Vizinho novo replanta em seu jardim uma palmeira trazida de casa anterior. O replantio é empreitada de que só guindaste dá conta, me lembrando o primeiro transplante de palmeira em Londrina, lá por 1970, na casa da vizinha família Franchelo, na esquina das ruas Pará e Santos. Um caminhão-guindaste levantou a baita palmeira imperial e deitou em longa carroceria, ainda imensamente digna mesmo com todas as palmas amarradas.

Agora, evidenciando evolução, o guindaste tem longo e esticável braço retrátil, operado eletronicamente por controle manual. E, diante da palmeira em seu novo lar, não há como não lembrar de quanto devemos às palmeiras. São uns 200 gêneros e 2.500 espécies de arecáceas, as palmeiras, dando polpa e suco, sementes e óleo, fibras e cera e até vinho para muita gente no mundo, como aqui as palmeiras açaí, dendê, tamarindo e babaçu.

Sua floração se dá por bolsas que se abrem em cachos chovendo sementes, abundância que motivou o Salmo 92.12: “O justo florescerá como palmeira”. Mas é principalmente por seu porte, com tronco cilíndrico e folhação alta, além de não exigirem rega, que as palmeiras se tornaram onipresentes na jardinagem.

No romance O Guarani, de José de Alencar, o herói Ceci numa enchente arranca uma palmeira do solo, cena que li rapazola e de que prontamente duvidei. Mas fiquei com apreço especial pelas palmeiras quando, morando em chácara, vi como chove sementes a alta palmeira macaúva. Nela pousava um gavião, aguardando a passagem de pombas a caçar.

Pablo Neruda, no seu Livro das Perguntas, pergunta porque o tronco da palmeira imperial parece uma garrafa de coca-cola. E será o caso de se perguntar por que uma palmeira originada de Madagascar, em forma de leque, é chamada árvore-do-viajante: porque seu tronco acumula muita água que é extraída e bebida por viajantes.

Na nossa História há uma palmeira ilustre, a Palma Mater, trazida de Portugal por Dom João VI em 1809, como pequena muda que, plantada no Jardim Botânico no Rio de Janeiro, levaria vinte anos para florir mas daí daria as sementes ancestrais de todas as palmeiras imperiais do Brasil - enquanto, ironicamente, o Império Português se desfazia. A Palma Mater entretanto tornou-se símbolo do Império Brasileiro, e Dom Pedro II dava sementes suas a pessoas de apreço. Em 1972, com quase 40 metros de altura, essa mãezona foi destruída por um raio, mas seu tronco está no Museu Botânico.

Na Revolução Paulista de 1932, o Patrimônio Três Bocas, futura Londrina, ficou por três meses isolado, ilha de barro cercada de mata, onde comeu-se palmitos cozidos, assados, fritos e até doce de palmito. E os pracinhas brasileiros na Itália, na Segunda Guerra, com a Canção do Expedicionário, do mesmo poeta Guilherme de Almeida criador da Bandeira de Londrina, cantavam que eram da “terra dos coqueiros” – e, realmente, as palmeiras estão em todo nosso país.

O vizinho plantou então um símbolo do Brasil aqui diante de casa. Aceno para ela, ela acena para mim. Quando der sementes, vou plantar. Torço pelas palmeiras.