Todas as gerações esperaram por isso, meus avós esperaram, meus tios esperaram, eu esperei. Finalmente, os cientistas anunciaram esta semana a descoberta do TOI-1452 b, nome pelo qual os astrônomos chamam aquilo que pode ser descrito como "planeta água", como na música de Guilherme Arantes que também esperou, embora tenha composto a música para a Terra.

Até esta descoberta houve muitas frustrações: fomos até a Lua e só encontramos rochas e desertos. Nem mesmo São Jorge, espetando o dragão, estava lá para nos dar boas-vindas, embora ele nos proteja das maldades aqui mesmo. Salve, Jorge!

Já as missões para Marte começaram nos anos 1960 e foi uma decepção atrás da outra: a primeira foi a Marsnik 1, lançada pela antiga União Soviética, e deu em nada. Em 1969 foi a vez dos EUA lançarem a Mariner 6, que chegou mais perto, fez fotos de Fobos, um dos satélites de Marte, e dizem que ainda está em órbita solar.

A Marte 2 , lançada também pela União Soviética em 1971, teve algum sucesso: seu orbitador transmitiu dados sobre a atmosfera, superfície e temperatura, até espatifar-se no solo durante o pouso , mas foi o primeiro objeto feito pelo homem a tocar em Marte.

Mamma,mia! Fico pensando em quanta engenharia e invenção já foram destinadas para conhecer outros planetas em busca de um lugar que nos dê alguma esperança se a gente continuar se descuidando da Terra, onde florestas, rios e mares são atacados por uma destruição sem fim.

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. | Foto: Marco Jacobsen

A última missão americana para Marte aconteceu em 2018, a InSight, e consta que a sonda aterrissou em solo marciano antes que os Emirados Árabes lançassem a Hope, o projeto mais sofisticado de chegar ao planeta sem precisar tocá-lo, colocando sobre ele dispositivos que voam. Mas água que é bom: nada! Em Marte , só um triste lago subglacial a 1,5 km da calota polar sul dos marcianos, se é que existem, foi observado..

Mas agora chega a boa notícia para nos livrar do medo de encontrar só desertos: o exoplaneta recém-descoberto, a 100 anos-luz , orbita num sistema perto da constelação de Draco - olha que estou tentando simplificar - e está repleto de água. A equipe de astrônomos que fez a descoberta conta com um brasileiro: José-Dias do Nascimento, da UFRG - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - que aproveitou a chance para passar de novo a mensagem mais importante deste século e de outros: "Descobertas como essas representam um importante passo no entendimento da diversidade cósmica e ensinam o quão raro podem ser os parâmetros vitais encontrados aqui na Terra.”

Isso significa que nossa querida Terra conta com um sistema que não costuma dar sopa por aí. É uma raridade de solos, água, matas, atmosfera. E se pusermos tudo a perder - como estamos fazendo - podem providenciar um ônibus espacial para os seus descendentes com passagem só de ida.

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. | Foto: Marco Jacobsen

Desde já, deixem entre seus legados uma fotografia do seu fundo de quintal, com goiabeiras e bem-te-vis, como lembrança aos seus descendentes que vão tomar o ônibus espacial sem que você sequer possa acenar para eles enquanto zarpam para o cosmos, quem sabe em direção a este planeta a 100 anos-luz para encontrar água: o líquido que vale mais que o dinheiro de todos os caretas do mundo.