O empresário João Rapcham, da Indrel, indústria de refrigeração científica: "A aposta é investir em inovação para estar à frente quando a economia retomar o crescimento"
O empresário João Rapcham, da Indrel, indústria de refrigeração científica: "A aposta é investir em inovação para estar à frente quando a economia retomar o crescimento" | Foto: Gustavo Carneiro



O número de indústrias brasileiras que realizaram algum tipo de inovação em produtos ou processos no primeiro trimestre de 2018 alcançou a maior proporção em um ano, e chegou a 45,9%. Os dados são da Sondagem de Inovação da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). O indicador de gastos com inovação subiu de 92,8 para 96,6 pontos do 4º trimestre de 2017 ao primeiro período desse ano depois de seis meses de queda. O indicador é calculado através da diferença entre a proporção de empresas que afirmaram ter aumentado os gastos em inovação e aquelas que mantiveram ou diminuíram, acrescido de 100. Quando o indicador, que varia em uma escala de 0 a 200, se mantém abaixo dos 100 pontos, significa que um maior número de empresas diminuiu ou não realizou investimentos em inovação no período pesquisado. O período de coleta da Sondagem de Inovação é trimestral e ocorre nos dois primeiros meses subsequentes ao trimestre de referência da pesquisa.

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A parcela de empresas pesquisadas que aumentaram os gastos com inovação foi de 11% para 21,6%, maior nível desde o 3º trimestre de 2014 (23,4%), enquanto as indústrias que diminuíram os recursos para inovação passaram de 13,6% para 11,3%, no mesmo período. O percentual de empresas que não fizeram gastos com inovação, no entanto, passou de 4,6% no 4º trimestre de 2017 para 13,7% no 1º trimestre de 2018. Dentre as empresas pesquisadas, 54,1% pretendem inovar no segundo trimestre de 2018, um aumento de 3,5 pontos percentuais em relação ao período anterior. Este é o melhor resultado desde o 2º trimestre de 2015, que teve perspectiva de inovação de 56% das indústrias.

Este otimismo, porém, pode ser afetado pela greve dos caminhoneiros, deflagrada após a realização da Sondagem de Inovação, avalia a ABDI. A paralisação provocou recuo de 3,34% na atividade econômica de maio, em comparação com abril, segundo dados do Banco Central.

Para a ABDI, o aumento da proporção de empresas que inovam, tem como uma de suas causas prováveis a melhoria da qualificação dos profissionais de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Houve um crescimento proporcional de indústrias com mestres, de 50,6% para 58,2%, e doutores, de 27,6% para 30,4%, no 1º trimestre de 2018 em relação ao 3º trimestre de 2017. As empresas que afirmam possuir mais de sete profissionais com pós-graduação dedicados à inovação chegaram a 29,3%, o maior nível da série iniciada em 2010.

Imagem ilustrativa da imagem Proporção de indústrias que inovam atinge maior nível em um ano



AMBIENTE PROPÍCIO
Na visão do vice-presidente da Fiep (Federação da Indústria do Estado do Paraná), Ary Sudan, o investimento em inovação é uma maneira de aumentar a produtividade e reduzir custos, essencial nesse momento que segue um período de crise. "A crise, em um primeiro momento, nocauteou as indústrias, e levou à paralisação geral. No passo seguinte, para sobreviver, a indústria tem que tomar a iniciativa e aumentar a produção e buscar o barateamento de custos. Vivemos hoje em um mundo em que se fala de inovação o tempo inteiro. O ambiente hoje é muito propício para as empresas inovarem, elas são estimuladas todos os dias. Sindicatos, federação, Sebrae falam sempre a mesma coisa. Há o desejo e há o estímulo (para inovar)."

Sudan afirma que as indústrias estão retomando sua capacidade de investimento após a greve que impactou o setor produtivo. "O ano começou com muito entusiasmo, mas a economia declinou e culminou na greve. Mas parece que as indústrias estão se levantando." A perspectiva é boa, mas o governo precisa tomar providências, promovendo as reformas tributária e previdenciária, bem como a desburocratização.

INVESTIMENTO
A indústria de refrigeração científica Indrel, de Londrina, continua investindo em inovação de produtos. "A aposta é investir em inovação para estar à frente quando a economia retomar o crescimento", explica João Rapcham, presidente da empresa. A companhia investe em refrigeradores conectados, que podem ser monitorados e geram relatórios de atividade. O investimento em Pesquisa e Desenvolvimento cresce ano a ano, afirma Rapcham. Também cresce o número de engenheiros com títulos de mestres e doutores e a qualificação desses profissionais através de treinamentos e visitas a eventos, ele completa.

Já na Apetitoso Alimentos, a inovação está "parada" por falta de capacidade de investimento, relata Wanderley Napoli. "A inovação está meio parada. O problema é ter capital para investimento. Para tudo o que se vai fazer de novo tem que ter capital. Ideias temos muitas." O industrial queixa-se dos impostos, e por esse motivo pensa em levar sua produção para o Paraguai, que tem uma lei, chamada de Maquila, que prevê a isenção de impostos para empresas estrangeiras. "Se eu fabricar lá e colocar distribuição em Londrina, chega 30% mais barato." O empresário afirma que quase 50% do preço de um de seus produtos (um pé de moça) é composto por impostos.

PRIORIDADES
Os investimentos em inovação ficaram em quarto lugar na prioridade das empresas para aumento de produtividade, com 41,4% das indicações, de acordo com os dados da ABDI. Dentre as 79 empresas que acreditam que investimentos em inovação podem aumentar a produtividade nos próximos anos, 30,7% pertencem a segmentos com sistema produtivo ligado à transformação da estrutura produtiva – que em média tem uma tendência em inovar mais produtos do que os demais – 25,7% Intensivos em escala, 25% Intensivos em trabalho e 18,6% relacionado ao Agronegócio.

Para elevar o nível de produtividade nos próximos anos, a maior parte das empresas avaliam que investir em equipamentos e instalações (64,2%) e na melhoria dos métodos de gestão (63%) são esforços que devem ser considerados. A qualificação da mão de obra foi outro item mencionado por mais da metade das empresas (51,5%).