao som ambiente. Até há pouco tempo - antes de implementarem a renovação das placas de veículos padronizadas conforme regras do Mercosul - uma espiada nas chapas dos carros permitia ver quanta gente de longe escolhia fazer a parada na casa que serve de refeições completas a sobremesas germânicas autênticas.

O fato é que a tradição de mais de 30 anos conserva os clientes fieis e os renova também, seja por meio das gerações da família, seja pelo boca a boca. É uma satisfação para a empresária Jandira Strass, responsável pelas "Tortas Alemãs" - como é carinhosamente tratado o estabelecimento - contar a sua jornada , que se relaciona ao início da criação da cidade de Londrina: "Nas décadas de 1920 e 30, muitos alemães cruzaram o Atlântico em busca de uma nova vida, dois deles, Olga e Carlos, ouviram sobre a fertilidade das terras da região. Olga chegou em 1927, Carlos em 1930 em 1932 se casaram, foi o primeiro casamento da cidade. No Heimtal (Lar do Vale), onde os alemães viviam em Londrina, criaram a família e se tornaram a Oma e o Opa (em alemão, avó e avô) da família Strass."

Em 1989, Jandira e Jorge Strass, com quem ela se casou, começaram a fazer as receitas da Oma. "Foi por vontade de que outras pessoas tivessem a experiência daquele sentimento familiar e assim nasceu o restaurante Strassberg, ou Montanha dos Strass", conta Jandira. "Abrimos uma casinha simples em uma estrada, que liga o Paraná a São Paulo. Mas tudo foi pensado: o ambiente com troncos de madeira, as roupas típicas da equipe, a música de fundo, a fachada inspirada nas casas da Baviera, até a casinha de bonecas", esmiúça. Jorge era agrônomo e tinha plantações de uva, entre outras frutas que eles aproveitavam e usavam em seus produtos, fazendo disso algo naturalmente sustentável. Aos poucos, a casa foi se expandindo e receitas foram acrescentadas.

Hoje, a família Strass orgulha-se de saber que quem frequenta a casa faz disso uma experiência única - como sempre desejou Jorge, falecido em 2003 : "Sair da cidade, pegar a estrada, entrar num universo caseiro, mais próximo da natureza, mais contemplativo, onde as crianças podem correr pelo jardim e brincam", foi a experiência que o casal quis oferecer aos seus clientes, como conta Jandira.

Além das tortas salgadas, einsbein (joelho de porco) e o kassler (bisteca de porco) com batatas cozidas, chucrute e salsichas, que ficam na memória dos clientes, há no cardápio marreco e pato recheados - que se conservam e se renovam, sem esquecer de ingredientes que se sobressaem e impressionam como a mostarda artesanal preparada por Jandira e sucos como o de framboesa. "Tudo é feito artesanalmente: massas, defumados, recheios e caldas Ao todo, são 70 empregos diretos. Entendemos que muitas pessoas que antes estavam limitadas à roça ou a casas da família, desde que abrimos, podem ter uma profissão cobiçada no mercado", diz.