Não é a primeira vez que a imprensa brasileira enfrenta uma calamidade pública. Nesses momentos extremos os profissionais são tomados pelo dever do ofício, com um senso de responsabilidade que se iguala ao de profissionais da "linha de frente", como os da área de saúde. No caso dos jornalistas, não se trata de acompanhar doentes em seus leitos, mas de alertar os sãos para que não caiam doentes. Os jornalistas tomam a função de informar a população como missão. E aí não existem feriados, fins de semana prolongados, nenhuma obrigação que se equipare a de manter os leitores informados não só de notícias, mas das últimas notícias.

Mesmo em home office, acompanho o empenho de uma redação que faz da notícia um combustível, numa cadência de dar inveja a uma competente bateria de escola de samba. Estou falando aqui de afinação, desde os que tocam o bumbo - alertando para a pauta mais recente - até quem toca o reco-reco para deixar a batucada afinada até o fim, com a notícia apurada, redigida, editada e, enfim, lida, por aqueles que estão na outra ponta do nosso ofício: os leitores, a quem são dedicados os alertas e conquistas.

Nesta temporada de coronavírus, com seus enfoques trágicos de vítimas e mortes – e também de esperança para que se vença, por todos os meios, a epidemia - acompanho várias gerações de jornalistas, entregues ao trabalho com uma dedicação que engloba a tristeza de saber de alguns fatos e a dedicação de informá-los à população no menor tempo possível para que se evitem mais perdas.

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. | Foto: Marco Jacobsen

Leio que durante a gripe espanhola, no início do sédulo 20, toda redação do Estadão caiu de cama. A começar pelo dono do jornal, Julio Mesquita, passando pelo chefe de redação, Nestor Rangel Pestana, e pelo time de repórteres subitamente tirados de campo no meio de um jogo duro. Na ocasião, outros profissionais que visitavam com frequência a redação, chamados “sapos”, assumiram o lugar dos jornalistas combalidos pela doença. Os “sapos” não eram contratados, mas amigos e palpiteiros que todo dia iam ao jornal bater papo, trazer e levar notícias. Dentre eles, estava Monteiro Lobato, um dos “sapos” que batiam ponto no Estadão pelo simples prazer de estar entre os colegas.

Hoje temos a tecnologia que nos permite fazer de casa nosso trabalho. Há dias estou confinada à minha sala de estar, em contato direto com a redação através do WhatsApp e outras ferramentas. Estou na FOLHA sem estar de fato. Privada de algumas particularidades como a de ouvir a gargalhada de Lucília Okamura, editora do caderno Cidades, acompanhar a pressa da jovem editora do online Fernanda Circhia, escutar a Adriana De Cunto, chefe de redação, repetir o seu bordão feminino: “Ai,meus sais”, em momentos críticos, quando é tudo ou nada. Ou seja, ou resolvemos os problemas para pôr a edição em pé ou sairemos todos frustrados do expediente, em casa ou no jornal.

Temos feito muitos gols apesar da situação crítica. Nosso campeonato se equipara a um jogo tenso que coloca de um lado um time de profissionais imbuídos da mais profunda responsabilidade, de outro uma doença com seus contornos dramáticos que tentamos, a todo custo, impedir de ganhar o jogo. Nossa arma é a informação, tendo por árbitros os leitores que todo dia dão sinal de como nosso time está se saindo.

Os resultados de nosso trabalho podem ser acompanhados nos sites Folha de Londrina e Bonde. Tem sido milhares de acessos, na verdade, batemos desta vez a casa do “milhão”. Em março, cerca de 2,5 milhões de leitores acessaram o site Folha de Londrina. O Bonde, pasmem, chegou a mais de 19 milhões de acessos, site mais antigo da casa, ele tem leitores fiéis à sua linha editorial mais popular.

Esses números comprovam que uma equipe com bateria afinada, do surdo ao reco-reco, faz enorme diferença no ataque a um vírus fatal. Nossas partidas são sérias e exigem concentração, uma questão de vida ou morte que depende da notícia dando o norte à população.