Um dos principais desafios da atualidade para a maior parte dos líderes empresariais é encontrar formas de manterem suas empresas operando durante a quarentena, com tantas restrições de funcionamento e incertezas sobre como será o mundo daqui em diante.

No início da pandemia, o fechamento do comércio por 30 dias seguidos foi uma cena surreal, típica dos episódios distópicos da série Black Mirror. Agora, mais de dois meses depois, já sabemos que o isolamento forçado deve perdurar por mais um bom tempo em grande parte do país. Quanto tempo exatamente, ninguém sabe.

Algumas empresas têm tomado medidas extremas crendo que a pandemia vai longe. O Google e o Facebook, por exemplo, estenderam o trabalho remoto até o ano que vem. E mesmo que a flexibilização aconteça no curto prazo, os colaboradores poderão manter suas atividades home office sem nenhum problema, se preferirem.

Essa crise econômica é muito diferente das outras porque as incertezas do mundo dos negócios vêm do campo médico. Como o professor José Pastore escreveu em artigo recente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, enquanto não houver uma vacina para o tratamento da covid-19, é impensável a retomada dos negócios dentro da normalidade (ou o que, pelo menos, chamávamos de normal até pouco tempo atrás).

Porém, portas cerradas não significam, necessariamente, negócio parado. Frederico Trajano, CEO da rede varejista Magazine Luiza chegou a dizer na semana passada: "Com o caixa atual, aguentamos dois anos de lojas fechadas".

Essa confiança de que a companhia está no caminho certo não é fruto apenas de um caixa saudável para suportar meses e meses de receitas mínimas nas lojas físicas. O e-commerce, que era o segundo motor de crescimento do Magazine Luiza, agora tem sustentado o negócio. Para se ter uma ideia, as vendas totais realizadas em abril e maio cresceram 46% em comparação com o mesmo período de 2019, graças ao sucesso das suas plataformas digitais.

Mas, não pense que isso é fruto da sorte ou de um movimento rápido. Nos últimos anos, a empresa fez altíssimos investimentos para melhorar a presença na web enquanto que seus principais concorrentes preferiram focar estratégias ancoradas nos PDVs.

Em diferentes cidades do país, existe uma grande comoção pelo fechamento de empresas tradicionais, desde o início da pandemia. Só que quase todas elas já passavam por graves problemas financeiros e estavam distantes do mundo digital. Viviam sob cuidados de UTI. É triste dizer, mas o novo coronavírus apenas precipitou o seu fechamento.

Uma lição que a quarentena tem nos ensinado é que existe uma grande probabilidade de que eventos semelhantes ocorram num futuro breve. Por isso, é crucial prepararmos nossas empresas para sobreviverem a novos lockdowns. Continuarem operando se as portas precisarem ser fechadas por dois, três ou seis meses.

Algo que só é possível, repito, sendo uma companhia que prospera com sucesso no mundo digital. Antes, muitas firmas podiam se dar ao luxo de tratar o on-line como acessório, focando quase todas as suas fichas no mundo off-line. Agora elas já não podem mais.

Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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