A mitologia grega conta a saga de Pigmaleão, um exigente escultor que, decepcionado com as mulheres da sua época, decidiu esculpir em marfim o seu “modelo feminino ideal”. O resultado foi uma belíssima estátua que o artista chamou de Galateia.

Porém, como a escultura era praticamente perfeita, ele se apaixonou por ela e começou a tratá-la como se fosse real, oferecendo-lhe elogios, presentes e afagos. Enternecida com o fato de vê-lo sofrer por não ter seu amor correspondido, a deusa Afrodite então tornou Galateia uma mulher real, com quem Pigmaleão pôde se casar e ter duas filhas.

Esta história serve para reforçar o fenômeno que o sociólogo americano Robert Merton intitulou como Profecia Autorrealizadora e atualmente também conhecemos como Efeito Pigmaleão. A capacidade que o ser humano tem de fazer com que suas crenças se tornem realidade, sejam elas quais forem.

Quando, por exemplo, você contrata um novo colaborador e deposita grandes expectativas sobre o desempenho dele, pode até não se dar conta, mas acaba agindo de uma forma que apoia a sua previsão. A profecia se concretiza não apenas porque ele é um ótimo profissional; você provavelmente deu o tipo de atenção que ele precisava para dar certo. E o contrário também é verdadeiro: se acontecer de rotulá-lo como indolente logo de cara, estará com os olhos atentos apenas àquilo que ele faz de errado.

Portanto, quanto mais expectativas positivas você nutre sobre o desempenho de alguém – e, inclusive, de você mesmo –, maiores são as chances de elas se tornarem realidade. E isso não tem a ver com lei da atração, etc.

O fato é que, de alguma forma, geralmente procuramos comprovar nossas hipóteses. Fazemos de tudo para que elas se materializem. Tanto as positivas quanto aquelas claramente negativas. Resumindo: alcançamos aquilo que recebe a nossa atenção.

Muita gente já me perguntou como identificar o Efeito Pigmaleão na própria vida, logo que o fenômeno acontece. Costumo responder que é só a pessoa prestar atenção nas situações cotidianas em que expressa (ou, pelo menos, fica com vontade de afirmar): “Eu avisei! Eu já disse antes!”

A pergunta-chave, então, é: quando você usa o “Eu já sabia!” ou algo parecido? Nas horas em que as coisas acontecem como sempre sonhou ou apenas para lembrar a terceiros que você já cheirava desgraça há algum tempo? Essa pequena reflexão vai ajudá-lo a identificar os principais efeitos da profecia autorrealizável em sua vida hoje mesmo.

Querer intensamente alguma coisa não é suficiente para que você tenha certeza de que vai alcançá-la. Competência, sorte e contexto também são fatores importantes. Mas a maior parte das coisas que queremos alcançar e a qualidade dos nossos relacionamentos com outras pessoas realmente dependem muito da forma como olhamos para eles desde o início.

Pense nisso!

* Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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