No Dia das Mães, em meio ao movimento de centenas de pessoas comprando presentes e flores, vi uma cena comovente: numa esquina da avenida JK, aqui mesmo em Londrina, uma pessoa abraçava e amparava carinhosamente uma idosa. Suponho que fossem mãe e filha, só podiam ser, se não fosse a filha de corpo, era certamente uma filha de alma.

Os idosos e as crianças sempre me emocionam, a sua fragilidade diante dos perigos do trânsito e dos perigos do mundo me dão vontade de acudi-los, por isso, a cena de uma filha abraçando a mãe numa esquina chamou minha atenção como a primeira mensagem naquele dia especial: o abraço, muitas vezes, é o melhor presente do mundo. E ali, havia mais que um abraço, havia uma coisa de Pietà invertida, com a filha amparando a mãe e quase a segurando no colo por sua fragilidade, deficiências, carências, sofrimento de quem não pode mais sair sozinha às ruas.

Havia ali alguma coisa dos retratos das Madonnas, das telas de mãe e filhos, da "Jovem Mãe" de Renoir, da "Mãe com Crianças e Laranjas", de Pablo Picasso, tudo com papéis invertidos, como se o tempo me contasse que as coisas mudam, que a mãe de hoje será a filha de amanhã, porque a fragilidade se encontra nas duas pontas da vida: na infância e na velhice.

Enquanto percorria prateleiras em busca de flores para o meu Dia das Mães - porque também me dou presentes - aquela cena não me saia da cabeça. Ainda me lembrei do poema "Para Sempre" de Carlos Drummond de Andrade: "Fosse eu Rei do Mundo,/

baixava uma lei: /Mãe não morre nunca,/ mãe ficará sempre/ junto de seu filho/ e ele, velho embora,/ será pequenino/

feito grão de milho."

Ou Alice Ruiz: "Depois que um corpo/ comporta outro corpo/ nenhum coração/ suporta/ o pouco

Havia ainda espaço para lembrar de filmes como "Extraordinário", com Julia Roberts no papel da mãe de um filho com uma deformação congênita; "Para Sempre Alice", com Julianne Moore como uma mãe que se aproxima da filha caçula enquanto o Alzheimer avança e o marido se afasta; ou a comédia "Minha Mãe é uma Peça", com Paulo Gustavo interpretando Dona Hermínia. Impagável!

Fiquei ali entre ser mãe e ter a mãe, que já se foi, emocionada por uma cena, com trilha-sonora e tudo: poderia ser "Mother", de John Lennon, ou "Minha Mãezinha Querida", de Carlos Galhardo, sem medo de ser piegas e ser feliz.

Os retratos do cotidiano me comovem, é na vida real, entre os escombros da existência, que acontecem os milagres da sensibilidade para quem leva o coração às ruas.

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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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