Assim que documentos sigilosos relativos à presidência de Abraham Lincoln foram abertos ao público no início do século XX, os historiadores norte-americanos se depararam com uma série de cartas que traziam uma mesma mensagem no rodapé: "Jamais enviada e jamais assinada”.

A análise minuciosa dos registros revelou o motivo. Todas aquelas cartas haviam sido escritas na hora em que Lincoln estava demasiadamente irritado. E, por precaução, ele decidiu encaminhá-las apenas se permanecesse com o mesmo sentimento de fúria dias depois de redigi-las.

Um episódio citado na biografia do próprio Lincoln reforça essa prática. Certa vez, o secretário de guerra Edwin Stanton, reclamou de um dos generais para o presidente. “Eu gostaria de dizer a ele tudo o que penso a seu respeito”. Lincoln recomendou: “Faça exatamente isso. Escreva tudo". Stanton se retirou da sala, registrou suas percepções e leu a carta para o presidente dias depois.

Lincoln falou: “Excelente, Stanton. Agora, o que você vai fazer?" Ele lhe disse: “Enviá-la, é claro." O presidente recomendou: "Eu não enviaria. Jogue-a no cesto de lixo". Atônico, Stanton replicou: “Mas eu levei dois dias para escrevê-la". Encerrando o assunto, Lincoln disse: “Sim, e isso lhe fez muito bem. Você agora se sente melhor. Isso era tudo que a carta precisava fazer. Agora jogue-a no lixo”. E Stanton seguiu o conselho.

O diálogo acima é de 1864, mas o ensinamento continua válido até hoje. Todos nós podemos ficar possessos por algumas coisas que acontecem e é aí que o autocontrole faz uma diferença enorme. Quantas pessoas não se arrependem de um áudio enviado pelo WhatsApp ou de um e-mail malcriado, depois de terem se deixado levar por sentimentos momentâneos de ira?

Antes de encaminhar uma mensagem furiosa para alguém, espere pelo menos 24 horas até dispará-la. Deixe o texto quietinho na caixa de rascunho. Como ensina São Tiago na Bíblia: “Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se” (Tg 1,19).

Depois que a cólera passa, a primeira versão da mensagem costuma seguir direto para a lixeira. As palavras duras e despropositadas são substituídas por uma abordagem ponderada e assertiva ou, pelo menos, um tom mais ameno, que abre brechas para a conciliação.

É claro que isso não é fácil para pessoas de temperamento sanguíneo, que querem resolver tudo na mesma hora. Elas geralmente acabam pagando um preço caro por aqueles cinco minutos de insanidade que, de tempos em tempos, as dominam.

Em contrapartida, também precisamos aprender a esquecer as ofensas de quem não passa por um bom momento. A quarentena forçada tirou muita gente do eixo temporariamente. Até mesmo aqueles que você jamais tinha visto irritados, agora falam rispidamente de vez em quando. Essas pessoas continuam sendo bons seres humanos; apenas vivem uma fase difícil em suas vidas.

* Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial - [email protected]