| |

Economia 5m de leitura

'Empresa de aviação brasileira custa 27% mais caro para operar’

Fala é do presidente da Abear, que esteve em Londrina nesta quinta-feira (3); custo do querosene compõe um terço do preço dos bilhetes aéreos

ATUALIZAÇÃO
04 de outubro de 2019

Mie Francine Chiba - Grupo Folha
AUTOR

Com menos imposto no combustível, a Gol anunciou o atendimento a dez novas cidades do interior do Estado  ligando-as a Curitiba a partir do final de outubro
 

O custo de operação de uma empresa brasileira é 27% maior que de uma empresa estrangeira, diz o presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz. Ele esteve em Londrina nesta quinta-feira (3) para o Flap Summit: Fórum de Gestão Aeronáutica, promovido pela ATC (Aviation Training Center) e pelo curso de Ciências Aeronáuticas da Unopar. O custo do quilômetro voado no Brasil também é 17% a 18% mais caro que no exterior. 

Conforme o presidente da Abear, o Brasil é único país do mundo que tributa o querosene de aviação por imposto regional. Como reflexo, o querosene compõe um terço do preço pago pelo bilhete. A média mundial é de 20% a 22%. “No Brasil, temos querosene 13 pontos mais caro do que a média mundial, porque só no Brasil você tem esse tributo. Esse tributo é responsável por 92% da diferença”, aponta Sanovicz. “A nossa bandeira número um é para que tenhamos as mesmas condições de competição e disputa que nossos congêneres estrangeiros." 

A redução do ICMS sobre o querosene de aviação de 18% para 7% no Paraná levou à ampliação da malha aérea no Estado por três companhias aéreas até o momento, que já anunciaram novas rotas ou ampliação da frequência de voos no Estado. A Gol anunciou o atendimento a dez novas cidades do interior do Estado (Arapongas, Campo Mourão, Cianorte, Cornélio Procópio, Francisco Beltrão, Guaíra, Paranavaí, Paranaguá, Telêmaco Borba e União da Vitória), ligando-as a Curitiba a partir do final de outubro; e um voo de Foz do Iguaçu direto para Santiago (Chile), a partir de 14 de dezembro. 

A Latam está ampliando 17% de sua malha aérea no Estado com novos voos de Maringá a Guarulhos (15 de dezembro), Curitiba a Santos Dumont e Curitiba a Porto Alegre (15 de novembro) e ampliação das frequências dos voos partindo de Foz do Iguaçu para Brasília (já operando), Guarulhos e Galeão (27 de outubro). A companhia também fez a ampliação de voos de Foz do Iguaçu para Lima (Peru) em 1º de outubro e está em avaliação a oferta de voos de Curitiba para Santiago (Chile), a partir de 2020. 

Nesta quinta-feira (3), a Azul também anunciou a ampliação de oferta de voos para Ribeirão Preto a partir de Curitiba a partir de 20 de novembro. “O incentivo fiscal promovido pelo Governo do Paraná e o comportamento dos mercados locais têm sido grandes estímulos para a companhia expandir suas operações no Estado, que é o terceiro mais bem servido pela empresa em número de destinos”, afirmou Marcelo Bento, diretor de Relações Institucionais da companhia, por meio da assessoria de imprensa. Segundo o diretor, desde o início da política de ICMS paranaense, a Azul já levou a aviação comercial para Ponta Grossa, Toledo, Pato Branco e, em breve, espera chegar em Umuarama e Guarapuava.  

De acordo com o presidente da Abear, a decisão das companhias aéreas de ampliar a malha estão vinculadas à avaliação do cenário econômico, mas a redução do ICMS no Estado foi fator preponderante. “Estamos vivendo um ano no qual a economia andou de lado, e o principal item de custo nosso que é o querosene de aviação e o leasing, sendo dolarizado, viu esse câmbio subir de R$ 3,80 no início do ano para R$ 4,20 agora. De qualquer forma, a situação da conectividade aérea no Paraná a partir desse ano é radicalmente diferente da que vivemos nesse quinquênio anterior, de 2014 a 2019.”  

De acordo com ele, as companhias aéreas hoje têm acordos de ICMS sobre o querosene de aviação em 23 dos 27 estados da União. O último mais relevante foi o firmado com São Paulo que passou a valer a partir de julho, reduzindo a alíquota de 25% para 12%. Nos demais estados, as alíquotas variam de 0 a 12%.  

Novas ampliações da malha, agora, dependem de uma resposta positiva da economia e da demanda, disse Sanovicz. “Quando a economia para de crescer, você não tem as pessoas jurídicas investindo. Portanto, as viagens motivadas por negócios e eventos que respondem por dois terços da nossa receita diminuem absurdamente, porque as empresas não estão contratando, ao contrário. E as viagens de lazer onde o próprio passageiro está pagando a sua conta também despenca porque as pessoas começam a ter receio quanto ao seu futuro pessoal, seu trabalho.” O presidente da Abear lembra que em 2016 as companhias aéreas brasileiras perderam 7 milhões de passageiros por causa da crise. 

O preço do bilhete deverá fechar o ano 14% maior, afirma Sanovicz. “Há duas razões bastante objetivas para isso. Embora a demanda não cresça, esteja estável, a oferta cai 13% com os 54 aviões que deixam o País com a quebra da Avianca. A na outra mão você tem uma ascensão brutal do custo por conta do câmbio.” Segundo o presidente da Abear, a reposição da frota perdida deverá acontecer até o final de dezembro pelas demais companhias aéreas e os boeings que estavam no chão devido ao acidente na Ásia devem ser liberados para voar novamente entre novembro e janeiro. “Com isso, esse fator oferta vai se dar por resolvido. O que vamos precisar agora é torcer para a economia brasileira se fortalecer e a agenda econômica andar para que o câmbio volte aos níveis nos quais abrimos esse ano. Aí sim você vai ter um reflexo imediato no bolso de todo mundo, que se reflete no preço do bilhete.”

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS