Apesar de casar muito bem com a linguagem cheia de estrangeirismos do mundo globalizado, o termo “plus size” já tem cerca de 100 anos. A história da palavra remete à costureira estadunidense Lane Bryant, que descobriu um nicho de mercado fazendo roupas para mulheres maiores. Diante do fortalecimento dos discursos de aceitação e diversidade, o mercado plus size cresce nos últimos anos como contraponto ao padrão, mas ainda luta para se firmar.

“A indústria tem melhorado, feito mais peças para esse público. Mas, comparado ao público P/M/G, perde de 10 a 0. A diversidade das mercadorias ainda é muito pequena”, afirma a empresária Lavínia Rocha, que possui uma loja de roupas de modinha em tamanhos maiores.

Mas afinal, há uma definição clara do que é ser plus size? A jornalista Marcela Elizabeth Pereira, presidente da Associação Brasileira do Plus Size, explica que “como associação, nós definimos como um termo de moda e as pessoas que estão enquadradas nesse mercado são as que usam a partir do 46”. Contudo, na prática, o limite não é tão claro. “Hoje a maioria das empresas atende até 56 ou 58, o que ainda não contempla todo o público, mas já evoluiu muito”, conclui a presidenta.

NOVAS DEMANDAS

“Todo mundo tem o direito de se vestir e escolher uma roupa legal para usar, e não de se preocupar só da roupa servir ou não”, pontua a estilista Isadora Bortolotto, proprietária de uma marca de vestidos de festa que leva seu nome. “Quando as marcas começaram a fazer tamanhos maiores, produziam modelos muitos padronizados. Por exemplo, na minha área: vestido de festa com manguinha para tampar o braço, com a cintura lá em cima, modelos muito simples, só para cumprir protocolo”, comenta.

Esse movimento de empoderamento, por outro lado, tem estimulado o público plus size a ser mais exigente. “E agora esse público-mercado não quer mais que você só faça uma peça de tamanho grande. Ele exige que você faça peças tão bonitas quanto as que se veem em modelos muito magras. Quem usa plus size não tem que andar só de calça jeans e camiseta”, conta Bortolotto. Rocha tem a mesma percepção com a clientela da sua loja, que leva o nome da empresária: “A mulher plus size hoje quer usar cropped, body, shorts curtos, tudo que usa e vende no P/M/G”.

Há quatro anos Graciele Dias é gerente da filial da Big Burg em Londrina, loja especializada em moda a partir do manequim 46. A percepção dela a respeito das mudanças do mercado é a mesma: “no começo tínhamos um perfil mais conservador, e hoje a moda está mais abrangente, inclusive para um público mais jovem e despojado”.

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TRABALHO GRATIFICANTE

“As mulheres grandes ainda têm muito medo de não encontrar seu tamanho. Muitas vezes elas não querem nem ir aos eventos, porque ficam com vergonha, não querem expor o braço ou vestir uma roupa que as façam parecer maiores”, salienta Bortolotto. É diante desse cenário que ela vê o propósito de seu trabalho: “Quando elas me procuram, rola a sensação de ‘poder vestir alguma coisa’. Eu já ouvi de algumas clientes, ‘eu nunca pensei que eu fosse servir em um vestido de festa bonito, que ficasse legal em mim’”.

Lavínia Rocha vê o mesmo sentimento em suas clientes: “eu gosto muto de trabalhar com o mercado plus size. É muito gratificante. Eu tenho clientes que nunca haviam conseguido achar roupa. Quando isso acontece, chegam a chorar no provador. Você não vende só a roupa”. “A moda tem que ser democrática e tem que vestir todo mundo. Apesar de todos os problemas e preconceitos, eu acho que a gente está no caminho certo”, arremata Bortolotto.

PARA PADRONIZAR TAMANHOS FORAM MEDIDAS 10 MIL BRASILEIRAS

Uma roupa tamanho 52 numa loja pode ter o mesmo tamanho de uma 50 em outra, para evitar isso no final de 2021 foram criadas regras de padronização
Uma roupa tamanho 52 numa loja pode ter o mesmo tamanho de uma 50 em outra, para evitar isso no final de 2021 foram criadas regras de padronização | Foto: iStock

Uma calça 52 de uma loja pode ter o mesmo tamanho da 50 em outra. Isso faz com que a grande maioria das pessoas tenha peças de vários tamanhos no armário. Diante disso, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) publicou no final de 2021 a NBR 16933, que padroniza os tamanhos das roupas das mulheres. Como conta a superintendente do Comitê de Têxtil e Vestuário do órgão, Maria Adelina Pereira, foi utilizada a tecnologia do ' body scanner', por meio da qual foram medidos os corpos de quase 10 mil mulheres, possibilitando uma conclusão mais apurada sobre o real tamanho das brasileiras.

“O que a norma preconiza é a vestibilidade, a indicação de medidas para a qual a modelagem foi feita. Ao invés de falar que a roupa é um 44 ,48, é poder falar que é para um quadril de 98cm”. Isso permite uma quebra do estigma em torno do tamanho. A superintendente exemplifica: “a loja poderia transformar isso em uma estratégia de marketing, ter um tamanho rosa, um tamanho margarida. Quando você indica a sua medida, traz as adaptações que a modelista fez em função do tipo do tecido e do modelo”.

Embora a norma seja de aderência voluntária para as empresas, Marcela Pereira defende a sua obrigatoriedade, apontando as vantagens que as confecções poderiam ter com esse novo paradigma: “Facilitaria muito a nossa vida, principalmente pelo crescimento do e-commerce”. Como a norma foi editada em dezembro, ainda é cedo para visualizar os impactos da norma, mas a presidente já observa um otimismo por parte das empresas, citando o seguinte exemplo: “O custo de produção é menor, porque tem menos tentativa e erro”.

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DIFERENÇA DE PREÇO

Por causa de questões como a quantidade de tecido e o reforçamento das peças, frequentemente tamanhos maiores custam mais caro – o que é um dos maiores problemas do mercado plus size.

“Imagina, você vai numa arara de loja de departamento. As camisetas são R$ 50, mas quando você chega no tamanho 50, ela passa para R$ 70. A pessoa não leva. Não é nem pelos vinte reais a mais, mas porque a pessoa se sente enganada, menosprezada”, pontua Marcela Pereira. Contudo, segundo ela, o fator que mais aumenta o preço das peças é a mão-de-obra: profissionais especializados, tempo de trabalho no planejamento e na execução da peça plus size.

Mas isso, na sua visão, não impede a busca por alternativas: “Precisa ser feito um melhor dimensionamento do trabalho, para que se possa cobrar um preço equilibrado entre o maior e o menor tamanho”, pondera. A mesma importância de planejamento é observada por Bortolotto: “É possível. Se você se planejar, trabalhar o plano de corte. As pessoas têm uma trava. Passou de um certo tamanho, já acham que não vai dar certo”. Para Rocha, a tendência é que o próprio mercado force esse movimento: “acredito que, conforme o consumo for aumentando, mais o preço vai abaixar”.

Mulheres que usam 'plus size' querem roupas tão bonitas quanto as que vestem os tamanhos P/M e G
Mulheres que usam 'plus size' querem roupas tão bonitas quanto as que vestem os tamanhos P/M e G | Foto: iStock

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