Um excelente programa para assistir em casa é o documentário “I AM - Você tem o poder de mudar o mundo”, em cartaz na Netflix. Escrito, produzido e dirigido pelo ex-diretor de cinema norte-americano Tom Shadyac (Ace Ventura, O Professor Aloprado, O Mentiroso), o filme tenta responder as seguintes perguntas: “O que há de errado no mundo?” e “O que é preciso fazer para torná-lo um lugar melhor pra se viver?”.

Notável, além do conjunto de depoimentos, foi o que levou Shadyac a fazer o filme. Após um sério acidente de bicicleta, onde sofreu múltiplos traumas (inclusive na cabeça), ele passou a apresentar sintomas da “Síndrome de Pós-Concussão”, condição em que as consequências do trauma podem durar por anos ou por toda a vida. Depois de meses de sofrimento, tratamentos intensivos, terapias alternativas e da constante proximidade da morte, passou a apresentar surpreendentes melhoras, até enfim se recuperar. Durante o período em que esteve prestes a morrer, o diretor teve tempo de se perguntar o que queria dizer antes de partir. E tudo tornou-se simples e claro: encarar o próprio fim deu ao artista um senso instantâneo de lucidez e propósito. O documentário é o resultado dessa jornada.

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. | Foto: iStock

Humano, demasiado humano. Eis, a meu juízo, a síntese ética da obra. Filmaço, indicado para todas as idades. E não se engane. O que pode a princípio soar como uma utópica e manjada “pregação do bem” é, na real, uma lição de vida das mais superlativas. Como dizia nosso bom mestre de semiologia: “Não hesite. Não discurse. Aprenda sem parar. Aprenda a escutar.”

Mestres não faltam no documentário. O ponto alto fica por conta das considerações de mulheres e homens notáveis, de diversas áreas do conhecimento, acerca dos mais desafiadores impasses da humanidade, bem como de suas possíveis soluções. O interessante é que toda a perspectivação dessas mentes e espíritos brilhantes aponta para um compromisso básico: o que pode fazer a diferença, o que pode de fato mudar o mundo é… você. Nenhum grande achado nessa inferência, mas articulada do modo como vemos no filme, ilumina e aquece o coração mais apático. Aliás, essa é uma das grandes “revelações” (mística e científica) do documentário: o coração é quem manda, pois emite vibrações energéticas comprovadamente benéficas; o cérebro apenas responde a essas vibrações.

Um “cérebro sem coração” pode conceber as maiores atrocidades em nome de uma necessidade lógica, racionalmente (ou aparentemente) justificável. Acontece que necessidades, sejam de que natureza forem, devem ser consideradas do ponto de vista também do coração, cujas justificativas são de outra ordem: demandam empatia, solidariedade, generosidade, compaixão; ou, se preferirem, aquilo que o rei Pelé gritou para um estádio lotado nos Estados Unidos: LOVE.

A propósito dessa espinhosa pergunta, “O que há de errado no mundo?”, o célebre escritor inglês G.K. Chesterton, num lance de refinada ironia e lucidez, teria respondido: “Eu”. Mas é preciso assistir atentamente o documentário de Tom Shadyac para entrever alguns porquês e, mais que tudo, pressentir o que cada um de nós pode efetivamente fazer para tornar a convivência entre humanos um projeto viável.

Evoé isso seja possível!

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