Segundo a mitologia grega, Procusto era um bandido que costumava abrigar viajantes em um dos quartos da cabana onde morava, com o intuito de torturá-los. O engodo geralmente era o mesmo: ele pedia que o hóspede se deitasse na cama de ferro que tinha o tamanho exato de Procusto e, assim que a pessoa pegava no sono, prendia o visitante.

Na sequência, quem possuía maior estatura do que ele tinha as pernas amputadas para caber deitado no móvel, enquanto que os baixinhos eram submetidos a uma geringonça chamada "esticador", que alongava as pernas do viajante até que seu corpo alcançasse a extensão total da cama.

Esquecendo o lado sombrio da história, essa figura mitológica geralmente é lembrada no mundo empresarial quando o tema sucessão vem à tona. Por quê? A Síndrome de Procusto é justamente o fato de querermos que aquele que vem depois se encaixe perfeitamente no papel que desempenhamos até então. Nem mais nem menos.

Muitos gestores fazem isso. Trabalham para que o sucessor seja igualzinho a ele, quase como um clone. Garimpam “cópias” que pensem, falem e ajam de acordo com o tipo de liderança que exercem. E esse é um dos motivos pelos quais tem gente que escolhe como sucessor justamente aquele liderado que se comporta como o fiel escudeiro, apesar de a pessoa não ter perfil algum para gestão.

É claro que o trabalho que você faz hoje em dia pode ser realmente incrível e a preocupação que o move ser, tão somente, perpetuar o que vem dando certo. Mas, se você deixar que a Síndrome de Procusto se instale na passagem do bastão, é quase certo que o sucessor naufragará porque o objetivo real acabará sendo o insucesso dele.

Procusto representa, portanto, a intolerância humana em reconhecer as virtudes e as limitações que outras pessoas carregam. A necessidade de impor um padrão às pessoas a qualquer custo.

Todo líder tem duas missões: uma de curto prazo que é alcançar as metas que cabem a ele e à sua equipe; e a outra, de longo prazo, é formar sucessores que dar continuidade ao trabalho quando ele não estiver mais por perto. E é aí que reside o problema.

Esta segunda missão é angustiante para muitos líderes, principalmente quando não lhes oferecemos um novo papel que os motive ou, então, estão próximos da aposentadoria. Lembre-se: temos de cuidar do sucessor sim, mas sem esquecer de quem vai entregar o bastão.

No caso específico da pessoa que logo vai encerrar a sua jornada de carreira, a saída de cena da companhia às vezes também representa um marco de finitude da vida. Um sinal de que não lhe resta muito tempo... E nem todas as pessoas estão preparadas para lidar com este tipo de sentimento.

É por essas e outras que a Síndrome de Procusto fisga até mesmo pessoas repletas de virtudes. Cuidado com ela.

* Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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