O valor da cesta básica em Londrina teve alta de 3,61% entre setembro e outubro, atingindo o preço médio de R$ 549,03, o mais alto dos últimos 12 meses. Os dados são do levantamento mensal divulgado pelo Nupea (Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas) da UTFPR (Universidade Federal Tecnológica do Paraná) em parceria com o Econostat: Grupo de Extensão em Estatística Econômica da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

 A batata foi a vilã da vez, com alta de 66,3% em relação a setembro
A batata foi a vilã da vez, com alta de 66,3% em relação a setembro | Foto: Gustavo Carneiro

Em setembro o valor foi de R$ 529,90, que já trazia uma alta de 2,2% em relação a agosto. O estudo realizado em 11 redes supermercadistas da cidade mostra ainda que, para uma família com dois adultos e duas crianças, esse valor atingiria R$ 1.647,10.

Dos 13 itens que compõem a cesta básica nacional, sete deles apresentaram aumento nos preços em relação ao mês anterior. A batata foi a vilã da vez, com alta de 66,3% em relação a setembro. A banana teve aumento de 23,2%. O tomate subiu 18,8%. A margarina subiu 8,5%, o café 5,5%, o óleo 5,1% e o feijão 4,5%.

Somente o açúcar apresentou estabilidade de preço, com variação de 1%. O pão teve uma redução de 1,5%. O arroz baixou 7,6%, a farinha sofreu redução de 10,4% e o leite baixou 15,2%.

A carne, que é o produto que tem maior peso na cesta básica (neste mês, 45%), apresentou redução em seu preço médio de 2,5% ficando na média a R$ 37,48 por quilograma. Na pesquisa anterior estava a R$ 38,44/kg na média. O preço mais barato encontrado foi de R$ 30,90/kg e o mais elevado de R$ 44,99/kg. A carne tem como referência sempre o coxão mole. Se a peça for mais barata que fatiada é considerado o preço da peça.

Quando comparado com o valor da cesta básica de outubro do ano passado, esta mostrou um aumento de 14,9%. Naquele mês ela foi adquirida pelo valor médio de R$ 478,00. A inflação da cesta básica desde o dia 1º de janeiro apresenta elevação de 8,7%, e para o período de 12 meses é de 12,2%.

Segundo o economista Marcos Rambalducci, professor da UTFPR, esse aumento vem batendo recorde em cima de recorde em termos de preço absoluto e termos de preço relativo. "Isso é reflexo principalmente da demanda internacional commodities de produtos agrícolas, que tem atraído dólares e acaba transferindo isso para o preço do produto, já que o produtor recebe mais. São vários produtos que são considerados commodities e possuem essa característica; desde o arroz até a farinha de trigo. Com o dólar a R$ 5,60, isso acaba onerando o preço", destacou Rambalducci. Ele afirmou que a farinha de trigo caiu momentaneamente em função da retração do consumo, mas que logo haverá novo aumento nesse item.

CESTA BÁSICA X SALÁRIO MÍNIMO

Quando comparado o valor da cesta básica de outubro de 2021 com o mês anterior, evidencia-se a perda no poder de compra do assalariado em decorrência da elevação no preço dos alimentos. Em setembro, a aquisição de uma cesta básica exigia 48,1% da jornada de trabalho de quem ganhava um salário-mínimo nacional e este tempo subiu para 49,8% da jornada. Em relação ao salário-mínimo paranaense, exigia 36,1% da jornada de trabalho, e agora 37,4% da jornada.

O tempo necessário de trabalho para adquirir uma cesta básica com o salário mínimo paranaense aumentou 37,4% em relação ao mês anterior e está em 82,3 horas. Considerando o valor do salário mínimo brasileiro, esse tempo aumentou 49,8%, ou seja, são necessárias 109,6 horas para adquirir uma cesta básica. Esse cálculo foi feito considerando uma jornada de trabalho de 220 horas mensais.

VOLTA DO CADERNINHO

A presidente da Associação de moradores do residencial Vista Bela, Vera Cristina Jane Vieira, afirma que muitas pessoas estão recorrendo ao velho método de anotar o que devem no “caderninho” para poder fazer as compras do dia a dia. “Eu escuto as famílias pedirem para marcar a conta para pagar depois no velho caderno. Mas não dá para fazer isso no mercado. Para comprar no mercado tem que ter cartão de crédito ou vale alimentação. As pessoas têm marcado no caderninho em compras que fazem com pessoas que vêm vender de carro aqui. Tem gente que vem de carro no bairro e que vende verdura, tem quem vende pão, tem aqueles que vendem cesta básica. As pessoas marcam no caderninho e pagam daqui a 15 dias”, destacou. Ela falou que não tem como parcelar a aquisição da comida no cartão, pois os juros estão proibitivos e acabam piorando a situação. “Quando não dá para pagar à vista, a gente pede dinheiro emprestado para a família ou para os amigos.”

Segundo Rambalducci, trata-se de uma situação preocupante. "É uma maneira de ter acesso a crédito não oficial, na base do fio de bigode. A prática é respaldada na necessidade de precisar voltar a comprar da pessoa que fiou para ele. Essa é a garantia, o aval. Isso representa a volta a tempos anteriores para uma faixa da população aleijada do crédito oficial e mostra o empobrecimento dessa classe, com a inflação se aproximando de dois dígitos. O salário não foi corrigido pela inflação e há uma sangria muito grande das famílias de baixa renda, que acabam ficando reféns dessa situação. Essa parcela da sociedade não paga mais barato por produtos que são vendidos dessa forma, acaba até pagando mais caro, mas é onde consegue ter crédito."

Segundo ele, a única forma refrear esse processo inflacionário é por meio do Banco Central adotar políticas que possibilitem conter a inflação para voltar aos patamares de normalidade e aliviar e recuperar o poder econômico. "Uma das possiblidades para conter a inflação é o aumento da taxa de juros, para diminuir a pressão de demanda. Esse é um grande mecanismo que o BC tem para fazer o controle da inflação. É como o antibótico, que é uma aposta para ver quem morre primeiro. A doença é sempre pior que o remédio amargo, mas no caso é um grande instrumento para fazer politica monetária para refrear a inflação", apontou Rambalducci.

DOAÇÃO

Vera Vieira busca ajuda pela associação de moradores de empresários e colaboradores para doar cestas básicas. “Há uma semana ajudamos 200 famílias pelo repasse de doações que ganhamos. Mas muita gente está passando dificuldades no bairro. Há famílias que não têm arroz”, destacou.

“Como dona de casa saio muito para ir ao mercado e eu também fui muito afetada. A gente vai ao mercado com um valor e acha que vai comprar uma quantidade grande de produtos e volta só com três itens e a sacola vazia. Outro dia fui comprar salsicha, que eu pagava R$ 4/kg, e agora tive de pagar R$ 15/kg. Não vou mentir, mas agora tem dia que tenho café da manhã, e tem dia que não tenho. Eu recebo R$ 1100 e não tenho mais como comprar carne como fazia antes. Mas não dá para viver só de arroz e feijão. Outro dia meu filho disse que ia pegar dinheiro para comprar uma carne e eu falei para ele não mexer no dinheiro.”

Quem quiser doar cestas básicas para a associação, pode entrar eem contato com Vera pelo telefone (43) 98434-3837.

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