Estudos realizados pelo cirurgião plástico americano Maxwell Maltz durante a década de 1960 revelaram que o cérebro de pessoas amputadas leva 21 dias para assimilar que seu corpo não possui mais o membro extirpado. É por isso que, durante algum tempo, elas continuam a cumprir alguns gestos corriqueiros, como estender a mão para tocar um objeto, mesmo não contando mais com aquela parte do corpo.

Foi a partir daí que surgiu o chamado Princípio dos 21 Dias no qual estudiosos defendem que se repetirmos um comportamento durante três semanas, ininterruptamente, ele acabará se tornando um hábito. A ideia básica, portanto, é: quando precisar aderir a uma nova conduta, reproduza-a durante 21 dias a fim de que o seu cérebro desaprenda o antigo modus operandi e assimile o novo, concretizando o processo de mudança.

Mais recentemente, a psicóloga britânica Phillippa Lally conduziu um experimento na Universidade College, de Londres, na qual solicitou a 96 alunos que abraçassem um novo hábito diário – como comer uma fruta após o almoço ou praticar 15 minutos de exercícios físicos – e o repetissem durante doze semanas. Os resultados publicados na European Journal of Social Psychology revelam que a linha de automaticidade alcançou uma constante após 66 dias. As atividades que antes eram estranhas passaram a ser naturais para os voluntários.

Portanto, a palavra-chave é consistência. Se você quer testemunhar transformações rápidas e fundamentadas apenas em euforia prepare-se para o fracasso, afinal a empolgação é um combustível de baixa octanagem e consumo rápido. As grandes mudanças que operamos na vida ocorrem sem alarde e são construídas por meio da melhoria contínua dia após dia.

Lembre-se das crianças de dez anos. Quando alguma delas começa a estudar um instrumento como o violão, mal consegue apoiá-lo em seus braços, no entanto seis meses depois já se sente confortável para tocar as primeiras canções e em dois anos algumas evoluem a olhos vistos. Em contrapartida, é comum que o adulto que iniciou as aulas ao lado dela desista após três meses movido pelo sentimento do “não nasci para isso”.

Da mesma forma que os animais são orientados por seus instintos, somos dirigidos pelos nossos hábitos. Isso explica a dificuldade para realizar até mesmo pequenas transformações, como utilizar o relógio no outro pulso. Porém, é possível facilitar as coisas com a repetição diária da conduta desejada e ao correlacioná-la a uma meta clara e significante.

Algum tempo atrás, um amigo largou o cigarro após tragá-lo durante três décadas e, segundo ele, uma frase do seu médico foi decisiva: “Ou você para de fumar agora ou morrerá em dois anos”. Creio não haveria argumento mais sensível para quem tem filhos pequenos.

*Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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