Não me ofereça quentão! Educadamente, vou recusar. Os mais próximos sabem que não tomo vinho doce, ainda mais quente. Então, não tem jeito. Do ponto de vista da cultura e da tradição, o quentão não pode faltar, obviamente. É personagem importante nas mesas das festas juninas que se espalham pelo Brasil nessa época do ano. Mas, originalmente, ao que me parece, o quentão não era preparado com vinho, mas, com cachaça! Por que, então, nosso costume por aqui é toma-lo com vinho?

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. | Foto: iStock

Uns dizem que o quentão surgiu quando, no interior de Minas Gerais e de São Paulo, resolveram acrescentar algumas especiarias à cachaça, para aquecer o corpo no inverno das festividades juninas. Outros contam que o quentão surgiu com o ciclo da cana-de-açúcar no Brasil, desde que os portugueses colonizaram o Brasil, séculos atrás. Não há consenso sobre esses fatos. E o fato é que, hoje, a bebida tipicamente brasileira é fundamental para dar sabor aos festejos que homenageiam os santos católicos Antônio, Pedro e João.

Entre as especiarias adicionadas ao quentão, então gengibre, pimenta, canela, cravo-da-índia. Também já vi colocarem rodelas de limão ou de laranja, cítricos que podem acentuar o sabor da bebida. Aqui na região de Londrina, é imprescindível que se faça o quentão com o vinho Guaravera. Dos mais tradicionais, o garrafão de 5 litros é famoso entre a população e um dos mais vendidos e procurados nas prateleiras dos supermercados. Os ingredientes se completam com açúcar e água. E a mistura está pronta.

Mas, por que o vinho? Essa cultura é uma herança do Sul do Brasil. A imigração italiana no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná trouxe, consigo, o hábito de se tomar vinho. Muito vinho! Tanto que os gaúchos têm tradição, inclusive, na produção da bebida. E, assim, não haveria outra maneira de se fazer o quentão senão com o vinho produzido no Sul, que faz parte da cultura gastronômica italiana e está na mesa todos os dias.

Mas, perceba que o quentão é uma iguaria miscigenada, como tudo o que se tem no Brasil, inclusive a origem do chamado povo brasileiro. A cachaça é brasileira. O vinho, italiano. As especiarias, asiáticas. E a mistura está feita, tornando o quentão uma bebida democrática e acessível a todos. Agora, sabendo que a matéria-prima do quentão é a cachaça, talvez eu comece a pensar na possibilidade de degusta-lo. Ainda mais se for uma cachaça de boa qualidade, de alta procedência, vinda de Minas Gerais ou das destilarias daqui da região Norte do Paraná. Que tal experimentarmos também?

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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