Assim o Dicionário Houaiss descreve o significado de “compaixão”: “sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor”.

É bem possível que esse seja o sentimento que mais nos faz falta nos dias que correm. Diante do aumento progressivo de toda sorte de desigualdade, optamos por questões menores, frugais ou absurdas, cientes de que estamos a fazer a coisa certa.

Em sua última coluna na "Folha de São Paulo", Alexandre Schneider acertou o ponto: enquanto milhões de pessoas passam fome e famílias inteiras vagam pelas ruas, pauta-se no Congresso a educação domiciliar. Além do caráter inapropriado do próprio assunto a se discutir, ele passa por cima da ideia de compaixão. Mais do que nunca, é preciso que estejamos juntos, dividindo espaços, trocando ideias, compartilhando esperanças. A aposta no isolamento é uma opção fora do lugar, como já se disse sobre ideias políticas importadas no Brasil.

Sou professor há mais de 25 anos. Passei por colégios, ensino profissionalizante, cursinhos e cheguei cedo, no ano 2000, ao ensino superior. Em todo esse tempo, vi que é em sala de aula que ocorrem os grandes momentos na vida de um estudante. Descobre-se a amizade; fortalece-se a singularidade; expressa-se a necessidade do trabalho comum. Eu diria até um pouco mais: na escola, em qualquer um de seus níveis, surge a figura do outro como interlocutor, cuja presença ao longo de uma vida poderá nos dizer o que somos e o que queremos ser, na concordância ou na discordância – sempre de modo justo e civilizado.

É evidente que o suporte familiar é fundamental. Ter em casa quem nos estimule e ensine é um aspecto vital na formação do caráter de todas as pessoas. Mas é na escola, espaço da diversidade e da pluralidade, que contrastamos nossa personalidade, encontramos lacunas em nosso jeito de ser e pensar, percebemos quanto estamos ou não sintonizados com as ideias em produção e circulação. Nesse espaço de convívio e permutas, olhamos para fora e desenvolvemos os traços urgentes da solidariedade. Se déssemos mais valor às escolas, haveria menos gente erguendo placas em que se lê “fome” nos faróis.

Falei em compaixão porque a vejo como antídoto a essas sanhas por apartações. O sofrimento do outro, numa vida em sociedade, deveria ser parte de nossos sofrimentos também. Do mesmo modo, aquilo que se ensina a todos deve ser ensinado a mim também, por uma única razão: dividiremos este mundo, queiramos ou não. A educação escolar exige esse compromisso com a comunidade, hoje tão polarizada exatamente por ausência de um olhar terno, humilde, de semelhante para semelhante.

O desejo por uma educação domiciliar responde a uma misteriosa forma de não querer ser parte do todo, de se sentir distante de uma realidade em que fome, desemprego e indiferença matam. A compaixão – que se aprende nas escolas – diz não a essa visão das coisas.

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