Em muitas empresas, os problemas não são resolvidos porque as pessoas costumam evitar conversas difíceis. Querem que as coisas se resolvam sem precisarem se indispor com as outras.

A consequência disso é que boa parte dos profissionais não sabe receber um feedback duro do chefe, por exemplo. Executivos europeus que vêm trabalhar por aqui já me disseram inúmeras vezes que não compreendem porque o trabalhador brasileiro se sente tão afetado quando alguém diz que seu desempenho não está bom. E o que geralmente digo a eles é que temos dificuldade de aceitar que os apontamentos críticos acerca do trabalho não significam um gesto de desmerecimento da pessoa.

Infelizmente, a imensa maioria das empresas ainda não enxerga que conversas difíceis são importantes e, tampouco, treina seus colaboradores para saberem como se comportar nessas horas. A consequência disso é que quase todo mundo diz que gostaria de trabalhar em empresas transparentes, mas não sobreviveria mais do que algumas semanas numa delas.

Há alguns meses vi isso de perto. Fui desenvolver um projeto no modelo de companhia na qual conversas difíceis são comuns. Lá trabalhavam 300 colaboradores munidos de todos os privilégios que você poderia imaginar, mas a rotatividade era muito alta assim mesmo. E o que vi: pouca gente tinha estômago para lidar com a honestidade brutal que lá imperava. Ninguém escondia os problemas debaixo do tapete, ainda que o causador fosse o CEO.

Um local onde as pessoas realmente são estimuladas a não ficarem fazendo média umas com as outras não é para todo mundo. Mas isso também não quer dizer que os profissionais dessas companhias são desrespeitosos ou mal-educados. Eles são sim implacáveis com os problemas, mesmo que o desempenho ou a competência de alguém seja colocado em cheque.

Imagine que você esteja apresentando um projeto para várias pessoas da sua empresa e alguém lhe diga, depois de quinze minutos de fala: “Esse seu trabalho ficou uma droga!” Como você reagiria? Em ambientes nos quais conversas difíceis são estimuladas há muito tempo, as pessoas sabem que o comentário, ainda que duro, indica que você pode – e deve – melhorar a performance logo. Elas não se condoem tão facilmente.

Portanto, uma cultura de honestidade brutal não é aquela em que você encurrala os funcionários e depois despeja impropérios sobre eles. Também não é o tipo de empresa tóxica na qual todo mundo fala o que quer. É, sim, um lugar no qual todos buscam a excelência e estão dispostos a deixar os melindres de lado para progredir.

Um bom ambiente de trabalho não é aquele onde as pessoas são fofas o tempo inteiro. É aquele no qual todos se sentem encorajados a tratar os problemas com maturidade e respeito, mesmo que o ambiente fique pesado durante algumas horas. É assim que as melhores empresas para trabalhar crescem e seus colaboradores amadurecem.

* Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial - [email protected]