Motorista de aplicativos de caronas pagas há mais de três anos e meio, o londrinense Ender Thomas de Oliveira, 43, decidiu adotar algumas estratégias em sua rotina de trabalho para tentar obter o mesmo rendimento de antes. Entretanto, ele conta que não está sendo fácil driblar a alta no preço dos combustíveis, de 51% somente neste ano, no caso da gasolina.

Imagem ilustrativa da imagem Cidades da região de Londrina têm a gasolina mais cara do Paraná
| Foto: Gustavo Carneiro

O drama de Oliveira aumenta porque, de acordo com um levantamento feito em 22 municípios entre os dias 22 e 28 de agosto pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a gasolina encontrada no Norte do Paraná tem os maiores preços do Estado. O levantamento apontou que o preço médio mais elevado foi praticado em Apucarana, R$ 6,16. Em seguida, aparecem Arapongas, Londrina, Cambé, Paranavaí, Cornélio Procópio e Maringá, com preços que variaram entre R$ 6,14 e R$ 6,04, respectivamente.

Já a gasolina mais barata dentre as cidades avaliadas foi encontrada na Região Metropolitana de Curitiba. Na capital do Estado, o preço médio encontrado foi de R$ 5,83 no litro da gasolina, seguida de São José dos Pinhas, Campo Mourão, Ponta Grossa e Colombo, entre R$ 5,81 e R$ 5,74, respectivamente.

“Você precisa variar as corridas, sair em horários estratégicos porque não está dando. Optei por trabalhar mais na parte da manhã até 10h. Paro e volto no almoço e, agora, depois das 18h é um horário bom. Tive que estender o horário noite adentro para diminuir o reflexo em cima de nós. Hoje, para atingir a meta, precisei aumentar em duas ou três horas de trabalho”, revelou Oliveira.

Para ele, usuários de aplicativos de caronas pagas já estão tendo que esperar um pouco mais ao solicitarem o serviço uma vez que, segundo ele, a alta no preço dos combustíveis provocou uma redução no número de motoristas este ano. O motorista revelou que gasta entre R$ 3,2 mil e R$ 3,5 mil por mês para poder trabalhar. Há quase dois anos, o mesmo investimento girava em torno de R$ 1,7 mil.

CÁLCULO

Principal “vilão” da inflação neste ano, o preço dos combustíveis tem sido motivo de preocupação para a ampla maioria dos brasileiros, já que a alta impacta diretamente no custo de vida. Enquanto os preços dos combustíveis foram reajustados 20 vezes, o Diesel e o gás de cozinha estão 38% mais caros somente neste ano.

Para entender o que está acontecendo é preciso olhar para a variação do preço do barril de petróleo no mercado internacional e para a desvalorização do real perante o dólar. Só para se ter uma ideia, a cotação do barril tipo Brent, referência internacional de preços negociados em Londres, registrou elevação de 36,5% neste ano. Além disso, os elementos internos, como a carga tributária (ICMS, Cide, Pis/Pasep e Cofins), a adição de etanol anidro e o custo de distribuição e revenda compõem o preço encontrado pelos consumidores nas bombas.

A estratégia que vincula o preço praticado no País com o mercado internacional, conhecida como PPI (Paridade de Preços Internacionais) foi adotada em 2016, durante a gestão de Pedro Parente na Petrobrás, no governo Michel Temer (MDB), e sofreu poucas alterações até os dias de hoje. À frente da estatal, o homem de confiança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o general Joaquim Silva e Luna, tentou aumentar o período entre cada reajuste dos preços, o que, por si só, não resolve o dilema vivido pela população.

A pauta do preço dos combustíveis deverá ser considerada um importante “termômetro” da popularidade do presidente Jair Bolsonaro até o final do seu mandato. Até lá, o País precisará debater o quanto este alinhamento “incondicional” dos preços é prejudicial para a população, avaliou o diretor do Sindipetro (Sindicato dos Petroleiros) do Ceará e Piauí, Fernandes Neto, em artigo publicado no site Brasil de Fato. “Afinal, somos quase autossuficientes na produção e refino do petróleo. Importamos muito pouco petróleo bruto e derivados. Temos um parque de refino composto por 13 refinarias, que se complementam no sentido de garantir o abastecimento de todo Brasil, com capacidade de suprir cerca de 80% das nossas necessidades”, completou.

“Relaxo nosso. Nós (brasileiros) descuidamos demais. Abandonamos muito o nosso País. Nós não sabemos escolher os políticos, reivindicar o que temos de direito, muitas vezes trocamos as coisas sem pensar no amanhã”, lamentou o motorista londrinense.

Zona norte tem preço médio mais barato de Londrina

Responsável por acompanhar a variação no município, o Procon de Londrina divulgou nesta segunda-feira (30) os preços coletados no dia 25 de agosto, em 61 postos de combustíveis. O levantamento só não foi ainda mais próximo da realidade porque 12 postos se negaram a fornecer os dados e 22 não responderam às solicitações dos fiscais.

Conforme o levantamento, quem percorreu a cidade naquele dia pôde constatar uma variação de até R$ 0,63 no preço do litro da gasolina em Londrina. “Estamos com preço médio de R$ 5,83. O mais caro foi R$ 6,29 e o mais barato foi R$ 5,66”, destacou o coordenador do Procon-LD, Thiago Mota.

Já o litro do Etanol ficou entre R$ 4,46 e R$ 5,09 na cidade. Quando considerados os dois combustíveis, a Região Norte foi que a apresentou os menores preços médios.

Entretanto, quando o assunto é rodar mais com mesma quantidade de combustível e cuidar do rendimento do motor, o menor preço nem sempre é a melhor opção, avaliou o motorista Ender Oliveira. “O barato sai caro. Temos um grupo e ficamos sabendo o posto que dá algum desconto para Uber e se o combustível rende bem. O carro dá rendimento em matéria de média”, afirmou.

Após receberem as informações, os fiscais do Procon realizam uma comparação com os dados fornecidos pela ANP. Mesmo assustando a ampla maioria dos motoristas, os preços em Londrina não foram elevados de forma injustificada pela ampla maioria dos proprietários de postos, avaliou Mota.

“Pelo que foi constatado na média, o aumento da gasolina foi de 2,8%. O reajuste anunciado pela Petrobrás foi de 3,5% (12 de agosto) e essa pesquisa foi feita depois do reajuste. Em princípio, o preço médio seguiu abaixo do que reajustado. Em tese, a maioria dos postos aguardaram a chegada de novos combustíveis e, em alguns casos pontuais, vamos verificar se houve aumentos abusivos e notificar posteriormente”, concluiu.

Neste ano, ao menos 15 proprietários de postos de combustíveis foram autuados após não conseguirem justificar a elevação dos preços. Destes, 14 recorreram administrativamente e aguardam o julgamento na Comissão Processante do Procon de Londrina. Um proprietário firmou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o município, admitindo a irregularidade. Há, ainda, outros dez proprietários que não enviaram os dados ao órgão após terem sido notificados. Estes casos foram encaminhados à Promotoria de Defesa dos Direitos do Consumidor de Londrina.

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