Primeiro quem, depois o quê
PUBLICAÇÃO
sábado, 24 de julho de 2021
Wellington Moreira
Liderança é, boa parte das vezes, ser capaz de fazer grandes coisas por meio de outras pessoas. Isso explica por que a centralização excessiva e a dificuldade de delegar tarefas são empecilhos para qualquer executivo que almeja se tornar um líder eficaz.
Porém, o problema de líderes que dependem especialmente da sua competência individual para fazer acontecer nem sempre tem a ver com uma personalidade controladora. Em inúmeras empresas, eles só não contam com as "pessoas certas".
O consultor norte-americano Jim Collins explica: "Você é um motorista de ônibus. O ônibus, a sua empresa, está parado, e é seu trabalho decidir para onde ir, como vai chegar lá e quem vai com você. Grandes líderes começam por colocar as pessoas certas no ônibus, as pessoas erradas fora do ônibus, e as pessoas certas nos lugares certos".
Mas, como saber quem é quem? Pessoas certas são aquelas que compartilham dos valores da empresa e entregam resultados. Você precisa cuidar delas com carinho, pois são preciosas. Algumas outras estão a caminho do sucesso, mas ainda não chegaram lá –, como é o caso de quem tem os valores, apesar de resultados pouco expressivos. O seu papel é treiná-las.
Também pode ser que vocês contem com pessoas competentes e que, infelizmente, relutam em seguir os valores da companhia. Esses colaboradores precisam ser engajados logo ou você terá de tomar a difícil decisão de retirá-los do ônibus, pois causam danos à cultura.
Já aqueles que não apresentam bons resultados e nem seguem os valores devem ser demitidos o quanto antes. Aliás, a pergunta é: "O que esses profissionais ainda estão fazendo em sua empresa?" A permanência deles mina qualquer expectativa de uma boa liderança.
Estou convicto de que a regra número um para contratar as pessoas certas é aprendermos a arte de farejá-las. E, para isso, já durante o processo de seleção, a principal dica é: enfatize aos candidatos por que não é fácil trabalhar na sua companhia, em vez de falar apenas sobre como são incríveis.
Se vocês têm um ambiente de trabalho incrível, pessoas talentosas e projetos inovadores, conte tudo. Porém, destaque também a grande pressão por resultados, por que você costuma ser chato, como os principais clientes provocam estresse no time etc. Mostre o lado que as pessoas só costumam enxergar depois de aceitarem a oferta.
Quando o explorador irlandês Ernest Shackleton foi recrutar marinheiros para a Expedição Antártida, em 1914, ele escreveu esse anúncio: "Procura-se homens para uma jornada perigosa. Salário baixo, frio intenso, longos meses de escuridão total, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso."
Cinco mil pessoas se candidataram e ele escolheu 27 homens. Se você conhece a história sabe que a viagem planejada para durar alguns meses levou incríveis dois anos e nove meses. Eles ficaram presos no gelo antártico, enfrentaram temperaturas abaixo de 30 graus negativos em boa parte dos dias, muitas vezes não tinham o que comer, mas todos sobreviveram incrivelmente. Motivo? Antes de mais nada, eles eram as pessoas certas para aquele tipo de desafio.
É por isso que o mesmo Jim Collins nos ensina: primeiro quem, depois o quê. Antes de pensar no tipo de trabalho a ser feito, avalie criteriosamente quem deve entrar no barco, no ônibus ou na sua empresa.
Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial
A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina