CMTU não tem previsão de novos valores, mas considerando o preço do  diesel, há risco de um reajuste expressivo
CMTU não tem previsão de novos valores, mas considerando o preço do diesel, há risco de um reajuste expressivo | Foto: Roberto Custódio

O índice inflacionário em aceleração e as sucessivas altas nos preços dos combustíveis e de outros insumos elevam os custos de operação do sistema de transporte público e os londrinenses devem esperar um reajuste expressivo na tarifa neste ano. A CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), que regulamenta o serviço em Londrina, ainda não tem uma previsão de quanto será o reajuste, mas um estudo feito pelo economista Marcos Rambalducci, professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e colunista da FOLHA, aponta que considerando apenas o valor atual do diesel, a alta seria de quase 10%.

O preço do diesel representa 25% do custo do transporte coletivo urbano e, em 2021, o combustível subiu 38,76%, segundo o economista. “Se ficasse congelado e considerando somente a elevação do diesel, haveria a necessidade de reajustar a passagem do ônibus em 9,7%”, calculou. Dos atuais R$ 4,25, a tarifa aumentaria em R$ 0,41, chegando a R$ 4,66 ou R$ 4,70, em um valor arredondado. A tarifa do transporte público em Londrina está congelada há dois anos.

A série de aumentos realizados pela Petrobras em suas refinarias ocasionou a alta dos combustíveis. No acumulado do ano até o final de agosto, a Petrobras subiu o preço do diesel em cerca de 40% nas refinarias, segundo levantamento da Paranapetro, entidade que representa a revenda de combustíveis no Paraná. Foram sete reajustes no total, mas nem todas as altas foram repassadas para os consumidores.

Leia também: Cidades da região de Londrina têm a gasolina mais cara do Paraná

Mas o diesel é apenas uma das variáveis que compõem o preço da tarifa do transporte. Considerando-se todas as outras e mais a redução de passageiros por conta da pandemia, o valor da nova tarifa seria ainda maior. “Haveria a necessidade de calcular o prejuízo total e diluí-lo no preço da passagem. Além disso, 55% dos demais custos são com salários. Esses também terão impacto significativo no momento do reajuste”, destacou o economista.

Segundo a CMTU, a queda no fluxo de passageiros foi entre 50% e 80% desde o início da pandemia. Os estudos para o cálculo da nova tarifa são feitos no final do ano, pela média anual.

A companhia estuda a possibilidade de concessão de subsídio às empresas que operam o serviço no município, mas esse estudo ainda está em andamento.

A reportagem entrou em contato com as assessorias de imprensa da Londrisul e da TCGL (Transportes Coletivos Grande Londrina), mas elas não retornaram. As empresas devem pressionar a prefeitura por um reajuste expressivo. No ano passado, por conta da queda no volume de passageiros provocada pela pandemia, a TCGL chegou a pedir à prefeitura um ressarcimento de R$ 4,5 milhões pelas perdas e, em outubro, a empresa informou que teria sofrido um prejuízo da ordem de R$ 12 milhões no ano.

O presidente do Sinttrol (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Londrina), José Faleiros, vê com preocupação a alta dos combustíveis que, de acordo com ele, interfere diretamente nas negociações salariais. “Atrapalha o equilíbrio, quanto mais reajuste tem nos combustíveis e insumos da manutenção do transporte, mais encarece o sistema que já está com baixa demanda”, disse. “Aqui, segundo os estudos que vieram na mesa de negociação (salarial), o impacto dos aumentos deveria elevar a tarifa para mais de R$ 9. Não tem como sair de R$ 4 para R$ 9. Se o passageiro já está fugindo do sistema com o atual valor, imagina com essa alta.”

A inviabilidade do sistema, ressaltou Faleiros, coloca em risco os postos de trabalho da categoria. Dados do Sinttrol apontam que, entre março de 2020 e setembro de 2021, foram fechados 700 postos de trabalho no transporte coletivo em Londrina. As contratações recomeçaram nos últimos meses, com a recuperação de cerca de 50 vagas em uma das companhias de transporte, mas há o receio de que a alta nos custos do sistema volte a atingir os trabalhadores. “O aumento do combustível afeta a todos, a categoria e o usuário”, disse o sindicalista.

Prefeita de Ponta Grossa descarta reajuste de 94%

Em Ponta Grossa (Campos Gerais), um estudo apontou que a tarifa poderia chegar a R$ 8,35 com o reajuste, um aumento de 94,2% sobre o valor em vigor, de R$ 4,30. No entanto, por meio da sua assessoria de imprensa, a prefeita Elizabeth Schmidt afirmou não haver “a menor possibilidade de se chegar a esse valor”. “Precisamos entender que se trata de uma indicação técnica, baseada nos meses mais agudos da pandemia. O quadro hoje está bem diferente”, disse a prefeita. “Uma tarifa nesse patamar (R$ 8,35) tornaria o sistema inviável. Não haveria suporte econômico para manter o sistema de ônibus.”

O cálculo que chegou ao percentual de 94,2% considerou a redução do número de passageiros em quase 50%, gerando um grande impacto no custo do sistema. Mas Schmidt adiantou que o retorno dos passageiros ao sistema integrado leva a uma redução no custo. O valor de um possível reajuste ainda será avaliado pela prefeitura após análise do Conselho Municipal do Transporte.

Uma forma de reduzir os impactos de algumas variáveis no preço final da tarifa, como os custos de manutenção dos veículos e os salários dos profissionais do transporte público, disse a prefeita, seria a redução das gratuidades. “Durante muito tempo foram criadas essas ‘gratuidades’ como ação humanitária ou política. Mas esqueceram de apontar ou calcular que isso teria forte impacto na tarifa que todos os usuários pagam. Em outros casos, como no custo de pneus e combustíveis, há uma inflação acumulada que elevou todos esses preços.”

A prefeita disse que o município busca formas de reduzir os impactos da alta dos custos e da redução dos passageiros e uma solução seria racionalizar trajetos e horários para que os ônibus não circulem vazios. Schmidt disse ainda que a prefeitura criou uma comissão encarregada de avaliar o melhor modelo do sistema. Uma preparação para o processo licitatório que começará em 2022. “Queremos um sistema que seja eficiente, confiável e sustentável. E, obviamente, acessível.”

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.