A poesia dos gatos e outras cirandas
Tenho um gato que dispensa um despertador, em torno das 6h30, ele começa a miar e a puxar meu edredon
PUBLICAÇÃO
sábado, 10 de setembro de 2022
Tenho um gato que dispensa um despertador, em torno das 6h30, ele começa a miar e a puxar meu edredon
Celia Musilli - Editora
O sentimento dos animais me emocionam. Observo quando pedem carinho, um simples afago, que não tem nada a ver só com interesse por comida. Não vou dizer que o gato não se enrosque quando estou cortando bifes ou que a gata está desinteressada quando pula na cama, ronronando até que eu estique a coberta para formar um labirinto quentinho.
Tenho um gato que dispensa um despertador. Em torno das 6h30, começa a miar e se o chamado não surtir efeito, remexe o edredon, toca meu rosto com a pata, dá "beijinhos" no meu nariz até que lhe dê atenção, como um sedutor ou um chantagista.
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Convivendo com eles, conheço seus hábitos, como subir a escada na hora da limpeza, equilibrando-se como circenses com seus dorsos curvos e as caudas sempre para cima. Esses rituais os tornam parte da família, dividindo comigo e meu filho seus pequenos hábitos. Uma rotina que inclui bem mais que água e ração, interferindo no cotidiano como criaturinhas que preenchem a casa, tornando a vida mais poética do que se não existissem gatos.
Para eles fiz alguns poemas. E farei outros. Mas, para além de toda a intimidade, os gatos sempre serão enigmas, como outros tão necessários.
CIRANDA
Todo gato é um enigma
Todo olhar é um oceano
Toda traça come letra
Toda letra entorta ou plana
...
Todo céu tem um cometa
Todo mar tem um navio
Todo rio tem uma curva
Toda curva um desvario
...
Toda noite tem estrela
Todo sol tem meio-dia
Todo corpo tem a pele
Toda fêmea tem um cio
...
Toda mente tem lembrança
Todo beijo língua e gosto
Toda veia tem um pulso
Toda água tem um poço