Desde que as medidas de isolamento social foram implantadas na cidade, os estudantes tiveram que deixar as salas de aula. A pandemia já dura mais de um mês, e as instituições de ensino não poderiam manter as aulas suspensas por tanto tempo. Foi preciso retomar as atividades para evitar prejuízo maior para os alunos, e quem ainda não usava os meios eletrônicos para ministrar aulas teve de se adaptar ao ensino a distância.

Centro de operações do Ensino a Distância da Kroton fica na Unopar, em Londrina
Centro de operações do Ensino a Distância da Kroton fica na Unopar, em Londrina | Foto: Divulgação

Alunos e pais também precisam se adaptar à nova forma de estudar. A empresária Carina de Andrade, mãe de Sofia, do P5 da Educação Infantil, e do Mateus, do 8º ano do Ensino Fundamental, conta que a família precisou aprender a conciliar as atividades escolares em casa com o trabalho home office e as atividades domésticas. Foi fundamental para as crianças criar uma rotina com horário pré-estabelecido para estudar, brincar e ver televisão.

A empresária Carina de Andrade e sua filha Sofia: isolamento social trouxe nova rotina para dentro de casa
A empresária Carina de Andrade e sua filha Sofia: isolamento social trouxe nova rotina para dentro de casa | Foto: Arquivo Pessoal

A empresária relata que o maior desafio foi ensinar os filhos a administrar o tempo e ter compromisso com as suas obrigações sem a presença física do professor. “Além de ter de procurar a informação em outros meios, pois em muitas dúvidas, o professor não está ‘presente’ para orientar naquele momento.”

Sérgio Ricardo de Andrade, marido de Carina de Andrade, e o filho Mateus
Sérgio Ricardo de Andrade, marido de Carina de Andrade, e o filho Mateus | Foto: Arquivo Pessoal

Desde o dia 23 de março, cerca de 1.800 alunos do Universitário passaram a utilizar uma plataforma de educação para que os alunos pudessem acompanhar as aulas on-line. Na plataforma, o professor tira dúvidas e posta materiais e vídeos curtos. Mas das 8 horas da manhã ao meio dia, as aulas são ao vivo por meio de um aplicativo de videoconferência.

“Muda o ritmo, porque é diferente você acordar cedo, se aprontar e vir para a escola. Agora o aluno tem que ter autonomia para levantar, se arrumar e ir para a frente do computador e assistir aulas a manhã toda, fazer atividades, exercícios”, observa a diretora educacional Raquel Calil Ruy. Segundo ela, quando as aulas retornarem, será preciso fazer uma avaliação diagnóstica para saber quais foram os resultados da nova metodologia.

Os cerca de 358 mil alunos dos cursos presenciais de Ensino Superior da Kroton tiveram que migrar para o ensino EAD após a pandemia. São 176 unidades próprias e 1.410 polos de ensino a distância, sob as marcas Anhanguera, Fama, Pitágoras, Unic, Uniderp, Unime e Unopar, em todo o Brasil. Em Londrina, na Unopar, fica o “coração” da operação de EAD da organização. Para que o aumento da demanda pela plataforma EAD fosse absorvida, o grupo precisou fazer investimento em banda de internet e em nuvem.

Segundo Simone Wojcicki, diretora de Operações Acadêmicas EAD da Kroton, os alunos dos cursos presenciais não perderam o vínculo com o professor após a mudança. As aulas acontecem no mesmo horário, com os mesmos professores e com a mesma turma, que assiste às aulas de forma síncrona usando o aplicativo de reuniões com chamadas de vídeo da Microsoft.

“O aluno EAD é um aluno que gosta do auto estudo, está preparado para estar sem contato. Nosso aluno presencial gosta daquele núcleo, tem relacionamento. A necessidade fez que o aluno olhasse o EAD de outra forma. Agora as coisas vão mudar. Até para nós, profissionais”, diz Wojcicki.

A previsão da Plurall, plataforma da SOMOS Educação, pertencente à Cogna, holding educacional da qual a Kroton faz parte, é que a ferramenta passe a ser acessada por 700 mil alunos. Antes da pandemia, o volume de acessos era de 570 mil estudantes. A média de tempo que os alunos passam na plataforma também deverá subir de 47 minutos para três a quatro horas por dia.

‘Crescimento exponencial’ em plataforma de educação

A plataforma de inteligência de dados e personalização da aprendizagem Eduqo notou um “crescimento exponencial” do uso da ferramenta e da demanda de escolas que ainda não tinham um projeto de transformação digital em sua rotina pedagógica, diz Mateus Noronha, CEO da empresa. “O tempo médio de uso de cada usuário multiplicou por 2,5 e o número total de usuários ativos do mesmo dia multiplicou de 5 a 10 vezes dependendo do dia.”

As soluções oferecidas pela empresa permitem que as escolas possam transmitir conteúdo, estabelecer a comunicação entre o corpo docente e o corpo de estudantes, montar trilhas de aprendizagem personalizadas, realizar avaliações, entre outras ações. Todas as interações do aluno com a plataforma também ficam registradas.

“Os maiores aliados do professor e da escola neste momento são os dados, que permitem que não deixemos de ser capazes de compreender o que está acontecendo com o aluno, algo que antes do distanciamento social era feito em certa medida através da interação direta entre professor e aluno em sala de aula. Sem essa interação, os dados de engajamento, desempenho e aprendizado ajudam a suprir a falta do contato direto”, explica Noronha.

‘Abismo’ entre escolas particulares e públicas

Existe um abismo, porém, entre a maneira como as escolas particulares e as públicas estão lidando com a pandemia, pondera João Vianney, conselheiro da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância) e sócio e consultor na área de EAD da Hoper Educação. Enquanto as escolas particulares já completaram um mês de aulas on-line, as escolas públicas ainda não encontraram um ponto de equilíbrio.

Os alunos da rede estadual de Educação do Paraná estão acompanhando as aulas através de um aplicativo disponibilizado pela Seed (Secretaria do Estado da Educação e do Esporte), o Aula Paraná. Logo que foi disponibilizado, o aplicativo recebeu denúncias de conteúdo inapropriado no chat utilizado pela ferramenta para interação com colegas e professores. Segundo nota da assessoria de imprensa, a Seed afirmou que, até o momento, os alunos da Região de Londrina estão mantendo a rotina de ensino, com adesão de 95% dos professores trabalhando em home office ou presencial. “Atualmente o nível de adesão dos alunos em Londrina está próximo de 70% de presença, sendo que aqueles que não estão participando, os professores estão entrando em contato com as famílias alertando da ausência de seus filhos.”

Os alunos da rede municipal receberam kits contendo um livro com atividades, que começaram a ser entregues no dia 15 de abril. Os professores mantêm contato com as crianças com orientações por áudio e vídeo via WhatsApp.

Conforme a secretária municipal de Educação, Maria Tereza de Moraes, os pais e alunos estão respondendo bem a essa nova rotina de estudo durante a pandemia. “A preocupação não é transpor o conteúdo, transformando isso on-line. Estamos preocupados com o que é importante, que é primeiro manter a conexão com a criança”, explica a secretária.

Escolas podem ‘virar a chave’ em pouco tempo

Para João Vianney, da Abed, não é preciso fazer um alto investimento para dar continuidade às aulas nesse período de pandemia. Há ferramentas que podem ser encontradas gratuitamente. “A agonia que me dá é que tudo é muito barato e simples. A tecnologia está disponível.”

Ele conta o caso de escolas que “viraram a chave” em menos de três dias, treinando professores e fazendo uso um ambiente virtual de aprendizado para dar aulas para os alunos. Para aqueles que não tinham computador ou celular em casa, as escolas levaram equipamentos da escola ou celulares arrecadados em campanhas de coleta de aparelhos usados. Parcerias foram feitas com operadoras de telefonia para que os alunos pudessem acessar o site utilizado nas aulas gratuitamente.

Instituições de ensino que não conseguiram proporcionar uma boa experiência de aprendizado on-line, opina o professor, erram ao entregar um “pacote” de conteúdo off-line para o aluno estudar com apenas alguns minutos para sanar dúvidas no dia seguinte, ou uma “dose” de atividades maior que pais e alunos poderiam dar conta.

“Você tem escolas e universidades onde alunos estão adorando fazer educação conectada. Depende de como a instituição implementou.” As experiências mais positivas, de acordo com Vianney, aconteceram em instituições que mantiveram a grade horária e o horário de atendimento dos alunos, colocando professores para ministrarem aulas ao vivo.

AVA gratuito

A Cogna está disponibilizando a sua plataforma digital de ensino - o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) utilizado por todas as marcas da companhia no Ensino Superior - gratuitamente a escolas e universidades durante a pandemia do coronavírus. O AVA está disponível no site da Aliança Brasileira para Educação, frente de impacto social da Cogna, e pode ser utilizado, inclusive, por colégios particulares, informou a assessoria de imprensa.