O isolamento social como medida de prevenção ao coronavírus restringiu o turismo. Com menos gente nas ruas, as corridas dos motoristas de aplicativo também caíram. Aqueles que usavam carro alugado, seja para lazer ou trabalho, não tiveram alternativa senão devolvê-lo, e aqueles que pensavam em utilizar o serviço deixaram para depois. Assim, as locadoras de automóveis se viram com uma demanda abaixo do esperado, e foram obrigadas a tomar medidas como venda de carros, promoções e renegociação de dívidas.

Imagem ilustrativa da imagem Locadoras de veículos veem demanda cair com pandemia

Os problemas são tão grandes que locadoras de veículos já procuram estacionamentos particulares para guardar os veículos devolvidos. “Não temos como aferir números de faturamento ou de carros devolvidos, mas sabemos de locadoras que estavam procurando pátio para estacionar os veículos parados pois nunca se imaginou tamanho problema tão rápido”, diz Michel Lima, presidente do Sindiloc-PR (Sindicato das Empresas Locadoras de Veículos Automotores, Equipamentos e Bens Móveis do Estado do Paraná).

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O tamanho das dificuldades pelas quais as locadoras estão sofrendo varia de acordo com o nicho de mercado em que atuam. As que trabalham com o rent a car (diárias) em aeroportos foram as que mais sofreram, com queda de cerca de 95% nas atividades devido à suspensão das viagens de negócio e de turismo e, consequentemente, dos voos, afirma Lima. “Com a suspensão das viagens de negócio (substituídas pelas videoconferências), e o fechamento dos hotéis e pousadas as viagens turísticas, a demanda de veículos locados para estas finalidades acabou.”

Ele estima ainda que as locadoras que trabalham com foco na locação para motoristas de aplicativos tenham amargado uma queda inicial de até 90% nos negócios. “O motorista de aplicativo paga por semana pelo veículo locado. Se ele percebe queda no movimento que não justifica a locação ele devolve imediatamente.”

As locadoras de veículos que trabalham com terceirização de frota não sentiram muito os impactos da Covid-19 em um primeiro momento, já que os contratos nesse segmento do mercado são de longo prazo, normalmente acima de 12 meses, diz o presidente. “Porém, os clientes de terceirização agora começam a sentir os problemas na queda da economia e estão demitindo funcionários e reduzindo o tamanho de suas operações com consequente redução da necessidade de veículos. Assim, também começam a devolver veículos que estão ociosos.”

Com a ociosidade nos serviços públicos e o deslocamento dos recursos para a saúde, a locação de veículos para órgãos públicos também começa a cair.

A locadora de carros Brascar, de Londrina viu a locação de veículos eventual - para turismo, eventos, trabalho, uso no dia a dia, etc - cair 100%, afirma a sócia Luísa Schultz. “Nas três semanas que ficou parado o comércio, tivemos redução de 100%.” Na terceirização de frota de veículos para empresas, que representa cerca de 60% do negócio, a queda foi de 50% graças ao setor do agronegócio, que não parou. “Muitas empresas devolveram os veículos por estarem fechadas.”

Para diminuir o impacto da redução de demanda, a locadora teve de vender três a quatro carros do total da frota de 60. “Fizemos vendas de carro para fazer caixa. Para não precisar dispensar ninguém fizemos renegociação nos bancos, pedimos prazo para pagamento do financiamento, pedimos prorrogação das últimas parcelas, carência de 60 dias.”

A RenaCar, de Londrina, viu as locações de veículos para motoristas de aplicativos cair quase 80%. “Talvez em Londrina a situação não seja tão grave quanto nos grandes centros, mas tivemos também um volume de devolução de veículos principalmente de aplicativos muito grande. Não só de aplicativos, mas também de pessoas, profissionais que alugavam mensalmente, e mesmo de frotistas”, conta Assad Jannani, proprietário da locadora.

As medidas para enfrentamento da crise vêm de antes da pandemia, com redução do endividamento e da frota de veículos em cerca de 40% para diminuir a ociosidade, conta Jannani. Atualmente, a ocupação da frota de 60 veículos da empresa é de 75%. “A política seria promover a venda dessa frota ociosa e aguardar uma reação que a gente imagina que virá no pós-pandemia, mas não há um horizonte claro de quando a gente vai começar o retorno àquilo que seria uma normalidade.”

Na locadora de Ricardo Calixto, a Via Sul, a queda nas locações chega a 40%, principalmente no rent a car, devido à redução do turismo. A ocupação da frota de veículos, que costumava beirar os 90%, hoje é de 60%. Para superar esse período, a locadora está fazendo promoções com redução do preço da locação com seguro incluso. “Também não estamos comprando carros e tirando veículos para venda, mas a venda é baixa no momento.” A empresa também teve que dispensar dois funcionários. Para Calixto, a situação das locadoras foi ainda mais difícil porque a sua atividade não foi considerada essencial desde o início da pandemia. Por um período, o estabelecimento precisou funcionar em sistema de delivery.

Segundo a Localiza, o segmento de gestão de frotas ainda se mostra “resiliente”, superando ligeiramente as taxas de utilização dos primeiros meses do ano. Em abril, a taxa chegou a 97%, com uma frota média alugada de 59.055 carros. Já a taxa de utilização do segmento de aluguel foi mais baixa. “O segmento de aluguel, que possui produtos e serviços diversificados, atingiu cerca de 53% de taxa de utilização em abril, com frota média alugada de 105.257 carros, e já vem conseguindo gradualmente recompor preços melhorando a tarifa média praticada”, diz nota enviada pela assessoria de imprensa.

Perspectiva para o setor é ruim, diz presidente do Sindiloc-PR

A perspectiva para o setor não é animadora, já que as montadoras já anunciaram aumento no preço de venda dos veículos e as taxas de juros para financiamento de veículos subiram por causa do aumento do risco de inadimplência, pondera o presidente do Sindiloc-PR, Michel Lima. “Portanto, as locadoras terão aumento no custo de aquisição da frota nova o que deverá de alguma forma ser repassado aos preços de locação num mercado em recessão."

A queda na arrecadação e no faturamento das empresas também poderá fazer com que as locadoras de veículos comecem a enfrentar problemas de inadimplência, acrescenta Lima, o que atrapalha o fluxo de caixa das empresas e gera reflexos negativos para toda a cadeia. “Locadoras de veículos trabalham fortemente alavancadas, com financiamentos bancários para aquisição dos veículos. Atrasos no recebimento dos clientes atrapalha o fluxo de caixa e prejudica o pagamento dos bancos e fornecedores. Veículos são máquinas que dependem de manutenção constante e uma enorme rede de fornecedores gira em torno do setor: lataria/pintura, mecânica, pneus e suspensão, etc. A falta de pagamento pontual atrapalha todo o ecossistema.”

No Paraná, há 135 locadoras de veículos filiadas ao Sindiloc-PR, mas o presidente do sindicato estima que no Estado exista em torno de 235. A frota de veículos das locadoras é estimada em 70 mil emplacadas no Estado, que não necessariamente rodam dentro do território paranaense.

Para sobreviverem à pandemia, o Sindiloc-PR tem têm orientado seus filiados a negociar com os fornecedores antes de entrar em inadimplência, pedir postergação do pagamento de parcelas de financiamento dos meses de abril a junho, e vender veículos que estão parados e não estão financiados para fazer caixa.

O sindicato também tem orientado as locadoras a fazer uso da possibilidade de suspensão de contrato e/ou redução de jornada e salário trazida pela MP 936/2020. “Também estamos constantemente em contato com as autoridades públicas para resolver eventuais problemas como o fechamento de locadoras por decretos municipais, o que impede o atendimento de clientes, muitos deles órgãos públicos que alugam veículos para guarda municipal, ambulâncias para hospitais, defesa civil, empresas de água/saneamento e energia, entre tantos outras atividades que demandam nossos veículos”, acrescenta Lima.