Na última semana antes da Páscoa, celebrada neste domingo (20), as confeitarias artesanais trabalham em ritmo acelerado para entregar as encomendas e produzir itens a pronta-entrega para atender os consumidores que não se programaram para a data.

Apesar da apreensão causada pela alta significativa dos insumos, especialmente do chocolate, os microempreendedores do setor não têm do que reclamar. Muitos deles encerraram mais cedo os pedidos por terem atingido antes do prazo previsto a capacidade de produção.

Desde 2023, o preço do cacau quase triplicou. Os efeitos das mudanças climáticas nos principais países produtores, como Costa do Marfim e Gana, na África, reduziram a oferta global do produto e o resultado foi a alta de 180% na commodity.

Essa alta teve reflexo no preço do chocolate, que neste ano aumentou cerca de 19%, em média, o maior reajuste observado em um período de 13 anos, segundo estimativa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Imagem ilustrativa da imagem Páscoa: mesmo com insumos caros, produção artesanal está acelerada
| Foto: Roberto Custodio

Os efeitos desses aumentos puderam ser percebidos pelos consumidores que, nesta Páscoa, viram os preços dos ovos nos supermercados subirem quase 10% em relação a 2024.

Nesse cenário, os produtos artesanais surgem como uma alternativa aos consumidores que buscam melhor custo-benefício sem abrir mão da qualidade. E as confeitarias locais trabalham duro nestes últimos dias para não deixar nenhum cliente na mão.

Mesmo tendo que driblar uma alta bem acima do índice calculado pela CNC, as cozinhas das microempresas não param.

Cynthia Carraro, da Cynthia Carraro Confeitaria Artesanal, ficou preocupada quando viu o preço do quilo do chocolate dobrar neste ano, na comparação com 2024. Além do principal insumo utilizado para as produções de Páscoa, outros produtos também sofreram alta, como as embalagens, que chegaram a subir 10%.

“A gente ficou um pouco assustada, achou que não ia ter Páscoa porque o quilo do chocolate teve uma alta muito grande, mas deu para balancear um pouco e o pessoal viu que não foram só as confeitarias artesanais que aumentaram os preços. Está dando tudo certo”, disse a confeiteira.

Poucos dias antes da Páscoa, Carraro viu as encomendas crescerem e na sua cozinha a produção está a todo vapor. A maior parte dos pedidos é de ovos de chocolate. Os trios de ovos de colher e os ovos recheados são os itens do cardápio com maior saída.

Na Marquesa Doces, a solução encontrada para contornar os aumentos dos insumos foi absorver parte dessa diferença, repassando apenas uma fração dela aos clientes.

Segundo a proprietária, Andreia Cavalheiro, o preço do chocolate foi o que gerou mais impacto, mas as castanhas também registraram um reajuste considerável, especialmente o pistache.

Ainda assim, contou Cavalheiro, foi possível chegar a valores abaixo dos padrões de mercado para ovos artesanais e os consumidores não deixaram de comprar.

Neste ano, o movimento aumentou na comparação com o mesmo período do ano anterior, embora a confeiteira atribua esse crescimento mais ao trabalho de divulgação nas mídias sociais do que a qualquer outro fator.

“Geralmente, na semana da Páscoa, a gente ainda pega encomendas, mas desta vez, os pedidos foram encerrados antes. A procura foi muito grande”, disse Cavalheiro.

Os ovos de chocolate feitos apenas sob encomenda são a grande atração e os preços, bastante convidativos. Os ovos de 500 gramas com recheio de cookies and cream com creme de avelãs e os de pistache são os itens mais caros do cardápio e custam R$ 115. Mas há opções para todos os bolsos, como um pote de dadinhos de palha italiana, por R$ 35.

Entre os doces para pronta-entrega, que podem atender os clientes que deixaram para a última hora, estão brownies, brigadeiros e palha italiana.

Na Thay Honorato Confeitaria Artesanal, as lembrancinhas que levam chocolate no preparo, como tabletes e cones trufados, são as mais pedidas nesta Páscoa e entre os clientes que não abrem mão dos ovos de chocolate, a preferência foi pelos tamanhos menores.

Ao se deparar com o aumento dos custos dos insumos, Thayane Honorato se viu diante de um desafio. Ela calculou e recalculou preços e a saída foi apresentar aos clientes um cardápio mais democrático, oferecendo a eles a oportunidade de optar pelo tipo de chocolate utilizado no preparo: o fracionado, que tem qualidade inferior, mas preço mais em conta, ou o nobre, de maior qualidade e preço mais elevado.

A estratégia funcionou. A procura nesta última semana aumentou bastante e a confeiteira apertou o ritmo da produção para atender a todas as encomendas. “Boa parte das pessoas faz questão de presentear nesta época e acaba gastando, mesmo com a alta dos valores. Aqui, o ticket médio neste ano é de R$ 100”, revelou a confeiteira.

ECONOMIA SOLIDÁRIA

No Centro Público de Economia Solidária, conhecido por oferecer uma diversidade de produtos a preços mais acessíveis, a capacidade de produção chegou ao limite e as encomendas foram encerradas.

O grande sucesso desta Páscoa, os ovos trufados de 600 gramas a R$ 49 e os de 700 gramas a R$ 64, não estão mais disponíveis. Mas ainda podem ser encontradas lembrancinhas, como bombons e pães de mel, por exemplo. Há itens a partir de R$ 10.

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| Foto: Roberto Custodio

“Tivemos muitas encomendas de ovos trufados, caixas de bombom, mini-ovos, cenourinhas e barrinhas recheadas. As vendas foram muito boas”, comemorou Marilza da Silva Serantola, que calcula entre R$ 200 e R$ 300 o ticket médio por cliente.

O Centro de Economia Solidária estará fechado nesta sexta-feira (18), mas no sábado irá funcionar das 9 às 13 horas. O endereço é avenida Rio de Janeiro, 1278, na esquina com a avenida Juscelino Kubitschek.

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