"Jean-Luc Godard e Woody Allen se encontram para discutir o futuro da arte." Essa foi a última frase de um sonho que tive esta semana. Acreditem, era aquele finalzinho de sono, já de manhã, e a frase foi o desfecho, acordei em seguida.

Se eu fizesse análise isso daria muito samba, muito pano pra manga. Na falta disso, fiquei refletindo sobre a causa de um fim de sonho tão instigante. Godard, um dos meus cineastas preferidos, faleceu há pouco tempo. Woody Allen, octogenário, continua aqui e também está entre meus favoritos.

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Penso na ideia de Luís de Gôngora, depois disseminada por outros autores, que compara o sonho a uma narrativa literária no soneto "Varia imaginación": "O sonho, autor de representações/ em seu teatro sobre o vento armado/ sombras soem vestir de vulto belo".

Nem todos concordam em considerar o sonho uma narrativa literária. Mas que imaginamos, vivenciamos, revivemos e experimentamos emoções durante o sono, não resta dúvida. Nem tudo com começo, meio e fim. Na maioria das vezes é uma obra aberta.

Claro que a gente precisa discutir a arte e o cinema. Mas por que dois gênios estariam tão preocupados com essa questão? O futuro do cinema está garantido, na minha opinião, não só nas salas escuras, mas no streaming, sem o qual não vivemos mais. Mas ainda tenho grande prazer em pegar aquela fila da bilheteria, escolher minha poltrona, pagar o ingresso, entrar no cinema aguardando o apagar das luzes para, na sequência, quase sempre me incomodar com os ruídos de quem come pipoca sem parar - e como comem - ou manuseia garrafas d'água fazendo crac crac bem na hora de maior suspense no filme. Sinceramente? Tenho vontade de gritar quando isso acontece, mas me contenho e dou uns toques na poltrona de quem está à minha frente ou olho para trás fuzilando com o olhar quem fez o barulho. Essa turma bem que poderia fazer um piquenique aos domingos.

Até por isso, prefiro cinemas durante a semana, aos sábados e domingos é irritação na certa. Tem gente que jamais apreciaria um diálogo sobre o futuro da arte. Querem mais é pular na poltrona e até os entendo, com aquela energia jovem de quem tem formigas no ....bem, deixa pra lá. Nunca morri por encarar ruídos no cinema. No máximo, fico muito incomodada, mas também não posso querer moldar o mundo aos meus desejos. Até gostaria, no sentido de haver um código de respeito coletivo. Mas não há muita esperança entre os que encaram a sala de cinema como local para bater os pés, conversar sem parar, consultar o celular ofuscando quem está na poltrona de trás ou ao lado sujeito àquela luz impertinente . A regra que impera no país é a dos "incomodados que se mudem".

Mas voltemos aos sonhos. Sonho com um país onde se discuta o futuro da arte, em que o cinema continue a brilhar . Sonho com um país em que os jovens tenham o comprometimento de assistir e fazer bons filmes, sonho com bons enredos. E, sobretudo, sonho que, neste domingo de eleições, a gente vote pensando em sonhar com um futuro bom e criativo, onde caiba a educação para o cinema, para a literatura, para os livros e para uma vida em grupo repleta de gentilezas. Enfim, eu sonho mesmo é com um final feliz!

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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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