A combinação de juros baixos, demanda reprimida por moradia e a pandemia da Covid-19 que fez muita gente repensar o espaço doméstico levou ao reaquecimento do mercado imobiliário e da construção civil. Apesar da grave crise econômica enfrentada pelo país, a maior das últimas décadas, as construtoras comemoram o sucesso de vendas de seus lançamentos e projetam crescimento sustentável para os próximos anos, com excelentes perspectivas de negócios.

Imagem ilustrativa da imagem Em meio à crise, mercado da construção civil inicia novo boom
| Foto: Gustavo Carneiro

Pesquisa realizada neste ano pela Datastore, empresa especializada em pesquisa para o mercado imobiliário, apontou que mais de 14,5 milhões de famílias têm intenção de adquirir um imóvel nos próximos dois anos, o que corresponde a uma alta de 28,7% no índice de compra nos segmentos popular, médio padrão e alto luxo. Desse universo de potenciais compradores, quase 60% planejam a compra do imóvel ainda em 2021, somando 8,4 milhões de famílias. Segundo a Datastore, esse índice não era observado desde 2009.

Londrina viveu um boom da construção civil no início da década passada, com uma profusão de lançamentos e grande expansão das empresas do setor. A partir de 2014, começou um período de retração do mercado que se estendeu até 2018. Nesse período, as construtoras comercializaram os estoques, reforçaram seus caixas e realizaram um trabalho de capitalização e preparação para um crescimento futuro. A inversão da curva descendente começou em 2019 e, no ano passado, mesmo com a pandemia, o setor voltou a crescer.

Com negócios em Londrina, Maringá, Curitiba e Campinas, o Grupo A.Yoshii deverá encerrar 2021 com 17 lançamentos, entre empreendimentos da A.Yoshii e Yticon. No portfólio da construtora, há desde unidades com plantas menores, financiadas pelo programa Casa Verde e Amarela, do governo federal, até imóveis de alto padrão. “Para todos os produtos lançados, a velocidade de venda está muito alta, muito superior à velocidade de venda do passado, de tal forma que nos permite buscar novos lançamentos”, disse o diretor executivo do Grupo A.Yoshii, Rogério Venturini. “Com a vinda da pandemia, as pessoas começaram a procurar um lugar melhor para estar e, com isso, movimentou bastante o segmento imobiliário no Brasil em geral. A gente conseguiu oferecer novos lançamentos, qualidade de vida, área de lazer, enfim, o que as pessoas estão procurando com a pandemia, que foi um grande motivador, atrelado às baixas taxas de juros e à questão dos investimentos”, avaliou.

Dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostram um crescimento de 60% no número de novos empreendimentos no segundo semestre de 2021 quando comparado a igual período do ano anterior.

“Nos últimos cinco anos, temos crescido constantemente, entre 23%”, destacou o diretor do Grupo Plaenge, Marcelo Resquetti. Presente em Londrina, Maringá, Curitiba, Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Joinville (SC), Porto Alegre (RS), Campinas e São Paulo (SP) e também no Chile, onde está desde 2009, a construtora contabiliza 14 lançamentos neste ano, entre a Plaenge e a Vanguard. “Devemos fazer, até o final do ano, entre seis e oito lançamentos. Isso deve chegar no total de R$ 2 bilhões”, prevê o diretor.

Os dados sobre as vendas líquidas do grupo nos últimos três anos revelam a evolução do desempenho no mercado. Em 2018, a Plaenge registrou R$ 946 milhões em VGV (Valor Geral de Vendas); em 2019, foram R$ 1,321 bilhão; em 2020, R$ 1,587 bilhão e a estimativa para 2021 é de R$ 2 bilhões - alta de mais de 50% no período.

“No final de 2019 e em 2020 a gente estava em uma realidade de baixa de estoque e as pessoas procurando por imóveis, querendo morar melhor. Houve aumento da procura por apartamentos e o movimento não parou. Junto com isso, os juros estavam baixos e ainda é um dos mais baixos e isso sempre impulsiona a investir em imóvel, que é patrimônio a longo prazo”, analisou Resquetti, acrescentando os bons resultados do agronegócio à lista de fatores que contribuíram para impulsionar o setor da construção civil.

A Quadra Construtora passou todo o ano de 2019 sem lançar empreendimentos. Quando 2020 chegou, a empresa estava em processo de recuperação do volume de lançamentos e, mesmo com as incertezas geradas pela pandemia de Covid-19, alguns projetos foram levados adiante e a construtora fez dois lançamentos. Diante das boas perspectivas de mercado, a construtora manteve o seu planejamento e, neste ano, colocou à venda quatro novos empreendimentos. Desde 2019, o volume de lançamentos cresceu 100%, calcula a diretora de Incorporações e Novos Negócios da construtora, Fernanda Pires. “Houve uma aceleração no segundo semestre de 2020 e primeiro semestre de 2021 e os lançamentos vão estourar no final desse semestre e primeiro semestre de 2022.”

Para acompanhar as novas exigências dos compradores e adaptar os produtos às necessidades surgidas a partir das medidas de isolamento social impostas pela pandemia de Covid-19, a construtora fez alterações nas plantas originais, com a inclusão de espaços pensados para as famílias que hoje têm na casa não só um espaço de descanso, mas de trabalho, estudo e lazer. As vendas vêm superando as expectativas e a diretora está bastante otimista em relação ao futuro do mercado. “Acredito que a gente tenha, nos próximos dois anos, uma manutenção do crescimento em lançamento e se não tiver nenhum agente externo preocupante, que a desaceleração seja suave. O novo ciclo de crescimento deve ser vigoroso e duradouro”, disse Pires.

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A alta nos preços dos insumos ainda é uma preocupação para as construtoras, assim como a escassez de mão de obra, mas a diretora da Quadra enxerga, nesse novo boom, uma maior capacidade do setor de suportar um ciclo de desenvolvimento mais sustentável. “Quando cresce de forma sustentável, o ciclo é mais duradouro.”

“O ano de 2021 está sendo muito bom. A única rusga é o custo de materiais, insumos e mão de obra. Fazia 20 anos que não tinha um aumento de custos de construção de uma forma desmensurada e tão rápida. Estamos tentando digerir para ver como vai ficar”, afirmou o vice-presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) Paraná Norte, Gerson Guariente. Apesar dos percalços da alta de custos e falta de mão de obra, ele vislumbra um crescimento “constante e firme” nos próximos cinco anos. “O imóvel é um investimento extremamente atraente porque não perde preço. Em um olhar de médio prazo, é um grande investimento.”

Níveis de emprego e arrecadação são termômetros do mercado

Os níveis de geração de empregos e a alta na arrecadação de impostos como o ITBI e o ISS funcionam como indicadores do mercado da construção civil. Há oito meses seguidos a construção civil registra saldo positivo na abertura de vagas de trabalho, segundo dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência. O mais recente relatório, de agosto de 2021, aponta a criação de 32.500 novos postos de trabalho formais no país no setor da construção civil. Foi o terceiro melhor saldo de novos empregos criados pelo setor neste ano, ficando abaixo apenas de janeiro, quando foram abertas 43.927 vagas, e de fevereiro, com 44.133 profissionais contratados.

Em Londrina, desde janeiro, a construção civil mantém resultados positivos na geração de vagas. Em agosto, o saldo foi de 156 postos de trabalho, atrás de janeiro, quando foram criadas 455 vagas, março (245) e maio (228). Dados do mercado mostram ainda que a média salarial dos profissionais do setor, de R$1.843,79, supera a média nacional, calculada em R$ 1.792,07.

Na arrecadação de impostos, os resultados também são animadores. Em Londrina, a Secretaria Municipal da Fazenda viu a receita superar as previsões feitas no início do ano. Para todo o ano de 2021, a secretaria esperava recolher R$ 68,473 milhões com o ITBI, mas nos primeiros oito meses, o volume foi de R$ 58,692, indicando que o resultado final irá ultrapassar os cálculos iniciais. Em 2020, no mesmo período, o volume ficou em R$ 38,368, uma alta de 52,97%.

“Isso é um reflexo do mercado imobiliário. Houve uma redução na taxa de juros que impactou o setor. E com a pandemia e o isolamento, as pessoas que antes investiriam em outras coisas acabaram se voltando para o investimento imobiliário”, avaliou a secretária municipal da Fazenda em exercício, Wanda Yaeko Kono.

Também houve aumento na arrecadação do ISS, com um volume 22,92% maior do que o recolhido no ano passado, na avaliação do período de janeiro a agosto. Em 2020, nos primeiros oito meses, o pagamento do tributo rendeu R$ 148,036 milhões ao caixa do município. Neste ano, foram R$ 181,971 milhões. “É um volume que surpreendeu, mas desde o ano passado, mesmo na pandemia, a gente começou a perceber esse aumento, esse comportamento do mercado imobiliário se aquecendo”, disse Kono.

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