A notícia de que Gabriel Medina deixou de viajar para o Havaí, onde ocorrem as primeiras etapas da temporada 2022 da WSL (World Surf League) a partir deste sábado (29), pegou seus fãs de surpresa. Para uma cara de 28 anos que cresceu para ser campeão, desistir de um torneio para recuperar a saúde física e mental é uma decisão de ouro num mundo cada vez mais competitivo.

A vida de Medina mudou, na última quinta (27) também foi anunciado o fim do seu casamento com Yasmin Brunet poucos dias depois dele anunciar a decisão de não participar das etapas iniciais do WSL com a coragem que muitos campeões não tiveram. Diego Maradona, doente e decadente, perseguiu a fama em momentos em que precisava se tratar. Os exemplos desse tipo são inúmeros, como no caso de Jim Morrison, o vocalista mundialmente famoso do The Doors, que morreu afogado e drogado numa banheira em Paris, e Amy Winehouse que cedeu ao showbusiness até um final infeliz, aos 27 anos.

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. | Foto: Marco Jacobsen

Neste momento, vemos na TV o espetáculo deprimente do BBB22 , um laboratório de Narcisos ou, como disse um amigo, "um canibalismo de egos" no qual os mais fortes vão engolindo os mais fracos enquanto a plateia pede bis. Esta semana, fui ao canal de uma das participantes do BBB conhecer melhor a persona Jade Picon, uma garota de 20 anos que desde os quatro faz vídeos e cultiva a imagem. A menina linda, que diz que sua vida é a moda, é milionária e nem precisaria estar no BBB, mas isso também é um direito de escolha dela. Mas observando o conteúdo de seus canais, suas caras, bocas e bicos, no meu ponto de vista não se justificam os 15 milhões de seguidores no Instagram, essa potência midíatica que faz legiões de fãs baseados em nada.

A palavra seguidores já induz a personalidades que não pensam por si próprias, quem segue não pensa. Uma garota rica e famosa como Jade eventualmente aceita "desafios" dos fãs como ir ao Brás, bairro popular de São Paulo, para fazer compras e criar um "lookinho" com "apenas" 100 reais. Ela foi. Mas fico imaginando uma garota anônima com 100 reais no bolso - ou quem sabe a metade - tomando condução para frequentar a escola à noite depois de passar o dia como balconista no Brás. Ou penso na dona de casa que tem 100 reais exatos ou nem isso para comprar um botijão de gás que custa 120.

O Brasil real não é esse das caras e bocas, nem a pista dourada do BBB em dias de festa quando as desigualdades saltam aos olhos na beleza e comportamento nota 10 de Jade e na inadequação e sentimento de rejeição de Natália. Este tipo de programa é pródigo em afundar o dedo nas feridas e a plateia aplaude os que vão em busca de fama e dinheiro e mais ainda os que já ostentam o dinheiro e a fama.

Neste universo canibalesco é preciso saber apertar o botão do pare! É preciso reconhecer o momento de seguir e o momento de cair fora, sem medo dos que julgam como fraqueza uma desistência corajosa.

Nestes tempos obscuros de brilho falsificado não custa lembrar o "Poema em Linha Reta", de Fernando Pessoa, que reluz como as impressões de um "derrotado" que conseguiu a eternidade.

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo

(...)

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia"

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