Uma das frases mais repetidas pelas pessoas é: “Eu não tenho tempo!” Mas, será que não elas não têm mesmo? Muita gente costuma fazer uso dessa expressão geralmente quando está diante de tarefas ou atividades que não quer executar. A alegada falta de tempo, portanto, é uma desculpa. O correto seria apenas dizerem "Eu não quero..."

Na Antiguidade, os gregos também já estavam atentos ao fator-tempo, que segundo eles, era orientado pelos deuses mitológicos Cronos e Kairós. Figuras que até hoje proporcionam uma importante reflexão sobre esse assunto.

O poeta grego Hesíodo, que viveu no século VIII a.C., conta que, para governar o mundo, Cronos castrou o seu próprio pai e matou cinco dos seis filhos logo que nasceram (somente Zeus sobreviveu, salvo pela mãe). Motivo? O medo de ser destronado por algum de seus familiares.

Portanto, Cronos é o deus que deseja conservar a ordem vigente pelo temor de perder poder. A representação do tempo mensurável, que corre dia após dia, e nos convence a utilizamos relógios, agendas e inúmeros outros instrumentos de controle das horas.

É claro que o homem necessita orientar produtivamente seu tempo, afinal de contas organização é algo primordial para qualquer tipo de empreendimento humano. O problema é pautarmos nossa vida no fator Cronos.

Cada vez mais pessoas têm se tornado escravas das inúmeras metas exigentes que estabelecem para si ou suas organizações. E a consequência é que estão sempre esbaforidas, atrasadas e estressadas.

Por sua vez, Kairós, filho de Zeus e neto de Cronos, foi um semideus que jamais teve por objetivo dominar o mundo. Ou seja, não se preocupou em ocupar o lugar do seu pai. Retratado como adolescente nos quadros e pinturas, espelha o vigor e a ousadia do jovem que decide e age impulsivamente.

A percepção do tempo sob a dimensão Kairós revela possibilidades que só podem – e devem – ser aproveitadas no momento presente (carpe diem, para os romanos). Como ocorre quando você aprecia uma sobremesa deliciosa, olha para uma bela paisagem, escuta o barulho da chuva ou celebra uma conquista pessoal com atenção plena.

Dessa forma, o Kairós trata do viver qualitativo do tempo que possibilita a visualização de oportunidades. Diferentemente do Cronos, que exalta o aspecto quantitativo presente nele.

A grande dificuldade do homem moderno não é administrar o tempo e sim as prioridades que estabelece para si, afinal o relógio não para, mesmo que você tenha todo o dinheiro do mundo. Quem se deixa seduzir por inúmeras e atraentes demandas ao mesmo tempo é dominado por Chronos. E quem vive como se não houvesse amanhã é amante de Kairós. Mas a plenitude só é alcançada por quem equilibra essas duas faces do tempo. Pense nisso!

Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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