A cada esquina de Londres, uma placa anuncia um “fish and chips”. Seja num pub ou num restaurante mais gourmet, a iguaria figura entre os destaques do cardápio. Curiosamente, a sua composição não é lá aquelas coisas: um filé de peixe empanado e frito, frequentemente muito gorduroso, acompanhado de batatas fritas. Nada demais, porém, tudo de bom. E, tal qual quase tudo na capital inglesa, a invenção da comida típica não é londrina, mas, fruto da imigração de judeus portugueses e espanhóis.



Dizem que, no século XVI, esses imigrantes misturavam o peixe preparado com farinha às batatas. E, pouco a pouco, o prato foi conquistando o paladar inglês. Entretanto, durante as grandes guerras do século passado, a iguaria se transformou no prato emblemático que é hoje. Isso porque, de acordo com relatos históricos, foi um dos únicos itens – talvez o único gastronômico – que não teve sua venda racionada durante os conflitos bélicos. Sustentou os ingleses num período bastante difícil.



Por isso que hoje, ir à Londres (à Inglaterra como um todo) e não experimentar esse prato é quase que um pecado imperdoável. De fato, a iguaria deixou de ser aquela servida em jornais gordurosos em décadas passadas para ganhar os melhores pratos de porcelana. Também é possível encontrar variações, como os servidos em caixinhas de delivery ou take away, além daquelas composições em que os peixes são preparados como se fossem porções de boteco. Não importa o tipo, é possível encontrar pratos que variam de £3 a £5, em regiões mais afastadas do centro de Londres, por exemplo, ou em valores que podem chegar a £15. É só multiplicar por cerca de R$ 6,40 e calcular quanto pode custar um “fish and chips”.



Da última vez que visitei Londres, recentemente, acabei optando por experimentar o prato em Baker Street, após uma visita ao 221B, o endereço fictício mais famoso da literatura inglesa, onde morou o icônico Sherlock Holmes. Próximo dali, em frente ao Madame Tussauds, adentrei ao Baker Street Food Station. Aparentemente, um local pequeno e sem muito movimento. Até descermos as escadas e descobrirmos um mundo subterrâneo repleto de gente. O “fish and ships” estava extremamente bem servido e muito delicioso, acompanhando de alguns itens de salada, como, alface, cenoura ralada e tomate.



Infelizmente não deu tempo, mas, eu até gostaria de poder experimentar outras versões do “fish and chips”. E não acharia nem um pouco de exagero que algum restaurante preparasse o prato por aqui, na Little London. Aliás, até devem fazê-lo, mas, sem batizá-lo como na Big London. Alguns costumes poderiam ser mais compartilhados entre as duas cidades, principalmente gastronômicos. E esse é um deles.