RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Os preços de combustíveis e alimentos voltaram a pressionar o IPCA, índice oficial de inflação no país, que fechou setembro com alta de 0,64%, acima dos 0,24% de agosto. Foi o maior índice para o mês desde 2003, informou nesta sexta (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

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. | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Desde janeiro, o indicador acumula alta de 1,34%. Embora o ritmo esteja se acelerando, a variação ainda está abaixo do piso da meta de inflação estipulada pelo Banco Central, de 2,50% para 2020.

Analistas da Bloomberg esperavam uma alta de 0,54%, abaixo do resultado calculado pelo IBGE.

O aumento foi impulsionado pelo grupo alimentação e bebidas, com alta de 2,28% em setembro. Na categoria, a alta foi puxada pelo segmento de alimentos para consumo no domicílio (2,89%), com destaque para altas no óleo de soja (27,54%) e arroz (17,98%).

No ano, esses dois itens acumulam alta de 51,30% e 40,69%, respectivamente. As carnes variaram 4,53% em agosto.

A aceleração do preço dos alimentos prejudica sobretudo as famílias de baixa renda, que gastam uma parte maior de seu orçamento com essas despesas.

No mês passado, o governo decidiu zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro deste ano. A medida busca conter a alta no preço do alimento.

O gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, afirma que a alta nos preços do arroz e do óleo está relacionada à valorização do dólar e à maior demanda interna durante a pandemia, influenciada principalmente pelo pagamento do auxílio emergencial de R$ 600.

“O câmbio num patamar mais elevado estimula as exportações. Quando se exporta mais, reduz os produtos para o mercado doméstico e, com isso, temos uma alta nos preços. Outro fator é a demanda interna elevada, que por conta dos programas de auxílio do governo tem ajudado a manter os preços num patamar elevado”, diz.

No caso do grão de soja, o gerente da pesquisa relacionou a alta à forte demanda da indústria de biodiesel.

Análise do Banco Inter sobre a inflação apontou que, embora a produção agrícola brasileira tenha apresentado bom desempenho nos últimos meses, parte desse excedente tem sido destinado à exportação, mais vantajosa para produtores com o real depreciado e maior demanda da China.

"Somado à forte demanda no varejo alimentício durante a pandemia, isso contribui para que os alimentos figurem entre os itens com maiores altas nos índices de preços", analisou o banco.

Outros alimentos tiveram aumento em setembro, como o tomate (11,72%) e o leite longa vida (6,01%).

A alta nos preços vem em um momento delicado da economia. Com a reabertura de comércio e dos serviços, a população voltou a procurar trabalho, pressionando a taxa de desemprego, que bateu recorde e chegou a 13,8% no trimestre encerrado em julho.

Foi a maior marca da série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, que calcula a desocupação oficial do país desde 2012.

Além de alimentos e bebidas, combustíveis também tiveram destaque na evolução da inflação em setembro, especialmente a gasolina (1,95%). A gasolina é o subitem de maior peso no IPCA, segundo o IBGE. As passagens aéreas (6,39%) também aumentaram após quatro meses em queda.

Kislanov, porém, faz a ressalva de que a coleta de preços das passagens aéreas é feita com dois meses de antecedência e portanto não corresponde aos valores praticados em setembro. "Os preços foram coletados em julho para quem ia viajar em setembro."

Os preços subiram em todos os locais pesquisados pelo IBGE. A maior alta foi em Campo Grande (1,26%), impulsionada principalmente pelas categorias carnes, gasolina e energia elétrica.

Fortaleza (1,22%), Rio Branco (1,19%), Goiânia (1,03%) e São Luís (1,00%) também se destacaram entre as altas no mês. Salvador, por outro lado, apresentou a menor variação (0,23%), decorrente da queda nos preços da gasolina nessa capital (-6,04%).

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado com base em famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos, teve alta de 0,87%, o maior resultado para um mês de setembro desde 1995, quando registrou 1,17%. Os alimentos subiram 2,63%.

Desde janeiro, o INPC acumula alta de 2,04%. Considerando os últimos 12 meses, a variação acumulou alta de 3,89%.

A base de cálculo do INPC leva em conta dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília.