O sentimento dos animais me emocionam. Observo quando pedem carinho, um simples afago, que não tem nada a ver só com interesse por comida. Não vou dizer que o gato não se enrosque quando estou cortando bifes ou que a gata está desinteressada quando pula na cama, ronronando até que eu estique a coberta para formar um labirinto quentinho.

Tenho um gato que dispensa um despertador. Em torno das 6h30, começa a miar e se o chamado não surtir efeito, remexe o edredon, toca meu rosto com a pata, dá "beijinhos" no meu nariz até que lhe dê atenção, como um sedutor ou um chantagista.

LEIA MAIS:

Astrônomos descobrem um planeta água

Convivendo com eles, conheço seus hábitos, como subir a escada na hora da limpeza, equilibrando-se como circenses com seus dorsos curvos e as caudas sempre para cima. Esses rituais os tornam parte da família, dividindo comigo e meu filho seus pequenos hábitos. Uma rotina que inclui bem mais que água e ração, interferindo no cotidiano como criaturinhas que preenchem a casa, tornando a vida mais poética do que se não existissem gatos.

Para eles fiz alguns poemas. E farei outros. Mas, para além de toda a intimidade, os gatos sempre serão enigmas, como outros tão necessários.

Imagem ilustrativa da imagem A poesia dos gatos e outras cirandas
| Foto: Marco Jacobsen

CIRANDA

Todo gato é um enigma

Todo olhar é um oceano

Toda traça come letra

Toda letra entorta ou plana

...

Todo céu tem um cometa

Todo mar tem um navio

Todo rio tem uma curva

Toda curva um desvario

...

Toda noite tem estrela

Todo sol tem meio-dia

Todo corpo tem a pele

Toda fêmea tem um cio

...

Toda mente tem lembrança

Todo beijo língua e gosto

Toda veia tem um pulso

Toda água tem um poço