A ciência tem suas prerrogativas. Para ser considerada um conjunto útil e seguro de conhecimentos, necessita de método e apresentação de resultados. Como as ciências são muitas e diferentes, existem variadas metodologias de trabalho e um campo infinito de opções de atuação profissional. Pode-se ser um excelente técnico ou um analista dos impactos do mundo sobre a vida humana. É possível, portanto, ficar com os números, os dados, os resultados práticos, as taxas e amortizações ou, de outro modo, com as pessoas e sua teimosia em viver.

No meu trabalho como professor e pesquisador da Sociologia, preciso dialogar com outras ciências, buscar complementos, raízes, explicações de outras perspectivas. Assim, a filosofia é uma interlocutora permanente; a história, o direito, a antropologia, a ciência política, a psicanálise, tudo isso me diz respeito e faz parte de meus interesses de leitura, nem que seja como mera curiosidade.

Aliás, não há ciência sem curiosidade. Sócrates já dissera que é do espanto que nasce o conhecimento. Precisamos estranhar a realidade para desvendá-la. Mesmo assim, sinuosa, a realidade é infinita diante de nossas limitadas formas de abarcá-la. Nesse sentido, a humildade é um predicado insubstituível nas tarefas da ciência. Sem a certeza de que estaremos sempre diante de algo novo a conhecer, tudo pode se converter em manuais com respostas para tudo. O maior perigo para a ciência é a terra firme.

Tenho tido o prazer de trocar muita informação com aqueles que chamo de “economistas da vida”. Longe dos números frios e das análises técnicas que mais parecem receituário de bolo, esses economistas preferem saber a respeito do impacto dos números na história concreta de pessoas e suas coletividades. Dessa forma, quando entram em contato com porcentagens, logo se perguntam: “Como isso afeta a qualidade de vida da gente humana?”. Alguns, os melhores, vão além e indagam: “Em que medida esses números alteram a questão da luta por cidadania e uma vida digna?”.

Os “economistas da vida”, que existem e estão empenhados em seu trabalho como intelectuais e cientistas, querem desvelar o que há de político nos números. Diante de uma recente pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), por exemplo, a qual informa que o trabalhador recebedor de um salário mínimo gasta metade de seus ganhos com alimentação, perguntam-se sobre as políticas públicas de complementaridade da renda; insistem em saber como está a organização dos trabalhadores para pressionar governos e sociedade civil, além de buscar compreender em que lugares da vida social está a concentração da riqueza e por quê.

Num país em que a técnica é aliada das ideologias mais prodigiosas em alienar e afastar da realidade a consciência dos indivíduos e grupos sociais, “economistas da vida” devem ser objetivo máximo nos processo de formação de novos profissionais. Quem agradece é a luta por um mundo melhor e seus agentes incansáveis.

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