Com dois terços do quadro de funcionários em seus postos de trabalho usando máscaras, a manhã desta quarta-feira (15) foi de retomada do ritmo de atividades em uma indústria londrinense de equipamentos para cozinhas profissionais. Em todo o Paraná, só no setor metalmecânico, são pelo menos 400 empresas que empregam cerca de 15 mil trabalhadores e puderam fazer o mesmo, segundo dados do Sindimetal Norte (Sindicato das Indústrias, Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos do Norte do Paraná). Nesta semana, também, o Observatório Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) divulgou uma análise que aponta para um lento e gradual cenário de recuperação econômica nos meses de maio e junho no setor.

Empresa de Londrina retomou com dois terços do quadro de funcionários
Empresa de Londrina retomou com dois terços do quadro de funcionários | Foto: Vitor Struck

Na indústria de equipamentos para cozinhas de grandes restaurantes que atua há 41 anos, uma cena nada agradável remontou a períodos de graves crises econômicas que ninguém gosta de lembrar: o pátio com os produtos que já deveriam ter sido entregues aos clientes do estado de São Paulo e cujas vendas foram canceladas após a decretação do isolamento social. A preocupação com a saúde financeira da empresa é grande por parte do empresário Valter Orsi, que projeta nos próximos meses de queda na atividade econômica uma provável redução no time de funcionários formado atualmente por 42 pessoas, além de outras medidas para reduzir custos e não perder a produtividade. "Não consigo avaliar as expectativas de futuro, é mundial", disse em alusão à "quarentena econômica" trazida com a Covid-19 que atinge em cheio as empresas de várias formas, seja na queda de demanda ou até na interrupção da cadeia internacional de matéria-prima.

Para não perder produtividade que demandava cerca de 15 toneladas de aço inox por mês de dois grandes fornecedores mesmo em meio a um cenário econômico já "nebuloso", os 18 dias úteis "parados" na sede da empresa foram dedicados, também, ao desenvolvimento dos projetos e produtos que estavam "na gaveta", programados para serem lançados somente em 2021.

De acordo com o gerente de desenvolvimento de produtos, Fábio Wilker, a equipe aproveitou o período para projetar um molde que deve facilitar a montagem dos produtos e aumentar a produtividade. "Conseguimos adiantar. Mesmo nesse momento a empresa fez um investimento e, agora, a expectativa é que semana que vem ele estará aqui para termos capacidade de aumentar a produção", explicou.

Com isso, a expectativa é acelerar, também, o lançamento de novos produtos, o que será feito com o olhar voltado ao novo cenário no setor de restaurantes trazido com o isolamento social. De acordo com um estudo elaborado pelo Grupo de Pesquisa Insumo-Produto e Economia Regional do Departamento de Economia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), o setor de alimentação do Paraná deverá apresentar queda de mais de 5% na sua produção nos próximos 12 meses. Com isso, para se evitar perdas ainda maiores, o foco na agilidade e no delivery também exigirá novos equipamentos. "Focamos nos produtos que vão acelerar a fabricação de alimentos, dentro do processo do restaurante. As cozinhas vão ter que se adaptar às novas formas de trabalho, o mercado vai se adaptar e estamos trabalhando com produtos para esse segmento", explicou.

Na mesma direção, a Fiep aponta a adoção de novas tecnologias, a transformação dos modelos de negócio e um aumento de transações de comércio e serviços a distância como parte do legado da pandemia no interior das empresas. Já para o cenário macroeconômico, o estudo aponta o desenvolvimento de cadeias globais de valor mais fragmentadas, assim como o surgimento de novos pólos de negócios.

Questionado quais as principais lições empresariais o período trouxe, Orsi elencou a urgência de se reinventar profissionalmente em todos os sentidos. "Você tem que ter um processo diferente, um relacionamento com seu cliente diferente", avaliou.

Empresários avaliam que este será o  "pior" cenário e falam em reinvenção dos processos de trabalho
Empresários avaliam que este será o "pior" cenário e falam em reinvenção dos processos de trabalho | Foto: Vitor Struck

Já na construção civil, só na Região Metropolitana de Londrina, cerca de 10 mil trabalhadores devem retomar a construção de empreendimentos nos canteiros de obras. De acordo com o Sinduscon Norte (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná), pelo menos 800 construtoras da cidade voltarão à ativa de forma gradual.

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