Na Cúpula de Líderes sobre o clima, que começa nesta quinta-feira (22), o Brasil deve ser pressionado por líderes internacionais sobre a atual política de meio ambiente que o governo federal vem desenvolvendo.

“A comunidade internacional deve pressionar o governo brasileiro para que seja feito um controle do desmatamento e das queimadas”, destacou Emerson Guzzi Zuan Esteves, professor do Departamento de Economia da UEL e delegado do Corecon-PR (Conselho Regional de Economia do Paraná).

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| Foto: Carl de Souza/AFP

Ele considera que, caso a comunidade internacional note após um tempo que esses dois temas estão evoluindo, poderá haver mudanças positivas.

“A Noruega pode voltar a financiar o Fundo Amazônia e os Estados Unidos também podem financiar projetos de preservação. Isso seria um avanço para a economia brasileira, se o Brasil atendesse à demanda internacional em relação ao meio ambiente.”

Se um clima de pressão deve surgir, também existe expectativa para que o Brasil faça cobranças.

“Espero que o Brasil cobre dos países desenvolvidos um forte investimento em países em desenvolvimento para desenvolver programas sustentáveis, como forma de compensação aos gases de efeito estufa, que continuam sendo produzidos por países desenvolvidos”, destaca Edson Dornellas, presidente do Sindicato Rural Patronal de Londrina.

De acordo com o WRI (World Resources Institute), o Brasil foi responsável por cerca de 4,4% das emissões mundiais de GEE (Gases de Efeito Estufa) em 2018, cerca de 8 vezes menos que a China, 4 vezes menos que os EUA e 2 vezes menos que a União Europeia.

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| Foto: Evaristo Sá, Saul Loeb/AFP

Retaliações

Não há ainda um ponto pacífico a respeito de possíveis retaliações comerciais que poderiam surgir conforme o andamento das conversas entre Brasil e demais países participantes da Cúpula de Líderes.

“Antes da retaliação comercial, existem outros instrumentos de pressão. Por exemplo, o Brasil tem uma demanda para entrar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os Estados Unidos podem travar essa entrada do Brasil, sinalizando que não estão contentes com a política ambiental brasileira”, considera o docente da UEL.

Ele acrescenta que a União Europeia e o Reino Unido já estão ensaiando a elaboração de leis para punir empresas que importem produtos ligados ao desmatamento e aplicar punição a bancos que financiem a prática do desmate.

“Um diálogo não produtivo pode conter retaliações ao comércio internacional do Brasil. Barreiras ambientais e sanitárias são formas de os países desenvolvidos conterem o crescimento econômico dos países em desenvolvimento”, acrescenta o presidente do Sindicato Rural.

Azedo

Existe ainda uma possibilidade de o relacionamento entre Joe Biden e Bolsonaro azedar durante a Cúpula.

“O que deverá prevalecer é o pragmatismo comercial, já que Brasil e Estados Unidos são dois parceiros comerciais”, destaca o docente da UEL.

Segundo dados do governo federal, o Brasil exportou, de janeiro a março deste ano, cerca de 56 bilhões de dólares para o exterior. Desse total, 5,6 bilhões de dólares foram para os Estados Unidos, ou seja, 10%.

No caso das importações, o Brasil comprou, no mesmo período, cerca de 48 bilhões de dólares de países externos. Desse total, cerca de 8 bilhões de dólares foram importados dos Estados Unidos, 18% do total.

“A tensão das relações comerciais será evitada porque há interesse de grandes grupos econômicos brasileiros e norte-americanos de manter esse comércio”, pontuou o docente.

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Agro

O presidente do Sindicato Rural Patronal de Londrina considera que caso a relação entre Biden e Bolsonaro azede, não deve haver prejuízo global para o agro.

“Para o comércio com os EUA até pode prejudicar as exportações, mas globalmente fica mais difícil essa complicação. O consumo e o crescimento populacional mantêm aquecida a demanda por commodities agrícolas, o que pode ser um peso na balança. O Brasil, em curto espaço de tempo (5 a 10 anos), talvez seja o único país que tem terra, clima e tecnologia para suprir a crescente demanda por alimentos, e isso é um forte peso para o comércio internacional.”

Indústria

O gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Davi Bomtempo, lembra que os processos industriais têm participação de 20,4% no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, mas são responsáveis por apenas 6% das emissões nacionais de gases de efeito estufa.

“O setor industrial brasileiro está engajado na agenda ambiental, tendo em vista a vantagem comparativa da indústria, pelo forte uso de fontes renováveis na geração de energia e a acelerada modernização tecnológica do parque industrial brasileiro, com máquinas e equipamentos cada vez mais eficientes e que consomem menos energia.”

Ele acrescenta que, além da boa relação comercial do Brasil em nível global, o setor industrial brasileiro vem assumindo cada vez mais metas ambiciosas de redução de emissões na agenda climática.

“Nós vamos continuar trabalhando para que os laços comerciais se fortifiquem entre Brasil e Estados Unidos, engajando o setor industrial brasileiro a investir em inovação de processos e tecnologias para o desenvolvimento da economia de baixo carbono no país. O objetivo é aumentar a competitividade da indústria, colocando o Brasil como player de destaque nesta nova economia global”, conclui.

40 líderes

No papel de anfitrião, o presidente americano Joe Biden recepcionará 40 chefes de Estado na Cúpula de Líderes, entre eles o mandatário brasileiro Jair Bolsonaro, em ambiente virtual. Também estão confirmadas as presenças dos presidentes da China, Xi JInping, e da Rússia, Vladimir Putin. A cúpula segue até sexta (23).

A Cúpula de Líderes é uma reunião preparatória para a Conferência Climática da ONU (Organização das Nações Unidas), a COP26, que será realizada em dezembro em Glasgow, na capital escocesa.

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