A guerra entre Rússia e Ucrânia já está afetando o mercado de fertilizantes. Em apenas uma semana, foram registrados aumentos de até 5,8% nos preços das principais matérias-primas fontes de nitrogênio, fósforo e potássio, segundo dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).

Produtos como a ureia, cloreto de potássio e fosfato monoamônico valorizaram 5,8%, 0,5% e 1,1%, respectivamente, em comparação ao preço da semana anterior no posto localizado no Porto de Paranaguá.

“O movimento de alta desses fertilizantes nos portos internacionais segue o mesmo movimento”, analisa Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR.

Ela acrescenta que os preços dos fertilizantes, que já estavam elevados, devem aumentar ainda mais a partir de agora.

“Antes da deflagração da guerra, a tendência era de preços mais estáveis a partir do segundo semestre e um recuo das cotações no mercado internacional. Agora o movimento é inverso, de alta nos preços e preocupação com a oferta interna após o plantio de verão”, pontuou.

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| Foto: Divulgação

PREOCUPAÇÃO

O operador de máquinas agrícolas Florisvaldo de Oliveira trabalha em propriedades que cultivam soja e milho no Paraná. A preocupação dele com o aumento nos custos de produção puxado pelos fertilizantes é imensa.

“Já está muito caro para produzir e certamente vai elevar o valor. Isso vai aumentar ainda mais o custo de produção, uma realidade dura para os agricultores”, projeta.

Hoje, Florisvaldo calcula que o fertilizante representa 12% dos custos de produção da soja e entre 15% e 18% dos custos para produzir milho. “Por ano, utilizamos 300 toneladas de fertilizantes nessas duas culturas”, destacou.

Segundo ele, o custo com os fertilizantes para o plantio de milho registrou um salto de aproximadamente 140% - em agosto a tonelada do adubo custava ao menos R$ 2,7 mil e atualmente já está custando a partir de R$ 6,5 mil.

A área da qual Florisvaldo ajuda a cuidar é imensa: ao todo, são 500 hectares de soja e 500 hectares de milho, distribuídos em quatro propriedades localizadas nos municípios de ngulo, Iguaraçu, Maringá e Mandaguaçu.

DESABASTECIMENTO

Apesar das altas sucessivas, não há sinais de desabastecimento de fertilizantes para o Brasil neste momento. Dados levantados pelo Ministério da Agricultura junto às indústrias dão conta que os estoques no mercado interno são suficientes para o próximo plantio de verão.

“O grande problema está na elevação de preços ao produtor, que vem absorvendo forte elevação no custo de produção de todas as culturas, vê a participação dos fertilizantes neste custo aumentar e tem de lidar também com perdas climáticas da safra, especialmente no Paraná, que fazem com que a colheita não seja suficiente sequer para custear esses insumos adquiridos”, destaca.

No ano passado, 22% das importações de fertilizantes do Brasil vieram da Rússia, seguida da China, com 15%, e Canadá, com 10%. “Uma preocupação adicional é o movimento da China em garantir abastecimento e estabilizar as cotações em seu mercado interno, que também é grande consumidor de fertilizantes, restringindo assim as exportações de excedentes para outros países.”

A técnica explica que o governo brasileiro tem buscado diplomaticamente ampliar esses canais de fornecimento com visitas ao Canadá, Irã, à própria Rússia (ainda em 2021) e em interlocução com o Marrocos.

“O grande problema é que o rol de países que produzem e exportam fertilizantes é limitado, pois depende de jazidas minerais ricas em cada matéria-prima. Dessa forma, os demais países dependentes de importação também estão buscando garantir fornecimento.”

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| Foto: Claudio Neves/AEN

EMBARGOS

O presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Antônio Sampaio, considera que um conflito com essas características pode vir a causar transtornos no abastecimento de fertilizantes do Brasil.

“Não se trata da Rússia interromper as vendas, mas sim haver problemas relativos aos embargos impostos àquele país, além de problemas de logística que possam acontecer um uma região atingida pela guerra”, destacou.

Ele acrescenta que o preço dos fertilizantes pode aumentar por conta desse clima de instabilidade. “Uma guerra naquela região é certamente um bom motivo para mexer com as cotações, o mercado é muito sensível a esses tipos de situação”, afirmou.

No entanto, Sampaio considera ainda ser muito cedo para qualquer atitude por parte do produtor, já que essa situação é ainda muito recente e indefinida. “Pânico só piora a situação. É preciso ter calma e aguardar o desenrolar dos fatos.”

O presidente da SRP sugere que os produtores rurais acompanhem a evolução dos acontecimentos com tranquilidade. “Só depois dos fatos se tornarem mais claramente caracterizados devem ser traçadas estratégias para o enfrentamento do problema, caso se apresente”, conclui.

ESTOQUE

Por meio de nota, a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) reforça que é prematuro avaliar em profundidade os possíveis impactos da guerra ao agronegócio brasileiro. A entidade esclarece que o Brasil possui atualmente estoque de fertilizantes para os próximos três meses, de acordo com dados de agentes de mercado.

“Destaca-se que o volume atual encontra-se acima da média dos anos anteriores. O Brasil importa cerca de nove milhões de toneladas por ano de insumos para fertilizantes do Leste Europeu, ou seja, em torno de 25% de tudo o que compramos do exterior”, informou.

A entidade afirma seguir atenta ao fornecimento de cloreto de potássio, pois mais de dois milhões de toneladas já estavam comprometidas com as sanções anteriores à Bielorrússia. “E a atenção justifica-se, dado que três milhões de toneladas de cloreto de potássio têm como origem a Rússia.”

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NITROGENADOS

Outro ponto de atenção destacado pela Anda refere-se aos fertilizantes nitrogenados, em especial o nitrato de amônio, porque o Brasil importa volume expressivo da Rússia. “Com relação aos fosfatados, a dependência do Leste Europeu é menor, o que atenua os impactos de abastecimento para a safra atual.”

Mais uma questão acompanhada com cautela pela entidade é a logística marítima, por conta das restrições que inibem temporariamente o fluxo de

navios à região do conflito, acarretando dificuldades para transportar os insumos, como o registrado nas operações no Mar Negro. “Nesse sentido, o mercado está buscando soluções para cenários como os que estamos enfrentando”, conclui.

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