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Somos todos robôs

Finalmente, depois de tantos anos de luta, despertei para a realidade: — Eu sou um robô conservador

ATUALIZAÇÃO
18 de novembro de 2019

Paulo Briguet
AUTOR

Quando minha irmã nasceu, ganhei de presente um robô japonês. Fiquei fascinado com o brinquedo, que parecia saído de um filme de ficção científica. Nem o robô da série “Perdidos no Espaço” — aquele que o Dr. Robinson — chamava de “lata velha” — era tão evoluído. Lembro que ele tinha no tronco uma enorme tela, por onde se projetavam imagens do espaço sideral. Até hoje esse robô frequenta os meus sonhos; creio, portanto, que o STF tem motivos de sobra para investigar minha vida.

 

Mas posso fornecer outros indícios inquietantes a Toffoli e sua gangue: anos depois de ganhar o robô japonês, fascinei-me pelos robôs de “Star Wars”, R2D2 e C3PO. Observe-se que eles são os únicos personagens presentes em todos os filmes da saga — e sempre estão salvando os seus mestres.

Mais tarde, já na adolescência, vi “Blade Runner”, o filme de Ridley Scott baseado no livro de Philip K. Dick. Agora os robôs (androides) se tornavam os grandes vilões: assassinavam os humanos, numa paródia da rebelião edênica contra o Criador.

Nos filmes “O Exterminador do Futuro” e “Matrix”, os robôs também representavam o mal absoluto: eles haviam travado guerra contra a humanidade e se tentavam aniquilá-la de uma vez por todas. Essa revolta das máquinas contra os homens já havia sido antecipada no final dos anos 60, com “2001 — Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick.

Mas foi preciso que um homem chamado Gilmar Mendes, auxiliado pela Nova Esquerda brasileira, me despertasse para a dura realidade: EU SOU UM ROBÔ.

Todo o trabalho que fiz nos últimos 15 anos, as 2 mil crônicas que escrevi, os seis livros que publiquei, a guerra incessante contra a mentira, a malícia e o fingimento — nada passou das atitudes programadas de um robozinho teleguiado por maldosos agentes do capitalismo internacional.

E você também, meu caro leitor, não passa de um robô. Um robô que acorda cedo, ama, trabalha, tem família, acredita em Deus, paga impostos, paga boletos, ri, sofre, come, bebe, dorme, revolta-se com a injustiça, ajuda os necessitados, protege os filhos, tem fé, tem esperança, tem caridade, preocupa-se com o futuro, sente saudade, defende os valores cristãos, respeita os mandamentos de Deus e a lei dos homens, não para, não precipita, não retrocede.

Pois somos nós, os robôs, que vamos mudar esse país antes que nos obriguem a mudar dele.

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