Imagem ilustrativa da imagem Inflação fecha ano em 4,52%, acima do centro da meta, aponta IBGE
| Foto: Gustavo Carneiro

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechou dezembro com alta de 1,35% e encerrou o ano de 2020 em 4,52%, acima do centro da meta da inflação para o ano, de 4%. Segundo o IBGE, foi a maior alta desde 2016, quando o índice registrou crescimento de 6,29%. O indicador de dezembro, por sua vez, teve o maior crescimento desde fevereiro de 2013, quando registrou aumento de 1,57%.

O resultado de 2020, porém, ficou dentro do intervalo de tolerância. O índice poderia oscilar entre 3,5% e 5,5%, com o centro estipulado em 4%, sem que a meta seja descumprida.

A meta da inflação é fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). O Banco Central reduz ou eleva a Selic, a taxa básica de juros da economia, para alcançá-la.

A alta de 14,09% nos preços dos alimentos e bebidas, impulsionada pela pandemia, que gerou forte demanda por esses produtos, além da alta do dólar e dos valores das commodities no mercado internacional, foi o que mais pesou. O crescimento é o maior no setor desde 2002 (19,47%).

Entre os alimentos que mais aumentaram os preços, o óleo de soja (103,79%) e o arroz (76,01%) estão entre os que mais dispararam, assim como o leite longa vida (26,93%), as frutas (25,40%), as carnes (17,97%), a batata-inglesa (67,27%) e o tomate (52,76%).

O economista Marcos Rambalducci ressalta que os números da inflação do ano passado trouxeram um comprometimento muito maior na renda das classes mais baixas, já que esta alta atingiu em cheio os alimentos, principalmente os que compõem a cesta básica.

"Em Londrina, a cesta básica subiu 26% em 2020, justamente porque o impacto foi maior nos alimentos que integram a cesta como carne, arroz, feijão, óleo de soja. Todos os 13 produtos que compõem a cesta básica tiveram forte aumento", frisou o colunista da FOLHA e professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

Rambalducci lembra que dois fatores foram decisivos para que a inflação fechasse acima do centro da meta no ano passado. A desvalorização do real frente ao dólar, que favoreceu a exportação de soja, milho e carne e ainda encareceu o custo da produção com o aumento do valor de produtos importados. E também o auxílio emergencial do governo federal que culminou no aumento do consumo, sobretudo de produtos alimentícios.

"Foi um auxílio extremamente necessário e que colocou dinheiro na mão de pessoas que potencialmente não eram consumidores ativos e isso pressionou a oferta, causando o aumento dos preços. A inflação tirou do assalariado em 2020 o equivalente a 87% de um salário mínimo. É muito impactante".

Impacto que o consumidor sente no dia a dia. A dona de casa Janice Camargo, 56 anos, revela que mudou o cardápio da família, em razão da alta excessiva no valorda carne. "Diminuímos o consumo da carne, estamos priorizando os cortes mais baratos e aquele churrasco do fim de semana tá cada vez mais raro", afirmou.

Para o autônomo Geraldo Souza, a inflação oficial não representa a realidade já que os preços estão mais altos a cada dia. "Você vem no mercado e toda semana tem preço diferente e tudo sobe. Você compra cada vez menos coisas com o mesmo dinheiro".

A notícia boa é que a inflação não deve ter o mesmo apetite em 2021. "Os dois principais responsáveis pela alta no ano passado não estão presentes agora e a tendência é que a inflação tenha uma curva de queda neste ano", aponta Rambalducci. (Com Folhapress)